A cardiologia preventiva, sempre em evolução, tem buscado identificar nas pessoas que tiveram eventos cardíacos  precoces (abaixo de 55 anos) ou superprecoces (abaixo de 40 anos) o que elas tinham de  fatores de risco, que poderiam contribuir ou facilitar para o surgimento desses eventos.

Os 7 supervilões passiveis de modificação já são nossos conhecidos, e continuam sendo os principais:

  1. Colesterol alto no sangue
  2. Tabagismo
  3. Pressão alta
  4. Diabete
  5. Sedentarismo
  6. Obesidade
  7. Stress

Existem também alguns fatores não modificáveis, como a idade e o histórico familiar. Mas já foi demonstrado que se fizermos uma intervenção caprichada nos 7 supervilões, haverá uma devida compensação e atenuação desses não modificáveis .

Por outro lado, pode acontecer de algumas pessoas terem os tais eventos cardíacos precoces sem nenhum dos fatores de risco já citados acima.

Então a ciência tem procurado analisar de forma aprofundada esses casos, fazendo estudos estatísticos e de observação, tentando identificar “novos “ fatores que poderiam estar associados  ou mesmo terem um nexo causal, predispondo ou mesmo provocando diretamente eventos cardiovasculares agudos. Ressalte-se que alguns dos que vamos citar são mais comprovados, outros por enquanto apenas “suspeitos”, aguardando confirmação. Outro ponto a ressaltar é que nem todos são passiveis de modificação.

Então vamos lá:

A seguir uma lista, que não pretende ser completa, dos mais prováveis “novos suspeitos” de estarem de alguma forma contribuindo ou mesmo de serem a causa principal de um infarto ou equivalente:

Inflamação sistêmica:

  1. Gota: Observou-se que a probabilidade de ter um infarto é maior naqueles que tiveram uma crise de gota recente (até 60 dias).
  2. Doenças inflamatórias crônicas como artrite reumatóide e Lupus eritematoso sistêmico; síndrome de Sjögren; espondiloartrite (artrite da coluna vertebral).
  3. Doença intestinal inflamatória- Doença de Crohn ou colite ulcerativa.
  4. Psoríase. O risco é maior nos com lesões de pele mais severas e nos com artrite psoriásica.
  5. Focos de infecção dentária crônica podem provocar instabilidade de placas de gordura nas artérias, por uma reação inflamatória a princípio local, mas com reflexos sistêmicos.
  6. Infecções virais sistêmicas, como a influenza, podem precipitar quadros coronários agudos, instabilizando placas de gordura que até então estavam estáveis. Daí a importância da vacinação anual. Pode-se afirmar com certeza que a vacina contra gripe previne infartos.

Fatores específicos de mulheres e da infância:

  1. Diabete gestacional
  2. Pré-eclâmpsia; doença hipertensiva da gravidez. Mães que tiveram um parto com pré-eclâmpsia devem fazer uma avaliação cardiológica dez anos depois, ou então na faixa de 30-39 anos, com foco especial na pressão arterial, além dos outros fatores de risco.
  3. Ter tido um filho com baixo peso ao nascimento
  4. Ter tido um filho de parto prematuro.
  5. Menopausa precoce (antes de 40 anos) ocorrendo naturalmente ou cirurgicamente (remoção dos 2 ovários)
  6. Infecção por HPV (papilomavírus humano) em especial em obesas.
  7. Enxaqueca com aura.
  8. Trauma psicológico grave na infância e adolescência:  histórico de maior sobrecarga de adversidade psicossocial na infância
  9. Transgêneros, podendo estar relacionado a angustia e depressão, além de hormonioterapia.

     Fatores ambientais:

  1. Baixo status socioeconômico, limitadas oportunidades de estudo e trabalho
  2. Poluição ambiental: aqui não há dúvidas que causa milhões de mortes cardiovasculares por ano no mundo. Poluentes em geral, e em especial metais tóxicos como chumbo, arsênio e cádmio, que já estão comprovados em aumentar o risco de doenças cardiovasculares.
  3. Plásticos: Isso mesmo. A ingestão de micropartículas ou nanopartículas de plástico aumenta e muito o risco cardiovascular. Ao serem absorvidas e entrarem na circulação, provocarão inflamação nas artérias. Uma recomendação especial é NÃO aquecer alimentos no micro-ondas em recipientes de plástico, pois ao fazê-lo minúsculas partículas desse material serão incorporadas ao alimento e ingeridas. Preferir vasilhames de cerâmica ou vidro.

Hábitos de vida e outros:

  1. Longas horas de trabalho estressante
  2. Transtornos psiquiátricos severos (depressão e ansiedade graves, transtorno bipolar, esquizofrenia e outros).
  3. O uso regular de marijuana aumenta em até 3,8 vezes a ocorrência de DAOP (doença arterial obstrutiva periférica) em especial nas pernas, numa população mais jovem (30 a 40 anos). Também já se demonstrou maior risco de infartos e AVCs.
  4. Uso de drogas como cocaína, que provoca contração dos vasos e maior agregação plaquetária.
  5. Pular o café da manhã! Taí uma moda que muitos usam e apregoam, mas que aumenta os riscos para a saúde não só cardiovascular, mas saúde global.
  6. Consumo prolongado e em quantidades excessivas de refrigerantes tanto os adoçados com açúcar como os adoçados artificialmente.
  7. Doença renal crônica.
  8. Câncer. Um histórico de já ter tido câncer é considerado um fator de risco independente, tão importante quanto diabete, por exemplo. Naqueles que se enquadram neste quesito, os fatores de risco modificáveis devem ser controlados na maior intensidade possível, como uma forma de compensação.

Em resumo:

Muitos desses achados necessitam estudos mais amplos para se avaliar o seu peso real no risco global do paciente.

Alguns já tem um bom embasamento, como poluentes, outros são achados de correlação de dados estatísticos, ou mesmo simulações de computador.

Vários destes são situações de maior estado inflamatório sistêmico, e a inflamação das placas de gordura nas artérias já foi demonstrada como um fator precipitante de infartos.

Outros podem levar a desarranjos metabólicos, inclusive hiperglicemia. Ainda outros podem se relacionar com excesso ou falta de hormônios.

Até que esses “novos vilões” sejam melhor estudados e sua real importância pesada na “balança de risco”, dessa lista aí já podemos fazer alguma coisa. Se for identificado um desses novos fatores e a pessoa já tiver um dos 7 vilões clássicos, ela deve controlar esses últimos da melhor maneira possível.

E fazer outras intervenções saudáveis, como por exemplo fugir ao máximo da poluição, não usar drogas, intercalar horas de trabalho com alguns momentos de relax, diminuir bastante o consumo de refrigerantes em geral e evitar pular o café da manhã .