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Solidão

Veja o vídeo no YouTube: https://youtu.be/FqcU3sUFB5k

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Um importante estudo publicado recentemente indicou que a solidão está associada a um maior risco de demência em idosos. Num prazo de 10 anos de observação (média de idade de 73 anos) o risco de desenvolver demência, ou declínio cognitivo (cognição é a capacidade de memória e aprendizado) foi 50% maior naquelas pessoas que relatavam sofrer de solidão. Como é um sentimento muito pessoal, para que o estudo fosse válido coube às próprias pessoas participantes se auto-definirem  como solitários, tendo como critério mínimo que  essa sensação teria que ser desconfortável e teria que ocorrer pelo menos 3 dias por semana.

Além disso, pode afetar também a saúde geral, como mostrou um outro estudo desta vez envolvendo 60 000  mulheres idosas entre 65 e 99 anos, e que mostrou que aquelas que sofriam com solidão e isolamento social tinham risco 27% maior de desenvolver doença cardiovascular severa. 

Um posicionamento recente da Associação Americana de Cardiologia confirma o maior risco de infartos e derrames, e alerta que atividades de grupo, mesmo ginásticas e fisioterapias, podem ajudar os solitários além do exercício em si, por permitir uma maior socialização. Da mesma forma filiação a uma religião organizada e trabalhos voluntários na comunidade. O risco de isolamento social, que é um estressor, aumenta naturalmente com o envelhecimento, devido a fatores como saída de casa dos filhos, morte do cônjuge e aposentadoria.

Por outro lado, é preciso enfatizar que existem aqueles “ lobos solitários” que preferem estar sós. Mas estes obviamente apesar de solitários não se sentem desconfortáveis com a situação, ou seja não  sofrem com o sentimento  de solidão, já que terá sido uma opção pessoal. Em princípio não se sentiriam infelizes.

Solidão poderia ser definida como um sentimento negativo,  psiquicamente desconfortável, que surge da discrepância entre o desejo genuíno que se tem de estender os  contatos sociais e a realidade. Pessoas idosas e de saúde frágil, com dificuldade de sair de casa são especialmente vulneráveis, em especial na era do Covid-19. Daí acaba se formando um ciclo vicioso, pois depressão pode gerar mais doença e mais depressão. Ou seja, a solidão pode gerar depressão, e o contrário também se verifica.

Nem sempre é preciso interagir com outra pessoa todos os dias e em todos os momentos. Às vezes um contato eventual, nem sempre diário, mas uma interação com qualidade e real interesse é suficiente

Aqui temos que citar Antoine  de Saint-Exupéry, nas palavras do seu personagem O Pequeno Príncipe: “Cada um que passa em nossa vida, passa sozinho, pois cada pessoa é única e nenhuma substitui a outra. Cada um que passa em nossa vida, passa sozinho, mas não vai só nem nos deixa só. Leva um pouco de nós mesmos, e deixa um pouco de si mesmo.” 

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Manobras salvadoras de vidas

Veja o Video no YouTube: https://youtu.be/lTohKDP3hz0

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Vamos comentar sobre duas manobras simples que podem ser feitas por leigos e que fazem toda uma diferença numa situação inesperada e grave.

1)   Engasgo: Você está no ambiente de um restaurante tranquilo, jantando, e de repente uma pessoa na mesa ao lado se engasga. Ela se levanta, leva as mãos à garganta e aparenta não estar conseguindo respirar. Vai ficando aflita e cianótica (com os lábios roxos). Nestes casos algum alimento mais “massudo” , em geral carne ou pão, ao invés de descer pelo caminho natural que é o esôfago e daí pro estômago, desce pelas vias respiratórias, e fica “engastalhado” na laringe, que por sua vez reage e se contrai pra não deixar a coisa passar por aquele caminho errado. Por aqui não! Então fica preso ali!

A reação normal é darmos uns tapas nas costas, mas que podem não ser suficientes. Então teremos que fazer a manobra de Heimlich, que simula uma  tosse forte.

Estando de pé, vamos por trás da pessoa “abraçando-a” na altura da “boca do estômago” , com as mãos juntas e fazemos movimentos bruscos e rápidos, contraindo os braços  (isso mesmo, um abraço de tamanduá, nesta hora tem que ser) com a maior força possível, para tentar expulsar a “rolha” de comida. Veja nos links abaixo, na descrição, vídeos bastante ilustrativos: em um deles  um socorrista do SAMU explicando e em  outro uma gravação real feita por uma câmera de segurança  com o fato acontecendo “ao vivo e em cores”. Neste último foi um adolescente que salvou um amigo. Portanto, todos devemos saber essa manobra! Obtendo êxito, a própria pessoa cospe a “rolha”, ou então ela ou alguém a tira da boca com a mão mesmo, passando os dedos lá dentro.

Em crianças pequenas. o engasgo pode ser com alimento , secreções ou até mesmo um objeto. Segura-se a criança com uma das mãos, de “barriga pra baixo” e inclinando o corpinho ligeiramente pra baixo. E com a outra mão dá-se tapinhas nas costas, conforme o vídeo no link abaixo.

Se por acaso não obtivermos êxito e a pessoa acabar desmaiando, temos que deitá-la com cuidado no chão e se não estiver respirando iniciar RCP (ressuscitação cardiopulmonar) que veremos a seguir .

 2)   Ressuscitação cardio-respiratória (RCP): Aqui um bom exemplo é  ambiente  de uma quadra esportiva, em que algum “atleta” cai subitamente ao chão, e fica lá caído, imóvel ou exibindo movimentos descoordenados como se fosse uma convulsão. Neste cenário, duas pessoas são suficientes, evitar aglomeração ao redor. Verifique se a vítima está inconsciente. Se estiver respirando, apenas folgue suas roupas próximas ao pescoço e  chame por socorro médico. Se não estiver respirando, além de chamar por socorro (alguém liga pro SAMU) inicie imediatamente as manobras de RCP.

No caso da pessoa leiga, sem maiores recursos por perto, o que se tem  a fazer é iniciar  as compressões torácicas (ou massagem cardíaca) , que simulam os batimentos do coração, sem se preocupar com assistência respiratória associada, basta manter as vias aéreas desimpedidas. Ajoelha-se do lado direito da pessoa caída e com as duas mãos abertas, uma por cima da outra, dedos entrelaçados, colocadas na posição de “centro-esquerda” em cima do esterno e do coração, os braços retos, comprime-se o tórax afundando por 5 centímetros de cada vez, a uma frequência de 100 vezes por minuto. Se cansar alterne com a outra pessoa.

Mas peraí! Numa hora dessas como vou contar 100 vezes por minuto? Uma boa dica é o ritmo da música “Staying alive” dos Bee Gees (O nome tem tudo a ver com o momento) Dá exatamente 100 por minuto. Veja no link abaixo a música, pra relembrar e guardar!  Então é mentalizar a música e mãos `a obra, literalmente.

Veja também outro  link abaixo sobre RCP, muito bem feito por bombeiros socorristas; fizeram até um sambinha!

Enquanto faz as compressões obviamente todo mundo já avisou que ali tem uma pessoa sendo submetida a RCP e já chamou o SAMU!

Mas o  SAMU pode demorar muitos minutos . Então, o que pode ser feito? Bem, se estiver disponível o DEA (desfibrilador externo automático), esse é o próximo passo após iniciada a RCP. Dependendo da legislação de cada município, este aparelho deve estar disponível em clubes e outros locais semelhantes onde se pratica esportes competitivos, e também em locais com grande fluxo de pessoas. É ele que tem que ser usado logo que possível após iniciada a RCP e até o  SAMU chegar. Os locais que tem o DEA  costumam ter uma pessoa já previamente treinada para usá-lo. Mas não é difícil, em geral vem com ilustrações e é auto explicativo. Ele reconhece se está havendo uma arritmia cardíaca grave, e caso positivo ele mesmo dá o choque para tentar converter (normalizar) o distúrbio do ritmo. Neste momento desencoste da vítima senão você também vai levar um choque  Após o choque pode acontecer de os batimentos cardíacos retornarem. Mas na dúvida o melhor é continuar  fazendo a massagem cardíaca até a chegada  do SAMU.

Engasto em adultos: SAMU:  https://www.youtube.com/watch?v=gZGfT3oh9lA&list=WL&index=36

Engasgo: Acontecendo na vida real: https://www.youtube.com/watch?v=NWC5WWK7zI0

Engasgo em crianças: SAMU: https://www.youtube.com/watch?v=qPF93cZWqQI

Bombeiros ensinando RCP: https://www.youtube.com/watch?v=q3A7H-21MNg&list=WL&index=35&t=8s

Bee Gees “Staying Alive” : https://www.youtube.com/watch?v=fNFzfwLM72c

Instruções de uso do DEA (Desfibrilador Externo Automático):   https://www.youtube.com/watch?v=3ck-3YkWPDU

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Taquicardia e palpitações

Veja o Vídeo no YouTube:https://youtu.be/9v0n9ZI2e_s

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Pode parecer mas não são a mesma coisa.

Até há alguns anos atrás, pra se saber quantas vezes  o nosso coração batia por minuto, só palpando o pulso e contando, ou às vezes medindo no aparelho de pressão eletrônico. Atualmente é cada vez mais fácil saber os batimentos cardíacos, com os oxímetros de dedo e os relógios tipo smartwatches.

Pois bem, com essa informação agora literalmente disponivel na ponta dos dedos, ou na palma da mão, muitos tem ficado preocupados com os números mostrados e o que significam, e às vezes até ligam para o seu médico apavorados.

Por definição, a faixa normal dos batimentos do coração com a pessoa estando em repouso é de um mínimo de 60 e no máximo 99 batimentos por minuto. Se em algum momento estiver em 100 ou mais, chamamos taquicardia. Simples assim. Independente de a pessoa estar ou não sentindo os batimentos.

Quando sentimos o coração batendo chamamos palpitações, independente de ele estar acelerado ou não. Isto porque em geral não sentimos o coração batendo o tempo todo (seria muito incômodo, não?)  Apesar de ele bater sim o tempo todo, desde antes de nascermos (na terceira semana de vida intra-útero já está dando seus primeiros batuques) até o último suspiro de vida. Alguns funcionam ininterruptamente por mais de um século! Que máquina maravilhosa é essa!

Ás vezes sentimos o coração batendo na vida normal (palpitações) em situações comuns no dia a dia como exercícios, emoções, paixões, sustos… Nessas situações geralmente ele está também acelerado, que é a taquicardia.

Quando temos a sensação de falhas nos batimentos do coração, chamamos de palpitação arrítmica. Aí sim vale a pena ir ao cardiologista e fazer um eletrocardiograma (ECG). Nesses casos é comum serem encontradas extrassístoles. Cada batimento normal é uma sístole. Batimentos extras são as extrassístoles, que às vezes podem ter como origem algum problema cardíaco (causas cardíacas) . Mas que na maioria dos casos a causa é algum estímulo externo ao coração (causas extracardíacas) como cigarro, café, bebidas alcoólicas, energéticos e mesmo a ansiedade com liberação de adrenalina em excesso. Se a origem for intrínseca ao coração a causa básica tem que ser diagnosticada e tratada. Se for extrínseca, o melhor a fazer é identificar e eliminar o estímulo ou gatilho, raramente havendo necessidade de medicamentos.

“Meu coração ‘tá pisado.

Metade bate no tempo, metade bate atrasado.”

da música Coração de Vidro, de Darci Rossi e Alexandre

Existe um outro tipo de arritmia que é a aceleração súbita dos batimentos para níveis muito altos (ex.: 170 por minuto em repouso). Nesse caso é melhor ir ao hospital imediatamente, pois certamente algo está errado e é arriscado ficar com o coração acelerado assim por muito tempo.

Especialmente importante entre as arritmias é a fibrilação atrial (FA), em que os átrios param de bater (o normal é se contraírem em sincronia com os ventrículos) e ficam apenas “tremelicando”. Ela tem sido cada vez mais frequente com o envelhecimento da população, pois um dos fatores que favorecem o seu surgimento é a idade avançada. Mas pode surgir em qualquer patologia cardíaca, e também por fatores externos ao coração como excessos alcoólicos. O tratamento está hoje bem estabelecido, desde que a FA seja identificada por um traçado eletrocardiográfico. Isso às vezes é um desafio, pois quando ela ocorre de forma intermitente ou apenas raramente nem sempre se consegue registrar. Mesmo o Holter que registra o ECG por 24 horas às vezes não consegue captá-la se ela ocorre uma vez por semana, ou por mês. Aí temos o recurso mais moderno de alguns smartwatches (ex.: iPhone 6 ou superior) que reconhecem a FA e registram o ECG na hora da arritmia. Esse registro poderá então ser enviado no mesmo momento ao seu médico .  

Uma vez confirmada FA, parte-se para o tratamento, que pode ser uma cardioversão ao ritmo normal imediata, até 48 horas, ou mais tardiamente (medicamentosa ou elétrica). Poderá ser necessário o uso de antiarrítmicos, às vezes anticoagulantes orais e eventualmente ablação dos focos cardíacos com um cateter de radiofrequência. Independente da terapia proposta, é importante segui-la à risca, pois a FA  não tratada  apresenta riscos como piora da função cardíaca e AVCs isquêmicos.

Finalmente um comentário sobre a bradicardia, que por definição são batimentos cardíacos de 59 por minuto pra baixo. Não é necessariamente um problema. Algumas pessoas são bradicárdicas naturalmente, outras devido a alguns remédios como os beta bloqueadores. Também é um achado comum entre atletas, pois com o chamado “efeito treino” o coração fica mais eficiente em cada batida; então  precisa bater menos vezes por minuto para fazer circular a mesma quantidade de sangue. Às vezes vemos maratonistas com 40 por minuto!

Mas em outras situações pode realmente ser um problema, mas só o médico pode distinguir isso, após avaliação clínico/cardiológica. Um dos principais indicadores de que a bradicardia é uma situação normal ou não é definida pelo teste ergométrico. Se os batimentos estão baixos, mas se elevam normalmente com o esforço: OK. Se não se elevam ou sobem pouco: problema a ser investigado.

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Sintomas Cardiológicos pós Covid 19

Veja o vídeo no YouTube: https://youtu.be/rZj8mA7G4Es

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Após uma infecção por Covid 19,  pode haver  aparecimento de sintomas como um cansaço generalizado, palpitações, taquicardia, dor no peito,  pressão alta que não existia antes ou piora de uma hipertensão que vinha sendo bem controlada com remédios, dispneia (falta de ar ou desconforto para respirar)  e dificuldade ao realizar um esforço que antes era fácil de fazer. Exemplo: subir a mesma escada em casa.

Esses sintomas podem surgir precocemente (ex: 2 semanas) a até meses após a infecção e nem sempre tem relação com a severidade do quadro inicial da Covid 19, podendo surgir mesmo após quadros leves a moderados. Caso aconteçam, é importante uma avaliação com um cardiologista. Na maioria das vezes, o curso dos sintomas é autolimitado e desaparece  após algum tempo  sem necessidade de tratamento específico, mas exige que a pessoa fique um pouco mais restrita em atividades que exijam esforço, nesse período de “convalescença” . Mas um ou outro caso pode exigir tratamento, pois pode ser necessária medicação para taquicardia e outras arritmias e até mesmo insuficiência cardíaca, e também o reajuste ou o início de remédios para pressão alta.

Sempre que ocorrem sintomas possivelmente cardiológicos pós Covid 19, há necessidade de uma avaliação mínima com um cardiologista, que incluirá além do exame clínico, um eletrocardiograma, um ecocardiograma e exames laboratoriais de marcadores de necrose do músculo cardíaco. Se algum estiver alterado, prossegue-se com a investigação, que pode incluir ressonância magnética cardíaca, Holter de 24 horas  e outros. Aí  obviamente tratamentos específicos estarão indicados caso a caso.

Mas pode acontecer que, apesar desses sintomas, nenhuma alteração cardíaca seja encontrada nos exames. Então foram propostas 2 categorias:

1. Pós Covid com doença cardiovascular, que como já exposto necessitará do tratamento direcionado para o que for encontrado: infarto, miocardite, insuficiência cardíaca, arritmias e bloqueios ao eletrocardiograma. Descobriu-se que o virus infecta diretamente as artérias do coração, as coronárias. Ele invade as placas de gordura das artérias, se aloja e se multiplica nas células gordurosas que compõe a placa. Aí provoca inflamação e a placa se rompe, levando aos eventos cardiovasculares já citados, como infartos e quetais.

2. Pós Covid com sintomas que sugerem ser de origem cardíaca (cansaço geral, falta de ar, intolerância aos esforço, palpitações) mas sem doença cardiovascular comprovada pelos exames complementares . Foi então  proposto para esses casos o nome de Síndrome pós Covid, ou Covid Longa. Pode ser necessário um período inicial de repouso total após a infecção, em geral de duas semanas, seguido de um reinício das atividades habituais bem lento e progressivo, para tentar retornar ao que se fazia antes, em termos de cuidados pessoais e trabalho. Mas muitos casos não conseguem se restabelecer completamente, e isso ainda é um desafio no tratamento da Covid longa. O que parece claro até agora é que não se deve forçar atividades físicas nessa fase, pois a sensação é de piora. Portanto, evitar exercícios físicos e mesmo qualquer esforço desnecessário, até que se sinta disposto, e quando reiniciar, fazê-lo espaçadamente e de forma gradual .

Não se sabe porque uma infecção viral aguda provocaria sintomas de fadiga crônica, mas especula-se que as citocinas produzidas na inflamação inicial possam de alguma forma afetar a longo prazo o funcionamento das mitocôndrias, que são as “usinas” de energia das células. Outras possibilidades seriam inflamação crônica ou um processo auto-imune. As mulheres costumam ser mais afetadas por esse quadro de fadiga prolongada.

Alguns podem ter hipotensão ortostática, que é a queda da pressão ao ficar de pé, devendo se manter bem hidratados e podendo ser necessária medicação apropriada. A tendência é melhorar com o tempo, mas às vezes é preciso um acompanhamento prolongado. Outra situação que tem sido observada na pós Covid longa é a síndrome POTS (sigla em inglês para síndrome da taquicardia ortostática postural) em que ocorre a elevação dos batimentos cardíacos ao ficar de pé SEM queda de pressão, mas também trazendo muito desconforto como palpitações, mal estar e fraqueza. Em todas essas situações citadas é útil fisioterapia específica que pode ser necessária durante meses.

Uma observação pessoal que pude fazer como cardiologista, é que , por ter atendido todos os dias úteis desde o inicio da pandemia, pude observar uma mudança na gravidade desses sintomas. No início, nos primeiros meses, me eram encaminhados quadros muito graves, com grande limitação e complicações severas, como disfunção cardíaca grave, bloqueios ao eletrocardiograma e evidências de necrose miocárdica. 

Atualmente, os casos que me aparecem são muito mais numerosos, mas a maioria bem mais leves. Pode ser das características de  variantes menos agressivas do vírus que apesar de mais fácil de serem transmitidas, provocariam uma doença mais leve. Ou ( a meu ver o mais provável) consequência dos efeitos da vacinação, que faria com que o quadro da infecção e depois os sintomas cardiológicos fossem atenuados. Talvez ambas as explicações. Mas com certeza todos os casos leves que atendi tinham tomado duas ou três doses da vacina. O que reforça a ideia de que a imunização, se não impede a doença, faz com que ela se manifeste de forma mais branda na população geral.

Portanto, é importante você se manter plenamente vacinado. E casos tenha os sintomas relatados, procure um cardiologista.

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Atividade física e coração. Rebatendo as críticas. O homem, a lebre e a tartaruga.

Veja o vídeo no YouTube https://youtu.be/Uo0WsEAyqTc

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Como defensor  da atividade física moderada e regular como parte de uma vida saudável, volta e meia tenho sido abordado por críticos opositores do exercício e favoráveis ao total sedentarismo com o seguinte argumento:

“ A tartaruga vive muito e não faz exercícios, a lebre tá sempre correndo e vive poucos anos” 

Ora, a informação genética que consta no DNA da tartaruga e da lebre não muda, nunca mudou. E cada uma tem a seguinte mensagem: viva deste ou daquele jeito. Este “estilo de vida” sempre foi o mesmo, e tem sido assim desde há milênios. Talvez uma necessidade  de sobrevivência em parte possa explicar ( por exemplo: a lebre tem que fugir do predador, a tartaruga? basta se encolher dentro do casco.)

Nenhum dos dois casos podem ser comparados ao homem, que apesar de também ter uma carga genética no DNA imutável também há milênios, teve seus hábitos radicalmente mudados na era moderna, há cerca de um século apenas. É claro que o homem não precisa correr como a lebre nem ser lerdo como a tartaruga, mas provavelmente está em algum ponto entre os dois. Ou seja algum grau de atividade física, ou trabalho braçal faz parte do seu “script” genético que determina qual o melhor estilo de vida, e este estilo foi radicalmente mudado de uns 100 anos pra cá, desde a invenção do automóvel e outras máquinas em geral. Ou seja, um estilo de vida de milênios mudou bruscamente em pouco tempo, e o DNA não mudou nada.

“ Com o suor do teu rosto comerás o teu pão”… lembram? (Gênesis 3:19). Desde aquela época e até a revolução industrial. Hoje não precisa mais puxar arado, mas um mínimo de exercício como uma caminhada de 30 a 60 minutos de 3 a 5 vezes por semana preenche essa lacuna, melhora muito a saúde como um todo, e é respaldada por todas as instituições  da área de cardiologia e medicina do esporte. do mundo.

Na época de caçador/coletor, o ser humano tinha que, ou viver correndo atrás do almoço, ou fugir correndo das bestas feras para ele mesmo não se tornar  o almoço. 

Então, houve uma mudança radical nos hábitos de vida dos humanos, apesar do código genético permanecer com a mesma e milenar  mensagem: algum grau de atividade física faz parte da vida.

E não é só em humanos: já repararam alguns cães e gatos de apartamento, tão ou mais obesos que os donos? Estilo de vida sedentário, comendo ração  e mais um monte de guloseimas, etc e tal. A genética deles não foi programada pra isso.

Outro argumento dos anti-exercícios:

“Minha avó tem 90 anos e nunca foi numa academia”

Perguntei: Ok, mas quando era jovem  havia máquina de lavar roupa? Não, era o tanque mesmo, bater e torcer na mão. Frango? Não era o congelado, tinham que ir pro quintal correr atrás do frango, depená-lo, etc. Sacolão não tinha. Era uma hortinha e um pomar cuidados, adubados com esterco e capinados com muito zelo. E ainda o jardim da frente da casa, com suas rosas, flores de cera, manacás, camélias e outras típicas de casas de avós, que regavam e até conversavam com elas. Sem falar que subia a ladeira toda manhã pra ir à missa, e ainda de quebra acompanhava as procissões. Ora, qual é a conclusão óbvia? A sua avó nunca precisou de academia; nós sim!

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Distúrbio do Pânico

Veja o vídeo no YouTube: https://www.youtube.com/watch?v=jur3_eUxYfM

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O distúrbio (ou transtorno, ou síndrome) do pânico será aqui citado, pois é uma condição muito comum, pode simular problemas cardíacos sérios e levar a exames caros e desnecessários, além de visitas frequentes a prontos-socorros.

“O coração fica “afrito”
Bate uma, a outra “fáia”…”
da música Cuitelinho, Folclore popular.

É constituído por crises súbitas de pânico ou pavor, que podem não ter causa aparente (até mesmo durante o sono), ou podem ser precipitadas por situações como estar em um supermercado lotado ou andar de elevador.

A pessoa acometida pode ter, subitamente, alguns ou todos os seguintes sintomas:

  • Palpitações, dores no peito, tontura, náusea;

  • Sufocamento ou dificuldade para respirar;

  • Respiração rápida e profunda (hiperventilação), que frequentemente inicia ou “dispara” as crises;

  • Formigamento nas mãos;

  • Ondas de calor ou calafrios;

  • Sensação de “estar fora” da realidade, ou “sonhando”;

  • Medo de morrer ou de ficar louco;

  • Sensação de morte ou destruição iminente.

O principal grupo acometido é o de adolescentes ou adultos jovens, e é comum

que tenham passado recentemente (ou que estejam passando) por situações estressantes.

O stress intenso ou freqüente torna certas pessoas “sensibilizadas”.

Então, suas “respostas de alarme”(que são os mecanismos físicos e mentais com que se reage a uma ameaça), passam a disparar aos mínimos estímulos, ou mesmo sem estímulo aparente (“alarme falso”).

As crises não duram mais que uns poucos minutos, que parecem uma eternidade para a pessoa acometida. Por mais terríveis que possam parecer, elas vão embora sem deixar sequelas, e sem qualquer ameaça à saúde, além de um tremendo mal estar.

Assim, mesmo com todo o desconforto  e sofrimento envolvidos, não há risco de vida. Mas o paciente pode ficar muito limitado, com medo de dirigir, fazer compras, ir ao trabalho, etc.

O distúrbio do pânico não é “fruto da imaginação”, mas uma condição real,

com sensações psíquicas e físicas intensas, mas perfeitamente tratável.

Apesar da situação incômoda e alarmante, o tratamento é geralmente simples,

com medicamentos e às vezes psicoterapia. Pode haver depressão associada,

que necessitará abordagem específica.

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Reações adversas a medicamentos

 

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Existem as reações adversas, ou efeitos colaterais, e as alergias.

Boa parte das reações adversas a remédios vem da “mistura” ou interação de um novo remédio iniciado com outros já em uso. Por isto, nunca deixe de dizer ao seu médico todos os medicamentos que você toma.

“…ora, sempre e em toda parte se preferem os remédios simples

aos compostos, porque nos simples não se pode errar,

e nos compostos sim…”

Do médico a Sancho Pança.

Em Don Quixote de la Mancha,

de Miguel de Cervantes Saavedra.

Nas bulas costumam constar os efeitos colaterais; se achar que esse é o seu caso, NUNCA suspenda o remédio sem antes falar com seu médico. Se concluírem que é realmente o caso, será feita a substituição. Aproveite a oportunidade e anote o nome em lugar seguro, ou tire uma foto da caixa, para que você apresente a todo médico que for consultar, independente da especialidade, pois a reação pode ser de uma droga específica ou de toda uma classe de medicamentos.

Reações de pele, como vermelhidão, coceira e descamação, que duram dias ou semanas, podem fazer suspeitar de alergia a medicamentos de uso a curto prazo, mas também nos de uso prolongado. O fato de se usar um remédio há anos não impede que um dia surjam reações alérgicas ao mesmo.

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Gota – Ácido Úrico Elevado

Veja o vídeo no YouTube: https://youtu.be/PQhCPXhuttI

 

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Discute-se se o ácido úrico elevado (hiperuricemia), por si só, é um fator de risco em separado, independente de outros fatores de risco para problemas cardíacos. Mas de qualquer modo, é uma condição que merece atenção, por estar frequentemente associada a outros fatores, como hipertensão e obesidade, e também por ser um achado comum naqueles portadores de problemas das coronárias.      Por estes motivos, este assunto merece os comentários que serão feitos a seguir.

Caso você já tenha tido (ou venha a ter) sintomas semelhantes aos aqui descritos, comunique ao seu médico.

Ácido úrico existe normalmente no organismo, sendo produto final do metabolismo de certas substâncias, as purinas. As crises de gota podem ocorrer em pessoas que, por problemas metabólicos, geralmente genéticos ou familiares, ou por algumas condições, incluindo uso de certos medicamentos (ex.: diuréticos), têm o ácido úrico elevado acima da faixa normal. Pessoas predispostas também podem ter crises após excessos alimentares grosseiros (ex.: após uma feijoada), excessos alcoólicos, e por aumento do peso corpóreo. Elevação do ácido úrico também pode permanecer “silenciosa” não provocando qualquer sintoma.

A crise aguda de gota é característica: dor intensa, de início mais ou menos súbito ,“da noite para o dia”, (a crise típica surge de madrugada),  espontânea ou precipitada por trauma local, em uma ou mais articulações (principalmente o “dedão do pé”, cotovelos ou joelhos).

A articulação, ou junta, fica inchada, e a pele no local fica vermelha e quente.

Às vezes uma pequena pancada gerando mais tarde uma grande dor na junta pode ser uma “dica” de crise. Também podem ocorrer cálculos renais e, em alguns casos, insuficiência renal.

Descamações e pequenas bolhas nas mãos e pés, popularmente atribuídas a “ácido úrico”, geralmente são devidas a problemas locais de pele, como desidrose palmo-plantar e dermatoses descamativas, nada tendo a ver com a gota.

Se você tem histórico pessoal de gota:

  • Evite exageros alimentares e mantenha o peso na faixa normal. Uma crise de gota típica costuma ser precipitada após uma churrascada ou uma feijoada.

  • Reduza (se fizer uso), o consumo de bebidas alcoólicas, principalmente fermentadas (vinho e cerveja).

  • Evite miúdos como fígado, moelas, miolos, rins, coração e língua, e certos peixes como arenque, sardinha, enchova, salmão, truta e bacalhau, e também mariscos. Os outros tipos de peixes não citados poderão ser consumidos com moderação.

  • Para evitar precipitação de cristais de urato na urina, com risco de cálculo renal, tome sempre bastante líquidos. Uma sugestão é procurar hidratar-se de modo a manter a urina cor de água ou amarelo-palha.

Se você tem histórico familiar de gota, comunique o fato ao seu médico.

Pode também ser necessário substituir certos medicamentos que possam estar elevando o ácido úrico. Quando ocorrem crises freqüentes de gota, ou mesmo sem as crises, quando o ácido úrico estiver persistentemente nos “dois dígitos”(10 ou acima de 10 mg/dl), são prescritos medicamentos de uso continuado para reduzi-lo para 6 mg/dl ou menos (alopurinol e outros).

Alguns remédios usados em cardiologia podem aumentar o ácido úrico, como já foi dito com relação aos diuréticos. Por outro lado, alguns podem ajudar a baixá-lo.

Isto constitui um “efeito colateral” favorável. São eles a losartana (mas não outras “artanas”) os fibratos usados para baixar os triglicérides, como o fenofibrato, e a atorvastatina (mas não outras “estatinas”).

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Diet x light

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Alimento diet ou dietético é aquele com modificação de um componente específico, como por exemplo alimento adoçado com adoçante, ao invés de açúcar, para diabéticos. Um ou mais componentes são substituídos. Poderá ou não ter menos calorias, dependendo do adoçante utilizado (calórico ou não calórico). Assim, é melhor que um produto adoçado com sorbitol seja consumido pelo diabético magro (pois não contém açúcar), do que pelo que precisa emagrecer (pois este é um adoçante que contém calorias). Um chocolate adoçado com sorbitol terá quase o mesmo valor calórico que um chocolate comum.

Alimento light, é aquele que tem os mesmos componentes do produto normal, mas em menor concentração. É um produto “mais ralo”, e como tal, tem menos calorias, em relação à mesma quantidade do produto não light. É geralmente usado em dietas para emagrecimento. Ex.: maionese light. Mas essa redução no teor calórico pode não ser muito grande, e pode levar a um falso conceito de que pode ser consumido livremente em termos de quantidade. Se um sorvete light tem 35% a menos de calorias, e se uma pessoa ingere 2 bolas, estará ingerindo mais calorias do que uma bola de sorvete comum.

Na prática, os termos diet e light são usados indiscriminadamente e com certa superposição. Já existe legislação brasileira específica, mas até que surjam rótulos com informações mais claras, detalhadas e corretas, deve-se consumir estes produtos com parcimônia, pois dependendo da quantidade, não serão nem diet e nem light.

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Fibras alimentares

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A dieta ocidental perdeu muito do seu teor de fibras com o processo de industrialização de alimentos, com prejuízos evidentes para a saúde. Não há dúvidas de que devemos retornar (tanto adultos quanto crianças acima de 2 anos) aos alimentos com maior teor de fibras (para adultos, um mínimo de 25 gramas de fibras por dia). Os benefícios decorrentes se referem não só à saúde como um todo, mas também à área cardiológica.

Existem dois tipos de fibras alimentares:

  1. Hidrossolúveis: são principalmente a goma e a pectina, presentes em frutas como banana e maçã, e na polpa branca da laranja, e grãos como cevada, aveia, feijão, soja, lentilha e ervilha. Podem ajudar a reduzir o colesterol.

  2. Não-hidrossolúveis: celulose, hemicelulose e lignina, presentes no trigo e arroz integrais, vegetais folhosos, frutas com bagaço e farelo de trigo. Têm pouco ou nenhum efeito sobre o colesterol, mas melhoram o funcionamento intestinal.

Os benefícios de uma dieta rica em fibras incluem:

  • Melhor limpeza dos dentes, devido à mastigação extra requerida;

  • Controle de peso corpóreo, pela sensação de saciedade devido ao maior volume ingerido com menos calorias;

  • Menor incidência de câncer intestinal;

  • Menor incidência de cálculos biliares;

  • Melhora dos níveis sangüíneos de colesterol e triglicérides;

  • Regularização do funcionamento intestinal, facilitando a evacuação e reduzindo a incidência de divertículos e hemorróidas.

A constipação intestinal ou prisão de ventre, leva a um tremendo esforço de evacuação que pode ser indesejável em cardíacos, havendo risco até mesmo de quedas de pressão arterial, alterações no ritmo cardíaco e desmaios.

As fibras hidrossolúveis podem ajudar a reduzir o colesterol. Dentro de certos limites, cada grama de fibra solúvel ingerida reduziria o LDL-colesterol no sangue em 2mg/dl. O mecanismo é complexo, passando pela redução da absorção intestinal do colesterol alimentar e por alterações no metabolismo da flora bacteriana intestinal, que por sua vez produz substâncias que influem na síntese de colesterol pelo fígado.

Além das fontes alimentares citadas, as fibras hidrossolúveis, podem ser suplementadas na alimentação, (caso esta não as forneça em quantidade suficiente) através do farelo de aveia (Quaker Oat Bran® e similares).

Os poucos efeitos colaterais decorrentes da complementação da dieta com fibras são a formação excessiva de gases, e em alguns casos diarréia (que melhoram com a redução da quantidade ingerida, e que podem ser minimizados ao se introduzir as fibras na alimentação de forma lenta e gradual, ao longo de semanas, para que haja tempo de o aparelho digestivo se adaptar às mesmas).