Viagens e mudanças climáticas e ambientais desafiadoras para o paciente cardiológico

Viagens 

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De Avião:

A aviação comercial tem suas aeronaves pressurizadas, de modo que, apesar de subirem  a  10 000 e até 13 000 metros ,  a  pressão do ar na cabine de passageiros é mantida artificialmente como se o avião estivesse numa altitude de 1500 a 2400 metros. Nessa “altura artificial”, há 25% menos oxigênio que ao nível do mar. A maioria dos pacientes cardíacos não têm problemas em respirar o ar com esta concentração. Exceção é feita para aqueles com doenças cardíacas cianóticas (em que a pele fica azulada; geralmente doenças cardíacas congênitas), os com doenças pulmonares graves, como enfisema avançado, ou insuficiência cardíaca grave ou angina grave. Mesmo assim os aviões normalmente têm uma reserva de oxigênio com máscara para ser usada em possíveis emergências, como situações agudas de falta de ar.

Cuidados em viagens de avião:

  • Sair bem cedo em relação ao horário de embarque, pois os aeroportos costumam ter longas distâncias a serem percorridas a pé, o que não deve ser feito na forma de “correria”, por cardíacos. Outro motivo para sair mais cedo é evitar ansiedade com relação a trânsito e horários, igualmente indesejável.
  • Cardíacos idosos e casos mais severos podem (e devem) utilizar cadeiras de rodas, disponíveis em aeroportos, e de uso comum no exterior, mas ainda pouco requisitadas no nosso país.
  • Carregar apenas a bagagem de mão, deixando as malas para familiares ou carregadores. Malas com rodinhas podem ajudar.

Mesmo apenas colocar e retirar malas pesadas dos carrinhos e balcões de aeroportos, para o “check-in”, pode ser um problema para cardíacos.

  • Levar na bagagem de mão a medicação cujos horários coincidirem com o período de voo. É comum os pacientes levarem os remédios, mas lembrarem na hora de tomá-los que estão “na mala grande”, que por sinal está no compartimento de bagagem do avião, e portanto inacessíveis  após despachadas.
  • Em viagens ao exterior, calcular e levar (com alguma folga) os remédios de uso contínuo suficientes para todos os dias. Em muitos países não se compra a maioria dos medicamentos sem receita médica; pode acontecer também que o remédio esteja em falta, ou simplesmente não exista no país. 
  • Quanto às mudanças de fuso horário sugere-se o seguinte: Se a permanência no destino for curta, tipo uma ou 2 semanas e no máximo um mês, o melhor a fazer é manter os mesmos horários que se tomava regularmente como se estivesse no país de origem.  Desta forma não haverá necessidade de readaptar horários ao retornar. Se a permanência for mais longa, maior que um mês, aí vai se “chegando aos poucos” para o horário do local de destino, mas tendo que fazer a readaptação no retorno pra casa.
  • Alguns casos mais graves podem requerer que uma ambulância se posicione ao lado da fuselagem do avião (em aviões de menor porte) para o embarque e desembarque, para evitar grandes percursos. Em aviões maiores, que usam plataformas de embarque, este é feito, como já citado, com o paciente numa cadeira de rodas. Às vezes, pode ser necessária a presença de um médico durante a viagem, ou a utilização de “ambulâncias aéreas”.
  • Há casos (especialmente após uma alta hospitalar), em que a companhia aérea pode requerer um atestado médico, liberando o paciente para a viagem, e até mesmo pedindo-o para assinar um termo de consentimento. Existem 2 formulários básicos: o MEDIF (Medical Information) válido para uso uma única vez, em uma situação médica nova, recente. E o FREMEC (Frequent Traveller´s Medical Clearance) para pessoas com condições crônicas e estáveis, que viajam com certa frequência e podem necessitar de alguma assistência  especial. A validade é de 6 a 12 meses.
  • Pessoas gravemente enfermas deveriam evitar viagens, a menos que estritamente necessário.
  • Casos com boa evolução de infartos e cirurgias de pontes de safena podem em princípio viajar, cerca de 10 a 15 dias após o evento, se liberados pelo médico e tomadas as precauções necessárias.
  • As companhias aéreas já equipam seus aviões com desfibriladores automáticos, que podem ser usados com segurança pelo  pessoal  de bordo, em casos de ataques cardíacos em   pleno voo.
  • Ficar muito tempo assentado, num ambiente de baixa pressão, leva a dificuldades circulatórias e a inchação. Se o voo é prolongado, cardíacos devem andar algumas vezes pelo corredor da aeronave ( andar um pouco a cada duas ou três horas; para isso é melhor escolher um assento no corredor do que na janela) para ativar a circulação nas pernas, e reduzir inchaço e risco de coágulos nas veias (tromboses e flebites). Flexionar  e estender os tornozelos e pés (exercícios de panturrilha) 10 vezes em cada perna também estimula a circulação.  Tomar água em grande quantidade, pois a desidratação aumenta a viscosidade do sangue,
  • Fatores gerais que elevam o risco de trombose venosa e embolia pulmonar tem a ver com a duração do voo (acima de 4 a 6 horas), a posição ou inatividade das pernas,  hipóxia ou baixa de oxigênio  relativa  (correspondendo a uma altitude “simulada” de 1500 a 2400 metros) e desidratação por baixa umidade na cabine ( das bebidas servidas no avião, preferir  sucos e água e evitar bebidas alcoólicas e bebidas tipo cola, café e chá, que induzem diurese). 
  • Fatores individuais incluem idade (>60 anos), uso por mulheres de pílulas anticoncepcionais  e hormônios para a menopausa,  obesidade (IMC > 30 kg/m²), gravidez e pós parto até 3 meses, cirurgias recentes (até 4 semanas) , câncer ativo nos últimos 6 meses ou recente tratamento de câncer, roupas muito apertadas, imobilidade (ex.: perna gessada), varizes,  história pregressa de trombose venosa ou embolia pulmonar e insuficiência cardíaca e outras situações específicas, como trombofilias. Nestes casos pode haver beneficio do uso durante o  voo de meias elásticas  de compressão abaixo do joelho, com uma  pressão de 15 a 30 mmHg no tornozelo .
  • Alguns passageiros de maior risco podem se beneficiar, a critério de seu médico assistente, de anticoagulantes injetáveis aplicados antes do voo, sendo que  mais recentemente também tem sido usados os anticoagulantes orais mais modernos.  Apesar de ainda não haverem estudos específicos destes comprimidos no caso de viagens de avião, tudo indica que serão úteis  ( e já estão sendo utilizados “off-label”) , pois exatamente nos voos mais longos (os internacionais) os passageiros, no prazo recomendado de 2 a 4 horas para tomar a medicação injetável,  já terão que estar a caminho do aeroporto, dificultando a sua aplicação. Tendo o comprimido, o próprio viajante o tomará no aeroporto, 2 horas a 4 horas antes do voo,  o que já  é suficiente para atingir pleno efeito anticoagulante. Mas sempre sob indicação médica. 
  • Aspirina não tem nenhuma utilidade  nessas situações.
  • Sinais e sintomas que podem requerer auxílio médico: Trombose pode ser suspeitada se aparecer dor e inchação súbita em uma das pernas, em especial na panturrilha, às vezes com vermelhidão da pele e calor local. Embolia pulmonar: súbita falta de ar, palpitações, dor no peito e tosse às vezes com sangue. Em qualquer dessas situações  procurar atenção atenção médica imediata.

Viagens por via terrestre

  • De carro: A cada 200 km, ou a cada 3 horas de viagem, fazer uma parada para caminhar um pouco e movimentar as pernas.

Se sozinho no banco de trás, sentar de lado e colocar as pernas sobre o banco, na horizontal.

  • De ônibus: Andar nos locais de parada .
  • De trem: Como no caso do avião, caminhar algumas vezes pelos corredores, para ativar a circulação das pernas.

Viagens a montanhas em grandes altitudes

No nosso país, este geralmente não é um problema. No exterior, locais acima de 2000 a 3000 metros não são raros. A Cidade do México está a 2240 metros, e La Paz, capital da Bolívia, a 3600 metros.

Em viagens a lugares montanhosos acima de 1500 metros, os portadores de angina e insuficiência cardíaca, mesmo compensada, que não estejam habituados a tais altitudes, devem limitar sua atividade física, para reduzir o consumo de oxigênio, e devem evitar sair no frio intenso. Por “habituados” entende-se os moradores destes locais, cujo organismo teve longo período para se aclimatar ao ar rarefeito.

Elevações discretas da PA e da frequência cardíaca são comuns, e acontecem principalmente nos 4 primeiros dias. O período médio de aclimatação é de 2 a 3 semanas, e é o mesmo para sedentários e atletas.

Uma boa hidratação ajuda a minimizar os problemas de se respirar um ar mais frio e seco.

Calor, umidade e Frio

Calor e Umidade

Pacientes cardíacos têm uma tolerância ao calor bem menor que a dos não cardíacos, e podem ter sua situação piorada em ambientes muito quentes (acima de 30 graus) e úmidos (acima de 75 a 80%), inclusive saunas.

Hipertensos em uso de vasodilatadores e diuréticos podem ter uma queda da pressão.

Há um aumento do trabalho cardíaco, aceleração dos batimentos e uma dilatação acentuada dos vasos, além de perda de líquidos e potássio com o suor.

Exercício e uso de bebidas alcoólicas acentuam ainda mais estas alterações. Mesmo pessoas não cardíacas podem ter respostas exageradas ao calor, se fizerem exercício vigoroso em ambientes muito quentes.

Frio

Ao contrário do calor, uma exposição ao frio intenso (ex.: sair de casa sem agasalho em dias muito frios), pode levar a constrição dos vasos e aumento da pressão arterial.

Umidade e vento acentuam os efeitos do frio. Pessoas com problemas coronários podem ter crises de angina. Hipertensos podem ter crises de pressão elevada.

Idosos são particularmente susceptíveis.

No inverno, uma combinação perigosa para cardíacos e hipertensos é se expor ao tempo carregando uma mala pesada, ou “ir lá fora” para buscar as compras ou levar o lixo.

Mergulho

O ambiente subaquático impõe um enorme desafio adaptativo ao organismo. Há a necessidade de completo equilíbrio emocional e total integridade do coração e sistema respiratório, incluindo vias aéreas superiores, e também dos ouvidos.

Pessoas aparentemente sadias devem passar por um exame médico rigoroso, antes de iniciar cursos de mergulho.

Existem formulários apropriados, fornecidos por associações internacionais da área.

Cardíacos não devem se aventurar em tais atividades. Arritmias, oscilações de pressão e perda da consciência são um risco. Hipertensos não cardíacos devem ser avaliados caso a caso.

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