Categories Clinidac

Idosos

 

Canal:http://youtube.com/@clinidac

À medida que melhoram os cuidados básicos de saúde, a expectativa de vida da população aumenta. No Brasil, de acordo com o IBGE, a expectativa média de vida hoje é de 76,8 anos, sendo que já se situou há décadas na faixa dos 50 e até mesmo na dos 40 anos! Alguns subgrupos populacionais no nosso país têm uma expectativa semelhante à dos países do primeiro mundo. Na Europa, é em média 82 anos, e o campeão, o Japão, tem para homens 86 e para mulheres 90, média de 88 anos.  Prevê-se que no ano 2050 haverá mais idosos do que jovens no mundo.

Se uma pessoa morresse apenas por envelhecimento, estima-se que sua expectativa média de vida seria de  120 anos. Cada vez mais se observam pessoas na sétima ou oitava décadas de vida com uma aparência e hábitos saudáveis, sem maiores problemas de saúde ou doenças incapacitantes.

A própria definição de “idoso” é complexa, pois inclui idade cronológica e biológica. O saudoso professor E. J. Zerbini, que teve vida ativa e produtiva até idade avançada, dizia que “velho é quem tem 10 anos a mais do que a gente”.

Envelhecer é um processo que envolve tanto a mente quanto o corpo.

Em princípio, as pessoas de idade avançada devem aderir às recomendações para a vida saudável aplicáveis a todas as pessoas , respeitadas as limitações óbvias. Deve-se no entanto usar do bom senso, pois o objetivo não é tentar-se milagrosamente prolongar a vida. Afinal, o idoso já provou que consegue viver muito. A prioridade, é buscar uma vida saudável, com melhor qualidade; e, se possível prolongar estes anos de vida saudável. Neste contexto, não se aconselha submeter o idoso a dietas e restrições draconianas, já que ele tem reduzidas suas opções de lazer e prazer. A população de idosos é bastante heterogênea, e deve ser avaliado caso por caso.

“Ela pôs-se a rir secretamente:

‘Velha como sou, disse ela consigo mesma,

conhecerei ainda o amor?…’”

Sara,  em Gênesis 18:12.

Os idosos, assim como toda a população, não devem fumar, e devem usar bebidas alcoólicas (se usarem) com parcimônia.

Os exercícios serão obviamente menos intensos, mas deve-se encorajar alguma atividade física (a menos que haja restrição absoluta) mesmo num nível mais baixo. Por exemplo, andar 1000 metros ou 500 metros, desde que não haja contraindicação formal. Mesmo nestes níveis restritos, o exercício é importante não só para a saúde física, mas também para a saúde mental e emocional.

O exercício regular no idoso pode ajudar a melhorar as funções mentais, diminuir a osteoporose, ativar a circulação sanguínea, melhorar a flexibilidade, a força muscular, e a agilidade e destreza para realizar as atividades do dia-a-dia, além de minimizar o risco de quedas.

Estudos recentes mostraram que a fraqueza muscular no idoso pode melhorar significativamente com exercícios associados  a suplementação nutricional.

Continua sendo importante controlar o colesterol, naqueles que já tiveram algum diagnóstico de doença cardiovascular aterosclerótica, pois tem sido demonstrada estabilização da placa de ateroma com tratamento adequado. Medicamentos para baixar o colesterol são avaliados individualmente, devido a maior chance de intolerância e a risco de interação negativa com outros medicamentos frequentemente usados nesta faixa etária.

Leva-se em conta ainda a motivação do paciente, e o seu estado geral de saúde.

Não só na área cardiológica, mas no contexto geral da medicina, remédios usados por idosos devem ter sua utilidade, real necessidade e relação risco/benefício reavaliada de modo crítico e de tempos em tempos, e a qualquer momento em que se inicia o uso de um novo medicamento.

Quando pacientes de idade avançada fazem uso de medicação anti-hipertensiva, devem iniciar com a menor dose possível, levando-se em consideração que têm maior tendência a oscilação de PA e variabilidade de valores no decorrer do dia. Problemas intercorrentes, como diarreia, febre, desidratação, uma gripe forte ou mesmo permanência prolongada no leito podem indicar uma redução ou suspensão temporária dos remédios para a pressão, especialmente diuréticos.

A depressão é comum nesta faixa etária, e pode afetar seriamente a saúde física e mental.

“Por que te deprimes, ó minha alma,

E te inquietas dentro de mim?”

Salmos 41:6.

O idoso pode desenvolver depressão, às vezes tendo como principal manifestação sintomas físicos, e de diagnóstico nem sempre fácil. Familiares devem observar mudanças importantes na rotina, nos hábitos e no comportamento, que podem fazer suspeitar de depressão, incluindo desinteresse para as atividades antes consideradas prazerosas e lapsos frequentes de memória. Pode haver importante sofrimento psicológico, com prejuízos na vida familiar e social.

A depressão aumenta o risco cardiovascular; as pessoas que já tiveram problemas cardíacos e estão deprimidas têm chance 3 a 4 vezes maior de ter novos problemas do coração, do que as não deprimidas. E aqueles deprimidos que nunca tiveram problemas cardíacos têm mais risco de ter o primeiro infarto ou derrame, do que os não deprimidos. Geralmente há a necessidade do uso de antidepressivos; caso sejam prescritos, o acompanhamento deve ser rigoroso, devido à maior chance de efeitos colaterais na área cardiovascular.

Durante o tratamento, além do médico, pode haver a necessidade de uma “equipe de apoio”, incluindo familiares, amigos ou paramédicos.

Um quadro depressivo às vezes tem causa aparente (ex.: morte do cônjuge ou outras perdas, infarto, cirurgia cardíaca, derrame). Mas muitas vezes acontece sem qualquer motivo que o justifique. Fatores hereditários (familiares), intracerebrais (metabólicos) e situacionais (como econômicos, afetivos, etc.) podem agir isolados ou associados.

“Apertou em mim aquela tristeza, da pior de todas,

que é a sem razão de motivo…”

Guimarães Rosa,

em Grande Sertão, Veredas

Algumas das características seguintes, se persistentes (por algumas semanas), devem ser informadas ao médico, pela possibilidade de se estar diante de uma depressão:

  • tristeza, inquietação, ansiedade e sensação de desamparo, de inutilidade ou de vazio;

  • piora do quadro pela manhã, com alguma melhora no decorrer do dia;

  • desesperança e pessimismo quanto ao futuro;

  • diminuição da capacidade de sentir prazer e gosto pelas coisas;

  • desinteresse sexual;

  • lentidão de raciocínio e dificuldade de atenção e memória, principalmente em guardar fatos novos, como o que acabou de ler ou de ver na TV;

  • dificuldade de concentrar-se e de tomar decisões, mesmo banais;

  • imaginação de estar com doenças graves, ou de ser um peso para a família;

  • falta de energia e de vontade quanto aos cuidados pessoais, como tomar banho ou barbear-se;

  • insônia, despertar precoce pela manhã, ou sono excessivo;

  • diminuição ou aumento excessivos do apetite e peso;

  • queixas de sintomas físicos persistentes, sem uma causa evidente, como dor de cabeça, distúrbios gástricos ou intestinais e dor crônica.

Qualquer que seja o caso, uma vez instalada a depressão, deve-se buscar auxílio médico. Pouco adiantam (e às vezes chegam a ser prejudiciais), pressões para que o paciente “reaja e encare as coisas como são”. É preciso ter em mente que a pessoa não tem culpa de estar deprimida. Simplesmente não consegue sair sozinha, sem ajuda, desta situação.

A aposentadoria pode ter um efeito variável na saúde do idoso. Para alguns, representa o fim de uma vida útil e produtiva. Para outros, uma simples mudança de papéis, em que se passa de uma atividade obrigatória e estressante, para outra, voluntária, útil aos familiares, à comunidade ou a si mesmo. Ou mesmo remunerada, porém mais suave, em tempo parcial.

O envolvimento em alguma atividade gratificante após a aposentadoria pode representar uma motivação a mais para se ter cuidados pessoais, de dieta, exercícios e hábitos saudáveis, e tratamento médico adequado, o que pode significar anos extras de vida. Novos projetos de vida e o relacionamento com novas pessoas estimulam o psiquismo, melhorando a memória e o raciocínio.

O aprendizado de alguma coisa diferente, como um curso interessante, atividades como jardinagem ou mesmo algo rentável, além de programas voluntários de ajuda, são alguns exemplos de motivação para o idoso.

Pessoas de idade que se envolvem em um relacionamento afetivo, incluindo contato físico afetuoso e saudável, mesmo que não signifique necessariamente contato sexual, têm melhor equilíbrio emocional, com reflexos na saúde como um todo.

“Qualquer amor já é um pouquinho de saúde.”

Guimarães Rosa,

em Grande Sertão, Veredas

Categories Clinidac

Viagens e mudanças climáticas e ambientais desafiadoras para o paciente cardiológico

Viagens 

Veja o vídeo no YouTube: https://youtu.be/SSBT4dXRCdE

Canal: http://youtube.com/@clinidac

De Avião:

A aviação comercial tem suas aeronaves pressurizadas, de modo que, apesar de subirem  a  10 000 e até 13 000 metros ,  a  pressão do ar na cabine de passageiros é mantida artificialmente como se o avião estivesse numa altitude de 1500 a 2400 metros. Nessa “altura artificial”, há 25% menos oxigênio que ao nível do mar. A maioria dos pacientes cardíacos não têm problemas em respirar o ar com esta concentração. Exceção é feita para aqueles com doenças cardíacas cianóticas (em que a pele fica azulada; geralmente doenças cardíacas congênitas), os com doenças pulmonares graves, como enfisema avançado, ou insuficiência cardíaca grave ou angina grave. Mesmo assim os aviões normalmente têm uma reserva de oxigênio com máscara para ser usada em possíveis emergências, como situações agudas de falta de ar.

Cuidados em viagens de avião:

  • Sair bem cedo em relação ao horário de embarque, pois os aeroportos costumam ter longas distâncias a serem percorridas a pé, o que não deve ser feito na forma de “correria”, por cardíacos. Outro motivo para sair mais cedo é evitar ansiedade com relação a trânsito e horários, igualmente indesejável.
  • Cardíacos idosos e casos mais severos podem (e devem) utilizar cadeiras de rodas, disponíveis em aeroportos, e de uso comum no exterior, mas ainda pouco requisitadas no nosso país.
  • Carregar apenas a bagagem de mão, deixando as malas para familiares ou carregadores. Malas com rodinhas podem ajudar.

Mesmo apenas colocar e retirar malas pesadas dos carrinhos e balcões de aeroportos, para o “check-in”, pode ser um problema para cardíacos.

  • Levar na bagagem de mão a medicação cujos horários coincidirem com o período de voo. É comum os pacientes levarem os remédios, mas lembrarem na hora de tomá-los que estão “na mala grande”, que por sinal está no compartimento de bagagem do avião, e portanto inacessíveis  após despachadas.
  • Em viagens ao exterior, calcular e levar (com alguma folga) os remédios de uso contínuo suficientes para todos os dias. Em muitos países não se compra a maioria dos medicamentos sem receita médica; pode acontecer também que o remédio esteja em falta, ou simplesmente não exista no país. 
  • Quanto às mudanças de fuso horário sugere-se o seguinte: Se a permanência no destino for curta, tipo uma ou 2 semanas e no máximo um mês, o melhor a fazer é manter os mesmos horários que se tomava regularmente como se estivesse no país de origem.  Desta forma não haverá necessidade de readaptar horários ao retornar. Se a permanência for mais longa, maior que um mês, aí vai se “chegando aos poucos” para o horário do local de destino, mas tendo que fazer a readaptação no retorno pra casa.
  • Alguns casos mais graves podem requerer que uma ambulância se posicione ao lado da fuselagem do avião (em aviões de menor porte) para o embarque e desembarque, para evitar grandes percursos. Em aviões maiores, que usam plataformas de embarque, este é feito, como já citado, com o paciente numa cadeira de rodas. Às vezes, pode ser necessária a presença de um médico durante a viagem, ou a utilização de “ambulâncias aéreas”.
  • Há casos (especialmente após uma alta hospitalar), em que a companhia aérea pode requerer um atestado médico, liberando o paciente para a viagem, e até mesmo pedindo-o para assinar um termo de consentimento. Existem 2 formulários básicos: o MEDIF (Medical Information) válido para uso uma única vez, em uma situação médica nova, recente. E o FREMEC (Frequent Traveller´s Medical Clearance) para pessoas com condições crônicas e estáveis, que viajam com certa frequência e podem necessitar de alguma assistência  especial. A validade é de 6 a 12 meses.
  • Pessoas gravemente enfermas deveriam evitar viagens, a menos que estritamente necessário.
  • Casos com boa evolução de infartos e cirurgias de pontes de safena podem em princípio viajar, cerca de 10 a 15 dias após o evento, se liberados pelo médico e tomadas as precauções necessárias.
  • As companhias aéreas já equipam seus aviões com desfibriladores automáticos, que podem ser usados com segurança pelo  pessoal  de bordo, em casos de ataques cardíacos em   pleno voo.
  • Ficar muito tempo assentado, num ambiente de baixa pressão, leva a dificuldades circulatórias e a inchação. Se o voo é prolongado, cardíacos devem andar algumas vezes pelo corredor da aeronave ( andar um pouco a cada duas ou três horas; para isso é melhor escolher um assento no corredor do que na janela) para ativar a circulação nas pernas, e reduzir inchaço e risco de coágulos nas veias (tromboses e flebites). Flexionar  e estender os tornozelos e pés (exercícios de panturrilha) 10 vezes em cada perna também estimula a circulação.  Tomar água em grande quantidade, pois a desidratação aumenta a viscosidade do sangue,
  • Fatores gerais que elevam o risco de trombose venosa e embolia pulmonar tem a ver com a duração do voo (acima de 4 a 6 horas), a posição ou inatividade das pernas,  hipóxia ou baixa de oxigênio  relativa  (correspondendo a uma altitude “simulada” de 1500 a 2400 metros) e desidratação por baixa umidade na cabine ( das bebidas servidas no avião, preferir  sucos e água e evitar bebidas alcoólicas e bebidas tipo cola, café e chá, que induzem diurese). 
  • Fatores individuais incluem idade (>60 anos), uso por mulheres de pílulas anticoncepcionais  e hormônios para a menopausa,  obesidade (IMC > 30 kg/m²), gravidez e pós parto até 3 meses, cirurgias recentes (até 4 semanas) , câncer ativo nos últimos 6 meses ou recente tratamento de câncer, roupas muito apertadas, imobilidade (ex.: perna gessada), varizes,  história pregressa de trombose venosa ou embolia pulmonar e insuficiência cardíaca e outras situações específicas, como trombofilias. Nestes casos pode haver beneficio do uso durante o  voo de meias elásticas  de compressão abaixo do joelho, com uma  pressão de 15 a 30 mmHg no tornozelo .
  • Alguns passageiros de maior risco podem se beneficiar, a critério de seu médico assistente, de anticoagulantes injetáveis aplicados antes do voo, sendo que  mais recentemente também tem sido usados os anticoagulantes orais mais modernos.  Apesar de ainda não haverem estudos específicos destes comprimidos no caso de viagens de avião, tudo indica que serão úteis  ( e já estão sendo utilizados “off-label”) , pois exatamente nos voos mais longos (os internacionais) os passageiros, no prazo recomendado de 2 a 4 horas para tomar a medicação injetável,  já terão que estar a caminho do aeroporto, dificultando a sua aplicação. Tendo o comprimido, o próprio viajante o tomará no aeroporto, 2 horas a 4 horas antes do voo,  o que já  é suficiente para atingir pleno efeito anticoagulante. Mas sempre sob indicação médica. 
  • Aspirina não tem nenhuma utilidade  nessas situações.
  • Sinais e sintomas que podem requerer auxílio médico: Trombose pode ser suspeitada se aparecer dor e inchação súbita em uma das pernas, em especial na panturrilha, às vezes com vermelhidão da pele e calor local. Embolia pulmonar: súbita falta de ar, palpitações, dor no peito e tosse às vezes com sangue. Em qualquer dessas situações  procurar atenção atenção médica imediata.

Viagens por via terrestre

  • De carro: A cada 200 km, ou a cada 3 horas de viagem, fazer uma parada para caminhar um pouco e movimentar as pernas.

Se sozinho no banco de trás, sentar de lado e colocar as pernas sobre o banco, na horizontal.

  • De ônibus: Andar nos locais de parada .
  • De trem: Como no caso do avião, caminhar algumas vezes pelos corredores, para ativar a circulação das pernas.

Viagens a montanhas em grandes altitudes

No nosso país, este geralmente não é um problema. No exterior, locais acima de 2000 a 3000 metros não são raros. A Cidade do México está a 2240 metros, e La Paz, capital da Bolívia, a 3600 metros.

Em viagens a lugares montanhosos acima de 1500 metros, os portadores de angina e insuficiência cardíaca, mesmo compensada, que não estejam habituados a tais altitudes, devem limitar sua atividade física, para reduzir o consumo de oxigênio, e devem evitar sair no frio intenso. Por “habituados” entende-se os moradores destes locais, cujo organismo teve longo período para se aclimatar ao ar rarefeito.

Elevações discretas da PA e da frequência cardíaca são comuns, e acontecem principalmente nos 4 primeiros dias. O período médio de aclimatação é de 2 a 3 semanas, e é o mesmo para sedentários e atletas.

Uma boa hidratação ajuda a minimizar os problemas de se respirar um ar mais frio e seco.

Calor, umidade e Frio

Calor e Umidade

Pacientes cardíacos têm uma tolerância ao calor bem menor que a dos não cardíacos, e podem ter sua situação piorada em ambientes muito quentes (acima de 30 graus) e úmidos (acima de 75 a 80%), inclusive saunas.

Hipertensos em uso de vasodilatadores e diuréticos podem ter uma queda da pressão.

Há um aumento do trabalho cardíaco, aceleração dos batimentos e uma dilatação acentuada dos vasos, além de perda de líquidos e potássio com o suor.

Exercício e uso de bebidas alcoólicas acentuam ainda mais estas alterações. Mesmo pessoas não cardíacas podem ter respostas exageradas ao calor, se fizerem exercício vigoroso em ambientes muito quentes.

Frio

Ao contrário do calor, uma exposição ao frio intenso (ex.: sair de casa sem agasalho em dias muito frios), pode levar a constrição dos vasos e aumento da pressão arterial.

Umidade e vento acentuam os efeitos do frio. Pessoas com problemas coronários podem ter crises de angina. Hipertensos podem ter crises de pressão elevada.

Idosos são particularmente susceptíveis.

No inverno, uma combinação perigosa para cardíacos e hipertensos é se expor ao tempo carregando uma mala pesada, ou “ir lá fora” para buscar as compras ou levar o lixo.

Mergulho

O ambiente subaquático impõe um enorme desafio adaptativo ao organismo. Há a necessidade de completo equilíbrio emocional e total integridade do coração e sistema respiratório, incluindo vias aéreas superiores, e também dos ouvidos.

Pessoas aparentemente sadias devem passar por um exame médico rigoroso, antes de iniciar cursos de mergulho.

Existem formulários apropriados, fornecidos por associações internacionais da área.

Cardíacos não devem se aventurar em tais atividades. Arritmias, oscilações de pressão e perda da consciência são um risco. Hipertensos não cardíacos devem ser avaliados caso a caso.

Ler Mais Viagens e mudanças climáticas e ambientais desafiadoras para o paciente cardiológico

Categories Clinidac

Homens X Mulheres

Canal:http://youtube.com/@clinidac

As mulheres vivem em média 5 a 8 anos a mais do que os homens (há muito mais viúvas do que viúvos).

Apesar de os homens terem risco aumentado para doença coronariana, em relação às mulheres, existe um paradoxo na prática. Os cardiologistas já observaram que as mulheres se apresentam para a consulta com muito mais freqüência do que os homens, se cuidam mais e até se queixam mais. Quando deveria ser o contrário:

os homens, por serem um grupo de maior risco, buscarem controle médico com mais freqüência. Mas talvez por serem mais “durões”, e reconhecerem menos suas vulnerabilidades, não procuram controle adequado. Qualquer agenda de consultório de cardiologistas tem mais mulheres do que homens marcados para consultas.

Outro dado importante é que as mulheres jovens visitam periodicamente o ginecologista, e o têm como médico de referência, inclusive no aspecto de medicina preventiva. Ele acaba sendo o “clínico” da mulher por um bom tempo (algumas décadas) até que ela tenha demandas específicas para outro médico.

Já muitos rapazes, após ultrapassarem a “idade pediátrica” (acima de 12 anos), deixam de ir ao médico, ou só o fazem para consultas sumárias (ex.: exames para o serviço militar e para empregos), só voltando a procurar consultar-se na faixa dos 40 anos, quando começam a ficar preocupados com a saúde. Passam então um longo período (ex.: 12 aos 40 anos), quando ficam “soltos” sem avaliações médicas detalhadas, e perde-se um tempo valioso, caso houvesse necessidade de intervenções preventivas, como controle de colesterol ou pressão arterial.

Categories Clinidac

O Coração como Símbolo

Página de rosto do livro “Cardiomorphoseos”, de 1645

Canal: http://youtube.com/@clinidac

Ao longo da História, o coração-símbolo teve para o homem pelo menos seis significados: Coragem, Vontade, Desejos, Emoções, Vida e Amor.

​Em latim, a palavra “cor” ou “cordis” significa coração, mas também pode significar alma ou cerne.

“Coração, meu tambor
do peito,
meu amigo cordial”

Milton Nascimento e Fernando Brant

​O primeiro significado do coração como símbolo foi o da coragem. O homem primitivo comia o coração do leão, para ter mais coragem, pois o leão era considerado o animal mais corajoso da natureza. Pensando bem, o nosso ancestral já tinha coragem suficiente, pois para comer o coração do leão era preciso primeiro… matar o leão.

Ricardo Coração de Leão (Ricardo I, rei da Inglaterra de 1189 a 1199) passou a maior parte dos 10 anos de seu reinado não administrando, mas guerreando.
Era um administrador medíocre, mas um bravo guerreiro, daí o seu apelido.
Coração e coragem têm uma raiz latina comum.​

Até hoje existe na língua inglesa a expressão stout-hearted man, cuja tradução literal seria “homem de coração forte”, mas cujo significado é “homem corajoso”.

​Em francês, a palavra coeur quer dizer coração, mas também é usada como sinônimo de coragem (La coeur me manque, isto é, “me falta coragem”).​​

 Ilustração do livro “Schola Cordis”,  circa  1600

Em torno de 1000 AC, o rei Salomão usou exaustivamente a palavra coração, com vários significados.

​Podia estar contente:

“O coração contente alegra o semblante;
quando o coração está triste, a alma se abate.”
(Provérbios 15:13)

Ou tranquilo:

“Um coração tranquilo é a vida do corpo.”
(Provérbios 14:30)

Podia ser a fonte da vida:

“Guarda teu coração acima de todas as outras coisas,
porque dele brotam as fontes da vida”.
(Provérbios 4:23)

Ou refletir o íntimo do ser:

“Como o homem imagina em seu coração, assim ele é.”
(Provérbios 23:7)​

​Em torno de 30 A.D. o órgão também expressava sentimentos como euforia, tristeza ou angústia.​

Como o coração não pode falar, estes sentimentos são postos para fora, pela boca:

“Porque a boca fala daquilo que o coração está cheio.”
(Lucas 6:45)

Podia ser usado para expressar sentimentos puros e elevados:

“Bem aventurados os limpos de coração.”
(Mateus 5:8)​

​A palavra coração aparece com profusão na Bíblia. Ao todo, 873 vezes, sendo 714 no Velho Testamento e 159 no Novo Testamento, em geral como o símbolo da disposição e da vontade do homem, e figurativamente, a fonte de todas as emoções e sentimentos.​

 Ilustração do livro “Schola Cordis”,  circa  1600

No período de 300 a 900 A.D., na América pré-colombiana, os maias tiveram jogos de bola parecidos com o nosso futebol.

“O coração de um homem modifica
o seu semblante,
Seja em bem, seja em mal.
O sinal de um coração feliz
é um rosto alegre…”
(Eclesiástico 13: 31-32)

A bola era de borracha maciça e simbolizava o Sol. Duas equipes disputavam em um campo demarcado com pedras.​ Uma das diferenças com o futebol moderno é que a bola não era tocada com os pés, mas com os quadris e coxas. Outra é que os perdedores tinham um destino diferente dos atuais. Ao time derrotado, ao invés de se “pedir a cabeça do técnico” como se faz hoje, pedia-se (literalmente) o coração do capitão do time, que tinha seu peito aberto por sacerdotes, e o órgão arrancado e oferecido, ainda pulsando, ao Sol, para que este nunca se apagasse (o coração simbolizava a vida).

​Os astecas fizeram sacrifícios semelhantes até 1519, quando chegaram os espanhóis e acabaram com este esporte, de gosto um tanto duvidoso. Infelizmente, certos times e  torcidas hoje em dia ainda apresentam comportamento semelhante, beirando a carnificina explícita, e tendem mais para um espírito de porco do que para um  espírito esportivo.

  Ilustração do livro “Schola Cordis” , circa  1600

Ano de 1595

O coração em sua expressão máxima, o Amor, maior até do que como símbolo da vida. Amor que permanece até mesmo após a morte.​

Romeu:

“-Pois jurarei:

Se o amor querido do meu coração…”

Julieta:

“-Boa noite, boa noite! Ah! Que esta doce calma

que enche o meu coração, encha também tua

alma”.

 (W. Shakespeare. Romeu e Julieta. Ato II. Cena II.
     Verona. O Pomar dos Capuleto)
 Ilustração do livro “Schola Cordis”,  circa 1600

Chegamos então a uma época de transição. O coração passou a ser retirado de cadáveres e a ter sua anatomia estudada, apesar da proibição da Igreja Católica.

​Dentre os que primeiro estudaram a anatomia cardíaca, Miguel Servet pagou com a própria vida, tendo sido queimado pela Santa Inquisição numa fogueira feita com seus próprios livros. (Apesar de todas as alegadas dificuldades da medicina em nossos dias, os médicos atuais pelo menos não correm este risco; já é alguma vantagem).​

​Buscando mais sobre a simbologia do coração ao longo da história, um trabalho de “garimpo” na biblioteca de livros raros do Colégio Caraça, nas montanhas de Minas Gerais, revelou dois livros extraordinários: “A Escola do Coração” (Schola Cordis), datado de 1600, e o “Cardio Morphoseos”, de 1645.​ Seu valor é amplificado pelo fato de terem sido salvos no incêndio do colégio em 1968, em que a maioria dos livros da sua famosa biblioteca se queimou.

​Em ambos, pode-se observar a variedade de situações em que o coração era utilizado para simbolizar emoções e sentimentos, no aspecto sacro e religioso e nas suas relações com o humano. Das dezenas de ilustrações existentes nestes dois livros, algumas ilustram este artigo.​

​Os livros naquela época deviam ser raros e caros, e o Cardiomorphoseos, apesar de impresso em Verona em 1645, passou pelas mãos de alguém em Roma em 1878 que fez anotações manuscritas à margem.​

​Os textos são em latim e, como era de se esperar para uma época em que ainda se via no horizonte a fumaça das fogueiras da Santa Inquisição, logo no começo dos livros há uma página em que se lê: “Censvra … Archipresbyter Bruxellensis, Librorvm Censor”.

​Depois, foram parar no Colégio Caraça, fundado pelo misterioso irmão Lourenço, eremita dos anos 1700, e berço de notáveis, como os presidentes Afonso Pena e Artur Bernardes, que lá se formaram, e lugar de trânsito de figuras da monarquia, como os próprios Imperadores Pedro I e Pedro II. Este último tem uma passagem famosa por lá.​

​Reza a lenda que sua majestade D, Pedro II foi descer uma escada no jardim, escorregou e pimba! Caiu assentado numa posição nada majestática.

Como homenagem, a pedra da escada que sofreu o impacto direto dos reais traseiros foi devidamente cercada, e nela esculpidos o brasão do imperador e a provável data da façanha.

Pedra na escada do Caraça onde Sua Alteza Real depositou sua derriére..

Ano de 1799

Já se imaginava o coração, além do simbólico, um órgão passível de adoecer e provocar males físicos.

​O Dr William Withering descreveu os efeitos da digitalis, que foi o primeiro medicamento efetivo para o coração. A informação sobre os efeitos desta planta (dedaleira) teria sido passada a ele por uma feiticeira inglesa. Relato, aliás, digno de crédito, quando vemos hoje, às portas do século XXI, pajés da Amazônia sendo inquiridos por “olheiros” de empresas de alta tecnologia, para dizer o que sabem sobre as plantas locais.

​​Como se vê, ao longo da História, o mágico e o racional coexistem lado a lado, ou avançam e retrocedem, num plasma incrível, para forjar o conhecimento científico.

​Em 1890, um século depois, o “Formulário”, do Dr Pedro Luiz Napoleão Chernoviz, médico português de ascendência polonesa e que trabalhou no Brasil, dava receitas de como preparar as folhas da digitalis.

​Nesta época, o folhear aflito das páginas deste livro era a primeira coisa que se fazia em casa em caso de doenças. (Hoje, folheia-se aflitamente o catálogo ou a agenda doméstica, à cata do telefone do médico ou do hospital).

 Ilustração do livro “Schola Cordis”,  circa  1600

​Tempos atuais. A sábia sabedoria popular, fazendo analogias entre o superficialismo da face e a profundidade do coração:​

“Quem vê cara não vê coração”
(Dito popular)​

​“É fácil beijar o rosto, difícil é chegar ao coração”
(Parachoque de caminhão)

​​Até Chico Buarque andou misturando sentimento com anatomia:

“Se na bagunça do teu coração meu sangue errou de veia e se perdeu”
(Eu te amo)

​E Drummond:

“Não, meu coração não é maior que o mundo.
É muito menor.
Nele não cabem nem as minhas dores”
(Mundo Grande)​

​E cita Branca de Paula:

“O coração do poeta está sempre na berlinda. Desde criança, sofre males incuráveis: melancolia crônica, saudade não sei de quê, nostalgia em banho-maria, euforia aguda, paixão fugaz, estranhamento, deslumbramento”.
(Mesa redonda “O Coração em Debate”, Belo Horizonte, 08.06.97).

 Ilustração do livro “Schola Cordis”,  circa  1600

Ano de 1967

Os homens modernos se tornaram solitários; e seus corações também. Pessoas de corações solitários se organizam em comunidades e clubes, buscando afastar a solidão.

​Os Beatles fizeram uma brincadeira com o nome de uma música, que tem tudo a ver com a nossa época: “A Banda do Clube dos Corações Solitários do Sargento Pepper” (Sergeant Pepper’s Lonely Hearts Club Band).

​Atualmente, os “Lonely Heart’s Clubs” encontram-se aos montes na Internet, onde os corações tentam encontrar parceria, seus “heart mates”, numa versão eletrônica dos velhos correios sentimentais.

​Neste caso, o coração passa a ser usado para expressar não só o amor… mas principalmente a falta dele.​

​Ano de 1967 de novo

O primeiro transplante cardíaco. O coração é retirado ainda pulsando do doador, e repassado a outra pessoa.​

​Para que isto fosse possível, o próprio conceito de morte teve de ser revisto, passando a ser definido quando o cérebro cessa definitivamente suas funções, mesmo que o coração continue batendo.

​Teria o coração finalmente sido desbancado como o símbolo da vida?

A resposta é: provavelmente não.

Se olharmos para o passado, poderemos fazer algumas comparações no mínimo estranhas.

​Os sacerdotes maias e astecas com seu medo do Sol se apagar, retiravam um coração ainda pulsando e o ofereciam ao Sol, como símbolo da vida, para que este nunca se apagasse.​

Da mesma forma, o cirurgião hoje retira o coração do peito do doador, ainda pulsando, e o transfere a outra pessoa, significando para ela… a vida!

Ilustração  do livro “Cardio Morphoseos”, de 1645
Provável origem do título desta ilustração: A Biblia, no Cântico dos Cânticos de Salomão, 2:5
( da esposa para o esposo) : 
“ fulcite me floribus stipate me malis quia amore langueo”
(Sustente-me com flores, conforte-me com maçãs, que padeço de amor)No entanto, em seguida surgem termos como febris (febre), podagra (gota), nephritis (nefrite), cólica, disuria (desconforto ao urinar), hidrops (hidropisia), o que faz crer nas tradições das iluminuras antigas, da oposição do bem e do mal na mesma figura. Observa-se  que as flores de um lado “expulsam ”as doenças, forçando sua saída pelo  outro lado. 
Categories Clinidac

“A Velhice é Bela?”

“La vecchiaia è brutta”, dizem os italianos. Ou seja: “A velhice é feia”.

Canal:http://youtube.com/@clinidac

Este ditado é assaz revoltante, aqui ou na Itália.

Talvez tenha sido criado pelos próprios velhos italianos, os nonos e nonas, mais como um reflexo de uma sensação de amargura por uma condição de vida de dificuldades, que não escolheram, ou pelo tratamento recebido pelos mais novos.

Mas é claro que a velhice pode e deve ser bela!

Quantos idosos vemos irradiando beleza, sob todas as formas que beleza pode significar?

​E qual o segredo para se viver muito? Existe uma fórmula?

​No livro A Ilha dos Anciãos o autor, Ben Hills, visita as montanhas da ilha da Sardenha, região no mundo onde as pessoas tem maior chance de chegar aos 100 anos. Tanto os homens quanto as mulheres, em proporções iguais, diferentemente dos outros lugares, onde há bem mais viúvas que viúvos.

O livro tenta achar um fator (ou fatores) comum a estes velhinhos, e que possa explicar por que vivem tanto. Se havia a esperança de um gen da longevidade, neste caso não foi encontrado. Mas não se pode negar que mesmo não se identificando um gen específico, que possa um dia ser isolado e “enxertado” na carga genética das outras pessoas, há que se reconhecer que alguma genética existe.

Pais muito idosos geram progênie idem. As causas genéticas disto ainda são assunto para o futuro, talvez com base não em um, mas em múltiplos genes.

Mas voltemos à ilha do livro e seus velhinhos.

O que mais tinham de hábitos? Comida regrada? Nem sempre. Uns comem pouco, outros muito e de tudo.

Uns comem verduras, outros arrepiam “de modo teatral” só de ouvir falar em saladas. Mas em geral não são gordos. E, para compensar alguma comedoria excessiva, todos contam uma história de trabalho duro no campo desde novos,

às vezes dia e noite na época das colheitas, sem entender quando alguém de fora pergunta qual é o seu passatempo.

“Seu único passatempo é o trabalho” nos diz o autor. Quase ninguém se aposenta,

e continuam ativos mesmo depois de bem idosos.

Vinho? Os homens quase todos tomam. As mulheres, umas sim outras não.

Ah bom! Um dos tais centenários desta Sardenha retratada no livro (Antonio Argiolas, aliás o “garotão” da capa do livro) produziu um dos “1001 vinhos que se deve beber antes de morrer”, o tinto Turriga, super forte e troncudo, feito com uma uva local, a Cannonau, de casca grossa e que é fermentada junto com o mosto de modo tradicional, durante semanas.

Um estudo científico testando 165 vinhos de várias partes do mundo mostrou que esta uva divide com a Tannat o título de ter a maior concentração de substâncias benéficas para a saúde cardiovascular. “Para tristeza dos esnobes do vinho, não era nenhuma das variedades mais nobres e conhecidas…”, comenta Hills, o autor da Ilha dos Anciãos. Antonio só se retirou da sua lida com os vinhos em junho de 2009, quando fechou os olhos pela última vez, aos 102 anos.

Mas não se iluda. Tem longevo lá que nem passou perto deste ou de qualquer outro vinho. O autor reconhece apenas três fatores comuns aos super idosos da ilha, todos três ditos “não ortodoxos”, ou seja, não estão entre os mais cotados, como colesterol, pressão, cigarro, etc:

  1. Uma espiritualidade muito desenvolvida. Todos muito religiosos.
  2. Uma família bem estruturada. Os parentes velhos não são um incômodo, e nem alijados do convívio familiar. Ao contrário, a casa gravita em torno deles.
  3. Todos têm uma fé muito grande no futuro. Parece que de tanto enfrentar e superar as durezas da vida e sobreviver, dão a impressão de que estão sempre prontos a encarar tudo o que vier pela frente, sem medo.​

Outro povo longevo e que trata seus idosos de modo respeitoso e os mantém totalmente inseridos no contexto familiar são os japoneses.

Curiosamente, pode não ter sido assim sempre.

Pelo menos no território das lendas seculares, num passado longínquo teriam existido as “Ubasute Yama”, ou montanhas para onde os velhos eram levados e abandonados para morrer em épocas de escassez.

Tudo indica que o aspecto comportamental e espiritual, apesar de difícil se mensurar, o “saber viver”, e o ambiente social e familiar em que se vive, sem dúvida influencia a saúde.

Vejam este diálogo (real) entre um paciente de 96 anos, super enxuto e em ótima forma, e seu médico com pouco mais de metade desta idade:

– Mas o senhor tem 96 anos? Parabéns pela boa saúde!
– Doutor, o senhor quer chegar lá?
– Só se for com esta saúde toda que você tem.
– Vou te dar o segredo (ai o nosso doutor já imaginou que viria algum conselho sobre alimentação, exercícios, vida saudável ou coisa que o valha).
– O segredo? Saiba perdoar! O perdão faz um bem prá nós mesmos maior do que prá pessoa perdoada!

Um estudo científico mostrou que uma vida de solidão é também um risco. Que as pessoas casadas vivem mais que as solteiras e divorciadas.

Mas veja como as estatísticas são engraçadas. Um outro estudo mostrou que os infartos acontecem mais dentro de casa.

O que levou um cientista com um afiado senso de humor a afirmar, após analisar estes dois estudos: “Então pronto! Está aí o segredo: é só todo mundo se casar, mas evitar ficar dentro de casa!”

Já outro paciente ao comemorar suas bodas de ouro, deu a fórmula para se evitar

o divórcio e fazer o casamento durar: “Tem que se manter sempre um certo grau

de cerimônia. Evitar escrachar. Banheiros? Cada um tem o seu. Intimidades, só na hora H”.

Brincadeiras à parte, o compromisso para envelhecer bem não é apenas pessoal, é da família e da sociedade.

É pessoal, no sentido de hábitos saudáveis e cuidados tomados ao longo da vida.

Até certo ponto, “envelhece-se como se vive”.

Da família, reservando um lugar, permitindo que o idoso sempre tenha sempre um papel no contexto da casa.

E da sociedade e do governo, não fugindo de suas responsabilidades para com os idosos. No Brasil ou na Itália, há idosos irradiando beleza.

É possível que seja uma beleza muito mais interior, irradiando de dentro para fora, do que exterior.

Uma paz de espírito, uma simpatia, um belo estado d´alma, ou seja lá o que for.

E por que não vemos isto mais amiúde? Como contestar com mais veemência o ditado italiano? Como pode irradiar beleza um idoso carente, fisicamente doente e deprimido?

Vejamos algumas ameaças reais que podem afetar a terceira idade:

  • Doenças físicas e psíquicas, em especial a depressão. Esta pode ser difícil de ser reconhecida, e precisa ser tratada com medicamentos.
  • Dificuldades financeiras, que incluem benefícios previdenciários não muito benéficos, e que por sinal estão na ordem do dia, em ampla discussão, mas sem uma boa solução. E, pesando ainda mais, gastos com tratamentos, remédios, e até mesmo a divisão dos seus já parcos recursos com familiares, incluindo filhos adultos que ainda não se lançaram no mundo por falta de emprego, dentre outros motivos.
  • A exclusão social. Na nossa sociedade, belo é o jovem e ponto final. Mesmo que o belo jovem de plantão de hoje seja rapidamente esquecido e substituído, amanhã mesmo, por um mais belo ainda que um empresário descobriu e a mídia lançou e que passa a ser o padrão a ser imitado a qualquer custo. E que custo!
  • A exclusão familiar. No nosso modelo familiar ocidental, a opinião do idoso, seus anos de experiência, não contam. Num contexto globalizado de mudanças rapidíssimas, como é que ele vai saber opinar alguma coisa? Mas e a sua bagagem de vida, do “ já vi este filme antes”, não conta?

Espera aí. Tudo isto aí acima, pode acontecer, se já não aconteceu, com qualquer um de nós. Os que ainda não são, serão os idosos da vez. E ainda achando bom, pois envelhecer não é afinal o preço que é pago para continuar vivo?

O Brasil, país de jovens, caminha rapidamente para ter em poucas décadas uma das maiores populações de idosos do mundo.

Então, este desafio é para todos nós, idosos de hoje ou de amanhã. Para que a chamada terceira idade seja realmente chamada de a melhor idade.

E para que seja contrariado o ditado italiano. 

E que possamos ouvir, cada vez mais: “La vecchiaia è bella!”

(Obs.: Extraído do artigo de mesmo nome publicado pelo autor no jornal Estado de Minas, em 17 de janeiro de 2003.)

Categories Clinidac

Os Bons e Maus Humores

Canal: http://youtube.com/@clinidac

Vários termos usados hoje em dia, tanto na linguagem coloquial quanto na linguagem estritamente médica, possuem raízes que nem imaginávamos.

Assim, o termo “influenza”, por exemplo, tem origem italiana.

Antes da descoberta dos micróbios, e porque a gripe ocorria mais no inverno, achava-se que esta era devida à “influência do frio”, ou “influenza di fredo”, que os americanos, mais práticos, simplificaram para “flu”.

A palavra malária também tem origem italiana pois se acreditava que sua causa eram os maus ares, ou “mala aria” dos pântanos, que obviamente tinham, além do tal cheiro ruim, os mosquitos, estes sim os reais vilões e vetores da doença.

A origem dos termos que designam nossos estados de ânimo é particularmente curiosa.

Há alguns milhares de anos, a medicina grega imaginava que, para haver boa saúde, deveria haver o perfeito equilíbrio de quatro fluidos, ou humores (do latim humore: líquido) que (pelo menos eles achavam) o corpo humano produziria: o sangue, a fleuma, a bile amarela e a bile negra.

É a chamada doutrina humoral, preconizada deste os tempos de Hipócrates.

Acreditava-se também que havia a correspondência destes quatro humores com os quatro elementos básicos que constituiriam toda a vida no planeta: a água, a terra, o fogo e o ar.

Assim, o sangue corresponderia ao ar. A fleuma, ou o muco, ou mucosidade, à água. Já a bile amarela teria correspondência com o fogo, e a bile negra (não se sabe ao certo qual secreção seria esta) estaria relacionada à terra.

Uma mistura adequada e perfeitamente equilibrada destes fluidos era a responsável pela saúde do corpo e da mente; o desequilíbrio levava à doença.

Cláudio Galeno, médico grego que clinicava em Roma, (era chique entre os romanos abastados se consultarem com um médico grego) transmitiu estes e outros conceitos que, com seus erros e acertos, influenciaram por séculos as noções que se tinha sobre a saúde e os estados de ânimo.

Alguns tipos de pessoas foram rotulados a partir daí, segundo certas características que apresentassem.

O indivíduo agitado, destes que não param quietos, teria maior produção de sangue, e era chamado de “sanguíneo”.

No outro extremo, o sujeito muito calmo, destes devagar-quase-parando, estava produzindo muita fleuma: o “fleumático”.

O muito nervoso, por sua vez, o estopim curto, era um grande produtor de bile amarela. Como cholé em grego é bile (substância que ainda hoje se diz popularmente que é produzida em excesso nos ataques de raiva), este era o sujeito “colérico”.

E finalmente o deprimido, sempre de farol baixo, era pródigo em fabricar a tal bile negra. Como negro em grego é melano, e cholé como já foi dito é bile, então juntando-se as duas palavras encontramos o rótulo para tais indivíduos: os “melancólicos”.

Os biliosos, que produziam muita bile, seja de que cor fosse, estavam mergulhados em fluidos, ou humores maus. Ou seja, estavam de mau humor.

Conclui-se então que a pessoa de bom humor não tinha excesso destes fluidos prejudiciais; e que o humorista deveria ser o sujeito que, ao nos deixar “bem humorados”, estaria restabelecendo o equilíbrio de nossos fluidos internos.

Voltando à Medicina moderna, cada vez mais se reconhece que estes “transtornos de humor” estão hoje na ordem do dia, e implicam no diagnóstico de um conjunto de patologias que incluem a agressividade e a depressão, reconhecidas como causa de doenças, em especial as do coração, como infartos e morte súbita.

Os “estados de humor” não afetam apenas o coração-símbolo, sede dos

sentimentos e das emoções, mas também o coração físico, e em última análise,

o corpo (e a alma).

” O verdadeiro humor não nasce na mente, mas no coração”

Thomas Carlyle

(Obs.: Extraído do artigo “A Bile e a Cólera” publicado pelo autor no jornal Estado de Minas, em 15 de maio de 2000.)

Categories Clinidac

As Gorduras nem sempres são Vilões

As “Gorduras do Bem”

Canal:http://youtube.com/@clinidac

Todos os óleos saudáveis tem pouca gordura saturada e muita gordura insaturada, esta última se dividindo em 2 tipos: monoinsaturadas (exemplo: ômega 9) e poliinsaturadas, especialmente os famosos ômegas 3 e 6.​

Estes componentes gordurosos são chamados ácidos graxos essenciais (que têm esse nome porque não são fabricados pelo organismo mas são essenciais para seu funcionamento).​

Os ômega 3 ajudam a reduzir os níveis de triglicerídeos e (discretamente) a aumentar o colesterol HDL.

Também possuem um efeito de leve redução na pressão arterial.

Podemos encontrá-lo nas nozes, castanhas, peixes especialmente de águas frias, rúcula e nos óleos vegetais, como azeite, canola, soja e milho.​

Houve uma época em que, para se contrapor a dietas excessivamente gordurosas, elaborou-se dietas quase sem gordura.
Assim para se opor a dieta de Atkins que era só gordura veio a dieta de Ornish que era quase vegetariana (Ah bom, permitia clara de ovo e um copo de leite desnatado por dia!).​

Acontece que ambas são exageradas e pouco saudáveis a longo prazo.
Estudos que tentam defendê-las observaram pessoas ao longo de um ano por exemplo.​

Ora, temos que ter uma alimentação saudável por toda a nossa vida, e nenhum destes estudos durou décadas.
Além do mais, ninguém aguenta fazer uma dieta destas a vida inteira. Se insistir,

ou adoece ou enlouquece.

Acontece que a nossa dieta não precisa ser sem gorduras, e nem só gorduras. Existem na natureza as gorduras e óleos saudáveis, os quais é melhor comer do que se abster deles. Um exemplo é o azeite de oliva.

É especialmente rico em ácido oléico, um óleo monoinsaturado ômega 9 e polifenóis, que são antioxidantes.​

Na dieta mediterrânea, estão presentes alimentos gordurosos que são cardiologicamente corretos: além do azeite de oliva, os óleos presentes nos peixes, que contém os famosos ômega-3. ​

No caso do óleo ou azeite de oliva, os principais produtores mundiais são Espanha, Itália, Grécia e Tunísia, não por acaso países banhados pelo mar Mediterrâneo. Este óleo é uma gordura, pois tecnicamente 100 gramas dele contém 100 gramas de gordura, neste caso na forma liquida, ou óleo.​

Um grande estudo acompanhou 90 000 participantes durante 28 anos quanto ao consumo de azeite de oliva: um grupo não usava nada e o outro grupo pelo menos meia a uma colher das de sopa por dia (daí para cima), seja na cozinha ou na mesa.

O resultado? A turma do azeite teve as seguintes reduções em relação ao outro grupo: Menos 19% de mortalidade, menos 19% de doenças cardiovasculares, menos 17% de câncer, menos 29% de doenças neurodegenerativas e menos 18% de doenças respiratórias. Um alimento e um santo remédio!​

Óleo de peixe​

A recomendação de se comer peixes marinhos de águas profundas e frias (100 a 200 gramas 2 vezes por semana) como fonte de ômega 3 esbarra no seguinte:

No nosso meio, longe do mar frio, estes peixes nem sempre chegam lá muito saudáveis e frescos para consumo rotineiro.​

Bacalhau e sardinha são os mais ricos e fáceis de se obter. Atum tem mais é enlatado, não tão bom para uso frequente se tiver muito sal. Uma lata de atum tem aproximadamente 110 g do peixe e 250 mg dos tais ômega 3. E o salmão que temos aqui vem de fazendas do Chile que os criam em tanques rede. São ótimos para se comer, tem um bom custo/benefício mas não são tão ideais como fonte de ômega 3 quanto o salmão pescado no mar aberto, que é bem mais caro.​

Isto posto, na prática é válida a recomendação de se ingerir óleo de peixe sob forma de suplementos, em geral em cápsulas. A AHA (Associação Americana de Cardiologia) recomenda como prevenção secundária (ex.: para pessoas que já têm problemas coronários) doses de até 1.000 mg de ômega 3 por dia.​

Cada cápsula de óleo de peixe destas no mercado tem 1 g de óleo de peixe, mas de ômega 3 tem 300 mg, sendo 180 de EPA e 120 de DHA). Portanto, a dose é de 3 cápsulas por dia (daria 900 mg de ômega 3) o que costuma nos fazer arrotar um gosto de emulsão de Scott (lembra?) o dia inteiro.​

Para a prevenção primária (para quem ainda não teve infartos ou quetais) a AHA tira o corpo fora e continua dando preferência à alimentação, aconselhando a apenas comer os tais peixes marinhos.​

Como na prática, pelos motivos expostos, ninguém aguenta ou consegue comprar e comer peixe na quantidade necessária (a menos que more à beira mar em uma cidade pesqueira) uma sugestão é tomar 2 cápsulas por dia se a pessoa não comer nenhum peixe e uma cápsula/dia se comer os tais peixes pelo menos 2 vezes por semana.​

O ômega 3 de origem vegetal, o acido linolênico, presente no óleo e no farelo de linhaça, também tem sido indicado por similitude (vide em seguida), mas não se pode erder de vista que os estudos observacionais de desfechos cardíacos em populações que validaram os ômega 3 foram feitos com de origem animal, dos peixes.​

Linhaça​

A linhaça nada mais é do que a semente do linho (Linum usitatissimum), o mesmo linho que nossos avós usavam para fazer aqueles ternos brancos bacanas, que eram muito frescos e próprios para se usar no calor dos trópicos, de preferência com um chapéu panamá.​

É um ácido graxo ômega 3 de origem vegetal, ao contrário dos outros ômega 3 famosos (ácido docosaexaenóico ou DHA e eicosapentaenóico ou EPA) que são de origem animal, dos peixes marinhos bacalhau, atum, salmão e também da nossa sardinha.​

Este ômega 3 vegetal, por ser originário do linho, recebeu o nome de ácido alfa-linolênico,ou ALA).​

A farinha da semente de linhaça (mas não o óleo) contém, além do ômega 3 citado, grande quantidade de fibras que também são importantes numa dieta equilibrada.

A semente de linhaça é tem também fitoestrógenos que podem ter ações como antioxidantes e nos receptores estrogênicos. Diante de tudo isto, recebeu a classificação de alimento funcional.​

Canola​

O óleo de canola é considerado um dos mais saudáveis óleos de uso na cozinha.

Ele teve sua origem numa planta chamada colza, muito cultivada no Canadá.

A colza dava um bom óleo, exceto por um problema: tinha um excesso de ácido erúcico, que além de ter um gosto amargo, era muito indigesto.​

Através de cruzamentos genéticos de subespécies da colza, os canadenses desenvolveram uma nova e linda planta, de flores amarelas, com baixo teor de ácido erúcico. A esta planta se deu o nome de canola, palavra esta que tem origem na expressão técnica: CANadian Oil Low Acid.

O chocolate​

O chocolate não faz parte da dieta mediterrânea, mas também pode ser considerado uma gordura do bem.​

Na época dos astecas, era chamado de alimento dos deuses, daí o nome científico do cacaueiro: Theobroma cacao (theo = deus e broma = alimento), e dai também veio o nome da substância teobromina, presente no cacau, e que tem efeito estimulante.​

Do grupo das metilxantinas estimulantes fazem parte a teobromina e a cafeína.

O navegador genovês Cristóvão Colombo foi um dos primeiros europeus a provar o chocolate, que foi apresentado a ele pelos astecas, que o usavam como alimento e também nos seus rituais místicos e religiosos.​

Sua versão amarga é a mais rica em cacau (de acordo com as normas européias tem que ter no mínimo 35%, de cacau) e não por acaso a considerada mais benéfica para o sistema cardiovascular, por ser rica em polifenóis antioxidantes.​

O conceito mais atual é que alguns dos efeitos benéficos seriam por impedir a oxidação do LDL colesterol e por reduzir um pouco a pressão arterial.

As nozes​

Nozes como a noz propriamente dita, amêndoa, avelã, castanha de caju e do pará, pistache e outras.

O amendoim, apesar de colocado junto com as nozes, é uma leguminosa.

Muitas nozes não são nozes do ponto de vista botânico, mas podem ser assim chamadas do ponto de vista culinário.

Estudos epidemiológicos mostraram que pessoas que consomem regularmente nozes tem menos risco de sofrerem problemas coronários. Elas contém várias substâncias que teriam efeito cardioprotetor, tais como antioxidantes e especialmente ômega 3.

Então, pra resumir, existem muitas gorduras do bem, mas fica um alerta: Nunca consumi-las em excesso, pois são calóricas ao extremo: 9 calorias por grama, contra 4 dos carboidratos e proteinas.

Se exagerarmos buscando benefícios, acabaremos ficando “gordinhos saudáveis”

Categories Clinidac

Dos Limões e do Lago

Canal:http://youtube.com/@clinidac

Limone Sul Garda é um típico vilarejo italiano daqueles vistos nos filmes, nos quais sonhamos em passar uma temporada, quando nos aposentarmos ou ficarmos ricos.

Casinhas cor de tijolo ao redor de uma igreja, um brilhante lago azul em frente,

já admirado na época do império romano, e por detrás as montanhas.

Apenas 1.034 habitantes, sendo que em 1861 eram 548. Ou seja, levou um século e meio pra dobrar a população!

Isto dá uma idéia de como a vida lá deve passar lentamente.

O nome da vila se refere a duas coisas típicas do local: o lago de Garda e os limoeiros.

Seus moradores dizem que é o lugar mais ao norte da Itália onde se pode cultivar os famosos limões sicilianos, trazidos da quente e ensolarada Sicília, ilha que fica lá embaixo, bem ao sul do mapa, onde é chutada pela bota.

Assim, apesar do clima mais frio eles podem colher limão direto do pé pra tomar uma fresca spremuta de limone. Ou beber após a sobremesa uma ou duas doses de limoncello feito em casa.

Nem que para isto cheguem a plantar os limoeiros dentro da própria casa, em aconchegantes jardins de inverno envidraçados (as orangeries).

Mas na maioria das vezes as plantas ficam em vasos enormes lá fora no jardim, que no inverno são levados para dentro num espaço apropriado chamado limonaia.

Limone fica bem ao norte mesmo, em Brescia, na Lombardia. Mais um pouco e se chega nos Alpes Suíços, ou na Áustria.

Ficou isolada até 1932 quando uma estrada primorosa, a Via Gardesana, obra prima da engenharia com seus inúmeros túneis e pontes, permitiu que o mundo e os turistas chegassem até lá de carro.

Mas foi só em 1979 que ela ficou mesmo famosa, quando um cidadão limonês foi fazer exames em Milão.

Os médicos ficaram atônitos: apesar de níveis de colesterol total e triglicérides nas alturas, o sujeito não tinha nenhum sinal de placa de ateroma! Nenhuma obstrução nas artérias! E ainda por cima tinham o colesterol HDL, o tal protetor, em níveis baixos!

Buscaram seus três filhos e fizeram os exames: dois tinham o mesmo achado.

Mas que história é esta? O esperado era que pessoas com estas alterações (colesterol e triglicérides muito elevados e HDL muito baixo) já estivessem com vários entupimentos pelo corpo. E eles não tinham nada?

Os doutores então correram pra Limone, examinaram seus habitantes e pimba! Muitos tinham os mesmos achados, e mais: eram todos da mesma família, descendentes do casal Cristoforo Pomaroli e Rosa Giovanelli, que se casaram em 1644.

O isolamento que os limoneses viviam antes da chegada da estrada propiciou muitos casamentos consangüíneos, e aí a genética fez sua parte. O que normalmente é um problema (consangüinidade), aqui foi benéfico.

Um gene “do bem” passado adiante por várias gerações fazia com que o sangue dos seus portadores tivesse um “super HDL”, uma potente mutação do HDL.

Na verdade, os níveis de HDL eram sim baixos, mas era uma mutação do HDL, em que pouco valia muito, em que cada HDL destes deveria valer vários dos HDL habituais, “superfuncionante” e superpotente (as partículas são maiores e mais densas), que os protegia de doenças cardiovasculares.

Isto explicava porque eles não tinha nada de anormal nas artérias, apesar do colesterol total e dos triglicérides muito elevados.

O potencial dano que estes últimos provocariam era anulado pela proteção do tal HDL mutante. (1)

Como foi esta descoberta em Milão, esta mutação recebeu o nome de Apo-A1 Milano (apo de apolipoproteina, que é a principal proteína componente do HDL, que apesar de chamarmos de HDL colesterol, é uma lipoproteína, isto é formada de um lípide, que é o colesterol e de uma proteína, a Apo-A1).

Mas por justiça deveria ser Apo-A1 Limone! Esta Apo A-1 era especialmente potente em fazer o tal “transporte reverso do colesterol”: retirá-lo da circulação e também das paredes das artérias e levá-lo para o fígado, para ser metabolizado e eliminado.

A Apo A-1 não é propriamente um remédio, mas uma proteína especial fabricada pelo corpo e que carrega gorduras. Seria como um caminhãozinho vazio passeando pela circulação sanguinea e carregando em sua caçamba todo o colesterol que encontrar. Quando se enche de colesterol, ai sim ele este caminhãozinho que estava vazio (a Apo A1) muda de nome e passa a se chamar HDL, que nada mais é do que uma associação de proteinas com gorduras, uma lipoproteína.

O diferencial que o torna “do bem” é o que ele faz com o colesterol que ele carrega: despeja-o diretamente no fígado, que é a usina que vai queimá-lo. É o contrário do que faz o LDL, que despeja o colesterol direto na circulação, que em excesso vai entupir as artérias.

Como é uma partícula complexa demais para ser sintetizada em laboratório, recorreu-se à engenharia genética, ensinando bactérias a fazê-lo.

Estava pronta a apo A1 recombinante.

Primeiro os testes com animais, e depois com humanos com placas de gordura nas coronárias, feitos na prestigiosa Clínica Cleveland, nos Estados Unidos, a mesma das pontes de safena.

O resultado foi como esperado, uma boa regressão nas placas, com uma injeção semanal por apenas cinco semanas, muito maior do que o máximo que já se tinha conseguido até então com outros remédios (2)

O grande nó é que, exatamente como as primeiras doses de penicilina, a apoA1 recombinante ainda tem três graves limitações: é rara, cara e só existe na forma injetável.

Mas é uma questão de tempo, interesse e investimentos.

Para se ter uma idéia da raridade da penicilina nos seus primórdios, em março de 1942 foi tratado um paciente com septicemia, no qual foi usada simplesmente metade de todo o pequeno estoque deste antibiótico existente no planeta!
Em junho do mesmo ano a coisa evoluiu, e já havia penicilina no mundo disponível para tratar dez pacientes! A partir daí a evolução foi tão rápida que para a invasão da Normandia em 1944 o esforço de guerra já havia produzido mais de 2 milhões

de doses!

No caso da penicilina, a guerra acelerou as coisas, permitindo um avanço razoavelmente rápido: da descoberta por Fleming em 1929 até 1944 se passaram 15 anos.

A primeira estatina para baixar o LDL teve sua descoberta pelo japonês Endo em 1976 e até o seu lançamento no mercado em 1988 se foram 12 anos.

As patentes dos medicamentos duram 20 anos, a contar do registro inicial da molécula descoberta. Os primeiros dez anos destes vinte são gastos em pesquisa, no começo com animais, depois com voluntários sadios e finalmente em grandes estudos clínicos, agora já com pessoas que têm o problema alvo do medicamento.
Então, correndo tudo bem, é lançado no mercado e a empresa descobridora tem então mais 10 anos até completar os vinte e aí expirar a patente, para correr atrás e recuperar todo o investimento que fez, em geral na casa de centenas de milhões de dólares, e obviamente tirar algum lucro. Lucro este que no caso particular das estatinas, devido ao seu estrondoso sucesso, é de bilhões de dólares.

Isto tudo levado em consideração, a questão do HDL bem que está demorando. Afinal, o tal super HDL de Limone foi descrito em 1980, e só em 2003 (23 anos depois) veio o trabalho da Cleveland Clinic já citado, com o primeiro HDL “fabricado”.

E daí para um lançamento no mercado ainda não há nenhuma previsão.

Pode ser que em parte esta demora se deva exatamente ao grande sucesso das estatinas, que só agora dão algum sinal de esgotamento, de terem chegado ao máximo de seu potencial: reduzir o risco mesmo em indivíduos com LDL colesterol normal.

Exaurido o horizonte do LDL, então o HDL passou a ser a bola da vez, mas a coisa não parece ser tão fácil como o caso do seu parente vilão.

Para complicar, descobriu-se que existem várias subfrações do HDL, e que aumentar o HDL total não significaria obrigatoriamente benefício, se não se souber qual subfração dele está sendo elevada, e qual afinal deve ser efetivamente elevada.

A indústria teria que nos disponibilizar um HDL (ou apo A1) em cápsulas, para ser tomado por via oral. Fazê-lo em grande escala através das bactérias custa caríssimo!

Vamos ter que aguardar a coisa evoluir.

Já estão alterando o gene de algumas plantas para fabricá-lo, com boa redução do custo, mas ainda vai demorar um bocado.

Também a penicilina primeiro só existia via injetável, em quantidades mínimas, e depois passou a ser sintetizada em laboratório e disponibilizada via oral, e a um custo irrisório.

Por outro lado, nosso organismo já fabrica o HDL, em umas pessoas mais, em outras menos.

Não é o super HDL de Limone, mas também é muito bom, desde que nas proporções adequadas para se atingir o número mágico.

Então, neste aspecto do HDL ainda estão em fase de pesquisa medicamentos que possam melhorar sua quantidade no organismo, e principalmente sua função benéfica.

Categories Clinidac

A Dieta do Mediterrâneo

Canal: http://youtube.com/@clinidac

Como surgiu esta história toda da dieta do mediterrâneo?

​Em parte pode ser explicada pelo seguinte:

Desde há uns bons séculos as regiões mais ao norte dos países europeus sempre foram mais ricas e abastadas que as do sul.​

A turma mais ao norte tinha rebanhos e gado de toda espécie, muitas  terras boas e florestas com caça em abundância. Produzia leite e queijos gordos em quantidade, usavam banha em todas as comidas que faziam e sua dieta era uma gordureba só.​

Já a turma mais ao sul tinha uma terra mais difícil de lidar, tinha menos recursos financeiros para investimento, conhecia menos técnicas de agricultura e tinha que se virar para obter  proteína, já que não possuíam rebanhos como seus colegas do norte. Na falta de gado, tinha que buscar proteína no mar, sob a forma de peixes.​

​Os terrenos mais pedregosos não davam grandes colheitas de trigo, mas davam excelentes vinhedos, pois sabe-se que quanto pior o terreno melhores as uvas.

E também o vinho.​

Queijo e leite? Só de cabras, animais que se viram e acham o que comer em qualquer terreno, por mais pedras e morros que tenha. Aliás, isto é até do gosto destes animais.​

​Também a oliveira não é muito exigente com as condições de terreno.​

As poucas terras melhores davam pra plantar hortaliças, bem adaptadas ao clima mais quente, como berinjelas e tomates. E, claro, as árvores frutíferas.

​Pronto, com a adaptação do povo mais simples do sul, que não tinha a abastança de seus irmãos do norte acabou sendo criado um cardápio dos mais saudáveis do mundo: peixes em quantidade, azeite de oliva inclusive para cozinhar, vinho, frutas e hortaliças e queijo e leite de cabra. Completava a mesa pães de cereais não refinados.

​Uma dieta já demonstrada em vários estudos como a mais “cardiologicamente correta”, conferindo proteção ao sistema cardiovascular.

​As regiões consideradas como o “berço” da dieta mediterrânea, como a conhecemos, são o sul da Itália e sul da Grécia, além da ilha de Creta.

​Séculos depois, o norte rico e mais desenvolvido passou a invejar e copiar esta dieta, levando à irônica afirmação de que os pobres comem melhor que os nobres.

​Esta dieta foi muito bem vinda.

​​Hoje tem muita gente querendo comer de forma saudável, ninguém gosta simplesmente do “não pode isto e não pode aquilo”, sobrando para se comer só coisas insossas e sem graça.

​Ou seja, uma antipatia sem medida.

​Já na dieta do mediterrâneo (e talvez isto explique o seu sucesso e sua fácil adesão) o capítulo do que “pode” é grande, e o que pode é, além de saudável, realmente muito saboroso.

Categories Clinidac

Exercícios Físicos

Canal: http://youtube.com/@clinidac

Uma das maiores ameaças à saúde é o sedentarismo. E, dentro dos conceitos atuais, um dos menos combatidos, apesar de muito mais fácil do que se imagina, como veremos a seguir.

Quais são os limites? Considerando-se a obtenção de benefícios de prevenção cardiovascular, sem se preocupar com condicionamento aeróbico, os limites ideais correspondem a um gasto energético com atividade física de 700 a 2 000 calorias por semana.

Abaixo de 700 é insuficiente. Acima deste valor, já se perde o rótulo de sedentário. Não é grande coisa, mas já dá pra sair da turma dos Homer Simpsons, dos batatas de sofá.

A partir daí, os benefícios são crescentes até 2 000, acima do que não há ganho adicional para o coração em termos de prevenção, só mesmo um melhor condicionamento aeróbico.

Um exemplo de gasto de 700 calorias? Caminhar por meia hora, três a quatro vezes por semana, num total de 7,5 a 10 km por semana. Um exemplo de 2 000? Andar 30 km por semana (5 km em uma hora 6 vezes por semana) ou correr o mesmo percurso semanal (5 km em meia hora 6 vezes por semana).

Isto tudo de uma forma constante e moderada, sem exageros ou oscilações extremas, ou de um entusiasmo súbito seguido de abandono total. A este respeito, temos o comentário bem humorado de um autor que deu a melhor definição que conheço deste preparo físico tipo “fogo de palha”:

“É uma vaga moléstia contagiosa, caracterizada por uma agitação intensa e febril, que geralmente atinge grupos de amigos homens entre 30 e 50 anos de idade, dura entre três a quatro semanas, e então termina tão de repente quanto começou, sendo rapidamente curada por doses terapêuticas de cerveja, tornando o paciente imune a novos contágios”.

Exercícios físicos feitos regularmente se destinam a combater o sedentarismo, que é um dos sete fatores de risco para as doenças das coronárias que podem ser modificados. Além de melhorar o perfil de risco cardiovascular, a atividade física é recomendada para os adultos urbanos não-atletas com o objetivo de emagrecer e também para se melhorar o condicionamento físico, que permite que se façam esforços maiores com menos cansaço. Um dos primeiros estudos a ser desenvolvido relacionando atividade física e doença arterial coronariana, foi conduzido em Londres, na década de 50, quando foram comparados carteiros (que andavam muito) e trabalhadores (sedentários) de escritório dos correios. Também se comparou os motoristas (sempre sentados) e os cobradores (que subiam e desciam as escadas) dos ônibus de dois andares em Londres. Observou-se pela primeira vez o que hoje é considerado óbvio: que atividades ocupacionais com maior gasto energético estavam associadas com menores taxas de morte por doenças cardíacas coronarianas. Os carteiros e cobradores tinham melhor saúde cardíaca que seus sedentários colegas de trabalho.

Desde que o Dr Kenneth Cooper contribuiu para a popularização do condicionamento aeróbico, os calçadões e parques se tornaram repletos de pessoas de todas as idades fazendo caminhadas e “jogging”. Estas atividades constituem, juntamente com a natação e o ciclismo, o que se chama de modalidades aeróbicas básicas, nas quais são importantes a duração e a intensidade do exercício. As pessoas que as praticam estão melhorando o seu perfil de risco cardiovascular, e além disso, aumentando sua capacidade física. Exemplos: caminhar 6 quilômetros em 50 minutos; correr 5 quilômetros em meia hora; pedalar 8 quilômetros em meia hora. Mas assim como com a falta de exercícios é danosa, o excesso também pode sê-lo. A pergunta que não quer calar é: até que ponto os exercícios são benéficos, e a partir de que ponto se tornam um excesso e um risco? Onde está o limite entre prevenir doença e provocar doença?. Com a prática de corridas, o grande perigo é que a ideia do “quanto mais, melhor” que pode levar a exageros não saudáveis para o adulto urbano não atleta profissional. Veja-se por exemplo o caso da maratona. Uma modalidade que deveria se restringir a atletas de alta performance acaba tendo adesões dos “weekend warriors” como são chamados em língua inglesa aqueles atletas de fim de semana, os “não-elite”. Foram observadas em desfavor destes alterações preocupantes na função ventricular ao ecocardiograma e nos níveis sanguineos de marcadores de necrose do músculo cardíaco, logo após cruzarem a linha de chegada de uma maratona. 

Os atletas de elite, além de dedicarem todo o seu tempo profissional ao treinamento, têm equipes estruturadas capazes de diagnosticar problemas não só numa única avaliação pré-participação, mas em exames seriados ao longo da carreira do atleta. Além disto, têm toda uma estrutura de profissionais de apoio, que dosam judiciosamente a qualidade e a quantidade de cada caloria que eles ingerem, dentre outros inúmeros cuidados. Não sofrem as pressões do dia a dia do trabalho burocrático, não fumam ou bebem, dormem cedo, etc e etc, o que  não sói acontecer com os “não-elite”, ou “maratonistas recreativos”. Sem falar que nem todos são geneticamente favorecidos para tamanho desafio, para um stress físico e mental tão intenso. Existe uma especulação não provada, mas provavelmente válida, quanto ao aspecto genético dos grandes campeões africanos, como os corredores da Etiópia e do Quênia e suas marcas espetaculares. É possível que em tempos primitivos, seus ancestrais tenham sido selecionados para a corrida em um ambiente hostil. Ora dando um galope atrás da caça, ora fugindo das feras. Ora correndo atrás de comida, ora correndo para não virar comida.

Os excessos de corrida não são para o cidadão comum. Talvez o limite para este último seja a meia maratona, o que aliás não é pouca coisa, e mesmo assim após um bom período de treino.

Já para se emagrecer, a duração da atividade física é mais importante que a intensidade. Exemplo: caminhar 6 quilômetros em uma hora e meia é mais eficaz para se perder peso do que correr à toda velocidade durante 20 minutos. Aqui, não conta tanto “colocar os bofes para fora”, mas perseverar num exercício prolongado e contínuo, mesmo que menos intenso. O organismo começa a queimar os depósitos de gordura quando a pessoa ultrapassa a primeira meia hora de atividade. Antes, estava queimando principalmente glicose e glicogênio, isto é, carboidratos.

Recentemente, foi reconhecido que atividades mais leves e espaçadas, quando praticadas diariamente, também seriam úteis para se melhorar o risco de problemas cardíacos, apesar de não levarem a um maior condicionamento aeróbico, e nem de serem úteis para emagrecer. É a “ginástica parcelada”, que nada mais é do que a soma de vários pequenos períodos de atividades físicas que se realiza no decorrer do dia. Exemplos: pequenas caminhadas, como quando se vai para o trabalho ou para fazer compras a pé; jardinagem; dança; lides domésticas em geral. Estas atividades poderiam até mesmo substituir os programas regulares de exercícios, para aqueles que não têm oportunidade de fazê-los.

Portanto não é preciso treinar como um atleta olímpico para ter menor risco cardiovascular.

Eis algumas dicas para a “ginástica parcelada”, para o seu dia-a-dia em casa, no trabalho, nas compras e passeios:

  1. Usar as escadas no lugar do elevador ou da escada rolante.

  2. Não se preocupar em “estacionar na porta”, mas sair um pouco antes, parar o carro um pouco mais longe e ir a pé.

  3. Caminhar pelos corredores dos shopping centers.

  4. Caminhar num caminho alternativo, um pouco mais longo, para o seu destino, sem se preocupar em estar “dando a volta”.

  5. A jardinagem (30 minutos por dia) fará com que seu corpo exerça uma ampla gama de movimentos, além do contato saudável com as plantas.

  6. Se tiver crianças, como filhos ou netos, brinque um pouco com elas. Brinque de “pegador”, ajude-as a pular corda, e outras coisas que elas sugerirem (e que você obviamente tolere!). Eventualmente, leve-as ao parque de diversões.

  7. Você “pode exagerar os movimentos”, propositalmente, ao fazer lides domésticas como encerar, varrer ou passar o aspirador.

  8. Lavar e encerar o carro.

  9. Fazer compras na mercearia ou mercado (e depois guardá-las em casa).

  10. A dança é boa para o corpo e a cabeça. Além de momentos de lazer e descontração, proporciona os mais variados níveis de atividade física. Desde ritmos suaves, perfeitamente adequados para idosos e cardíacos, até os modernos funk e as músicas baianas, que não deixam nada a dever à ginástica livre, em termos de exercício.

  11. Tenha no carro um “kit esporte”. Isto mesmo: uma caixinha ou sacola com um par de tênis, meias de algodão, um short ou um calção de banho, uma camiseta e uma toalha. Nunca se sabe a hora e o lugar em que poderá aparecer uma oportunidade para se exercitar. Todo mundo já se viu em situações imprevistas, como ter que esperar por alguém 40 minutos. Ou passar de carro por um local aprazível, com disponibilidade de tempo, em que se possa parar e dar uma caminhada. Ou ter um compromisso cancelado, num final de dia, que permita passar pelo clube e nadar. São situações inesperadas, que podem ser aproveitadas com qualidade, saindo da monotonia de forma agradável e saudável. Mesmo que feitas de uma maneira esporádica e não-regular, estas atividades representam um momento de descontração e alívio das tensões. É só lembrar que, exatamente por serem eventuais, deve-se manter uma intensidade de exercício mais baixa, para não se exigir demais de um organismo menos condicionado.

Além de reduzir o risco cardiovascular, atividades físicas moderadas, feitas diariamente, contribuirão para reduzir a depressão e a ansiedade, melhorar o “astral” e a disposição para as tarefas diárias.

Cada vez mais a medicina confirma a necessidade de se combater o sedentarismo, na era dos lares com controle remoto e telefone sem fio, que tendem a nos prender no sofá.

E, felizmente, cada vez mais a medicina vem descobrindo alternativas de atividades físicas para os não-atletas, de fácil execução. E nem por isto menos eficazes em melhorar o perfil de risco.

Um estilo de vida mais saudável está ao alcance de todos.

Só é sedentário quem quer.

Obs.: Texto modificado do artigo “Exercícios: Vigorosos ou Leves?” originalmente publicado pelo autor no jornal Estado de Minas, em 26 de junho de 1998.