Hipertensão

Fatores de Risco

3° Fator de Risco: Hipertensão Arterial. Pressão Alta

Hipertensão

A hipertensão arterial (que será aqui denominada HA), contribui para lesar diretamente as artérias, e também obriga o coração a trabalhar com maior esforço (tem de contrair com mais força para fazer o sangue circular). Além de problemas cardíacos, pode causar tromboses e derrames cerebrais, e afetar os olhos e os rins.

A associação com outros fatores de risco potencia seu efeito deletério. Portanto, não se deve admitir outro nível de pressão arterial (que será aqui denominada PA) que não o nível na faixa normal, ou o mais próximo possível dela.

No Brasil um grande estudo observou a prevalência de hipertensão de 40% nos homens e de 32% nas mulheres, com aumento progressivo com a idade, chegando a 64% dos indivíduos de 65-74 anos. Então, apesar de a hipertensão no idoso não ser normal, é comum. As mulheres de 75 anos ou mais costumam tem mais pressão alta que os homens.

A hipertensão é menos prevalente nos indivíduos pós-graduados (28%), em comparação àqueles sem educação secundária completa (44%), e nos indivíduos com maior renda familiar (31%), em comparação àqueles com menor renda (41%). É mais comum entre os negros (49%) em comparação às outras categorias de raça/cor.

A PA é expressa em dois valores, um maior e um menor, que significam:

  • PA máxima, que corresponde à contração (sístole) do coração, e é também chamada de sistólica.

  • PA mínima, que corresponde ao relaxamento do coração (diástole), e é também chamada de diastólica.

A HA é freqüentemente genética ou familiar. Quando nenhum dos pais é hipertenso a probabilidade de uma pessoa desenvolver HA é de menos de 5%. Quando um dos pais tem HA esta probabilidade cresce para 13 a 25%, e quandos ambos os pais têm pressão alta ela chega aos 50%.

Assim, parentes de hipertensos deveriam ter sua PA medida pelo menos uma vez ao ano, na vida adulta.

Entretanto, mesmo que haja predisposição genética, algumas considerações são importantes:

  • se a pessoa com maior chance de se tornar hipertensa, devido a história familiar, adquirir peso corpóreo em excesso, tiver vida sedentária, ingerir muito sal e álcool e se submeter a stress psicológico cronicamente, provavelmente a HA irá se manifestar mais cedo na vida, de forma mais severa, e com necessidade de maiores doses de medicamentos.

  • se o contrário ocorrer, e esta mesma pessoa geneticamente predisposta levar uma vida saudável, ela terá mais chances de a HA se manifestar mais tarde na vida, de forma mais suave, necessitando menor dose de medicamentos, ou mesmo de não se manifestar.

Os níveis de PA são atualmente classificados como se segue, para adultos a partir de 18 anos e PA medida em consultório (em milímetros de mercúrio, ou mmHg):

Categoria:  PA sistólica (mmHg)        PA diastólica (mmHg)

Ótima:                        <120                e              <80

Normal:                      120 – 129        e/ou      80 – 84

Pré-hipertensão:        130 – 139       e/ou        85 – 89

Hipertensão estágio 1:  140-159      e/ou        90-99

Hipertensão estágio 2:  160-199      e/ou      100-109

Hipertensão estágio 3:   180 ou +     e/ou       110 ou +

Observações:

  • Quando a PA máxima e a mínima se situarem em categorias diferentes, usa-se o valor mais alto dos dois para classificar a PA.

  • Se só a PA máxima estiver elevada, denomina-se hipertensão sistólica isolada.

  • Indivíduos com a PA normal devem ser reavaliados uma vez por ano, e aqueles na faixa limítrofe a cada seis meses.

  • A associação com outros fatores de risco deve levar a maior atenção aos níveis de PA, e a um maior rigor no tratamento, mesmo para níveis considerados limítrofes. Nos diabéticos, os limites ideais de pressão são: Menos de 130 para a máxima e menos de 80 para a mínima.

  • Medidas de PA feitas em casa, pelo próprio paciente, tendem a ser um pouco mais baixas que no consultório médico. Neste caso, qualquer valor igual ou maior que 135/85 mmHg já é considerado hipertensão.

  • Na monitoração ambulatorial da pressão arterial (MAPA), em que o medidor fica com o paciente por 24 horas, medindo a cada 15 a 30 minutos, são 3 os valores considerados como normais: Na vigilia, enquanto acordado, até 135/85. No sono até 120/70. E a média de 24 horas: até 130/80. Atenção para o “até”. Valores iguais ou superiores a estes caracterizam pressão alta. O exame deve ser feito num dia típico de trabalho ou outra atividade rotineira.

Alguns aspectos nas medições de PA

  1. O paciente deve estar sentado ou deitado, por pelo menos 5 minutos, em ambiente calmo.

     

  2. O braço deve estar apoiado num nível equivalente ao do coração; se deitado, apoiado no leito, e se assentado, apoiado numa mesa ou suporte.

     

  3. Na primeira consulta, mede-se a PA 3 vezes, com intervalo de um minuto entre cada medida, e considera-se a média das duas ultimas medidas, desprezando-se a primeira .

     

  4. Também na primeira consulta, mede-se a PA nos dois braços e considera-se o valor que for mais elevado. Na maioria das pessoas (mas não em todas), a PA no braço direito é um pouco maior que no braço esquerdo. Essa diferença pode ser de até 10 a 20 mmHg. Se acima disso, há necessidade de investigação adicional, pois existe a possibilidade de alguma obstrução .

     

  5. Quando se encontra a PA elevada pela primeira vez, nunca se deve basear nas medidas feitas num único dia; faz-se pelo menos mais uma ou duas medidas, com intervalos de um mês, antes de se concluir pelo rótulo de “pressão alta”. Exceção é feita aos casos severos (ex.: estágio 2), que necessitam tratamento imediato.

     

  6. O idoso tem maior tendência a oscilações de PA. Se o paciente é idoso, ou se faz uso de certos medicamentos não cardiológicos como antidepressivos, ou medicação cardiológica como vasodilatadores ou remédios para baixar a pressão, esta deve ser medida também na posição de pé.

     

  7. Evitar mangas de camisa apertadas ou arregaçadas comprimindo o braço. O manguito é colocado sobre o braço nu. A palma da mão deve ficar voltada para cima e o cotovelo ligeiramente dobrado. As pernas devem estar descruzadas e, se a medição for na posição assentada, os pés devem estar apoiados no chão e o dorso recostado e relaxado. Não conversar durante a medição.

     

  8. Obesos com perímetro muito grande do braço podem necessitar manguito especial, maior, ou correções apropriadas. A parte de borracha (inflável do manguito) deve cobrir de 75 a 100% do perímetro do braço. Caso isso não seja feito, as medidas serão falsamente mais altas.

     

  9. Os valores medidos podem ser influenciados por exercício, tensão, agitação, ambientes muito frios ou muito quentes e por café e tabagismo. Numa medição ideal deve-se abster pelo menos meia hora antes de , refeições pesadas, bebidas alcoólicas, cigarro e café. Evitar exercícios físicos  até 90 minutos antes. Evitar também o desconforto causado por uma bexiga muito cheia.

     

  10. Todos os valores de PA são atualmente expressos em milímetros (mm) de mercúrio (Hg, de hydrargyrus, que é mercúrio em latim); então fica: mmHg. Exemplo: PA de 110/80 mmHg, lê-se: pressão arterial de cento e dez por oitenta milímetros de mercúrio, ou simplesmente PA de cento e dez por oitenta. Popularmente, usa-se também dizer “onze por oito” (cortam-se os zeros), o que na realidade seria em centímetros de mercúrio. Portanto todos os valores de PA são expressos em mmHg.

     

  11. A PA classificada como “pré-hipertensão” serve para identificar indivíduos que irão se beneficiar de melhoras nos hábitos de vida, e mesmo aqueles que poderão necessitar medicação nessa faixa se condições associadas estiverem presentes (ex.: diabete ou disfunção renal).

Tratamento da HA

Existem algumas causas (a minoria) passíveis de cura definitiva de hipertensão, como por exemplo alguns problemas glandulares ou renais, ou alcoolismo elevando a PA. Nesses casos, a HA é chamada de secundária e tende a se normalizar após identificada e corrigida a causa. Os outros casos (a maioria) em que não há cura definitiva, mas possibilidade de controle adequado, são chamados de HA primária.

O tratamento da HA, uma vez confirmada, e afastadas as causas passíveis de cura, é para a vida toda. O objetivo é baixar a PA para menos de 140/90. (nos diabéticos, o ideal se tolerado é abaixo de 130/80). Além do diabete, outros fatores de risco associados exigem uma menor tolerância a níveis apenas um pouco elevados ou mesmo limítrofes.

Em idosos com hipertensão sistólica isolada procura-se reduzir a PA máxima tendo-se o cuidado de não abaixar demais a mínima (que não deve ir para menos que 65 a 70 mmHg). Nestes casos, pode-se ter que aceitar uma PA máxima de 140 a 150 na posição assentado para que a PA máxima e a mínima não caiam demais na posição de pé (ex.: mínima de 60), levando a tonteiras e risco de quedas, além de redução da perfusão do coração e cérebro. Então em idosos pode ser necessário buscar uma PA alvo individualizada, levando-se em consideração fragilidade e tolerância ao tratamento.

Existem dois níveis de tratamento:

Nível 1: Tratamento não medicamentoso, ou não farmacológico

Visa mudanças em certos hábitos de vida e situações que podem estar contribuindo para elevar a PA, incluindo medidas comportamentais. Devem ser instituídas em todos os casos de HA, e muitas são também recomendadas à população em geral, como medidas de promoção de saúde.

Incluem:

  • Restrição de consumo de sal a um máximo de 5 gramas por dia, o que corresponde a 2 gramas de sódio.

  • Incentivo à prática de exercícios físicos regulares e moderados, não extenuantes. Atividades aeróbicas de intensidade leve a moderada, feitas no mínimo 3 vezes por semana, durando de 30 a 45 minutos (ideal 150 min por semana), podem reduzir tanto a PA máxima quanto a mínima (5/8mmHg). Este benefício significa poder reduzir os remédios que se toma para a pressão alta, e, em alguns casos, suspendê-los. Exercícios resistivos (aparelhos e pequenos pesos) também ajudam (4mmHg). Evitar cargas excessivas (>20kg) que podem aumentar a pressão. Mas atenção! Se os exercícios forem interrompidos, a PA voltará ao que era antes.

  • Abolição completa do tabagismo.

  • Redução do peso corpóreo, se excessivo, e especialmente da gordura abdominal. Dentro de certos limites, para cada kilo de peso em excesso que se perde, a PA sistólica se reduz numa média de 1,6 mmHg e a diastólica 1,1 mmHg.

  • Controle rigoroso de fatores de risco associados, como colesterol alto e diabete.

  • Redução do nível de stress e competitividade.

  • Eliminação ou substituição de pílulas anti-concepcionais, hormônios e outros medicamentos e substâncias que possam estar elevando a PA, se for o caso .

  • Estímulo ao consumo de hortaliças e fibras. Uma “dieta de combinação”, rica em grãos, frutas, hortaliças e laticínios desnatados, pobre em colesterol, gordura total e gordura saturada, rica em fibras, potássio, cálcio e magnésio, e moderadamente rica em proteínas, é a dieta ideal para o hipertenso. Esta dieta, chamada DASH (da sigla em inglês para Abordagens Dietéticas para Sustar a Hipertensão) mostrou que por si só, independente de ter ou não menos sal, é capaz de reduzir a PA máxima em até 11,4 mmHg e a mínima em até 5,5 mmHg.

  • Na síndrome de apnéia obstrutiva do sono, que pode ser uma causa de HA, o uso do CPAP é benéfico em reduzir a PA.

Benefícios possíveis em reduzir a PA:

  • Técnicas de relaxamento e meditação, yoga, biofeedback e em alguns casos, apoio psicoterápico. Na yoga, evitar posturas que levem a esforço isométrico e a apnéia (interrupção mais ou menos prolongada da respiração) .

  • Suplementos de cálcio e magnésio: são ainda motivo de discussão quanto a um possível benefício na PA. Cálcio costuma ser prescrito na terceira idade, principalmente nas mulheres pós-menopausa, para reduzir a progressão da osteoporose. Não se deve usá-lo sem receita médica.

  • O potássio pode ser benéfico para hipertensos , principalmente se usam diuréticos (promove redução discreta de PA). Deve ser ingerido sob a forma de alimentos ricos em potássio, ou em certos casos sob a forma de sais de potássio.

  • Outros alimentos que poderiam ter um efeito discreto reduzindo a PA são: alho, azeite de oliva, chocolate amargo e proteína de soja.

Dependendo do nível de PA, e do grau de adesão a estas medidas, elas podem ser suficientes para trazer a PA à faixa normal. Mas devem continuar por toda a vida. Se houver novamente excesso de peso, por exemplo, a PA provavelmente voltará a elevar-se.

Se as medidas não farmacológicas não forem suficientes, elas são mantidas, e passa-se ao Nível 2.

Nível 2: Tratamento medicamentoso ou farmacológico

É sempre associado ao Nível 1, e consta na introdução de medicamentos em doses progressivas, isolados ou associados, até o pleno controle de PA, e que em princípio deverão ser tomados indefinidamente. Se suspensos, a PA tornará a se elevar, mais cedo ou mais tarde. Alguns pacientes com controle considerado ótimo podem ter sua medicação com o tempo reduzida. Na maioria dos casos em que foi possível a suspensão total da medicação e a PA permaneceu normal, provavelmente o paciente passou a seguir de modo adequado o Nível 1 (que não havia sido tentado corretamente antes), ou houve precipitação na introdução da medicação, ou diagnóstico errôneo de hipertensão.

Se o Nível 2 for introduzido sem se associar ao Nível 1, pode-se eventualmente conseguir o controle da PA, mas neste caso haverá necessidade de doses maiores de remédios, a um custo maior, e com mais chances de efeitos colaterais. É pois uma atitude pouco saudável para o bolso e para saúde.

Após iniciado um medicamento, deve-se esperar pelo menos quatro semanas, para que ele atinja seu pleno efeito, antes de concluir se ele foi ou não eficaz.

Alguns medicamentos para tratar a HA, como os beta-bloqueadores, podem ser menos eficazes em hipertensos que fumam.

Uma vez diagnosticada a HA e iniciado o tratamento, são feitas medidas periódicas da PA (geralmente mensais, mais amiúde nos casos mais severos),  até que se consiga sua normalização. A partir daí são feitos novos controles a cada 3 a 4 meses (isto é, de 3 a 4 vezes por ano) indefinidamente.

Um esquema mínimo é controlar a PA com o médico pelo menos 2 vezes por ano: uma no verão, outra no inverno. Pode haver necessidade de ajuste dos remédios, pois no verão há dilatação dos vasos com o calor e com isto a PA pode diminuir. Já no inverno, pode ocorrer o contrário, pois o frio contrai os vasos e pode fazer a PA subir.

Portanto, com exceção dos casos muito graves ou complicados, que podem exigir internação ou controle mais amiudado, não se justifica medir indefinidamente a PA várias vezes por semana, (ou até por dia), como alguns imaginam.

Conceitos e comentários

  1. A PA normal não é um valor fixo, constante em todas as ocasiões. Há pessoas que vão medir a PA e vão logo dizendo: “minha pressão é doze por oito e acabou; se der outro valor está errado”. Estudos modernos com aparelhos que monitorizam a PA durante 24 horas, mostram que as cifras podem variar normalmente dentro de certos limites, sendo um pouco mais elevadas durante as atividades diurnas e um pouco mais baixas durante o sono. Esforço físico, esforço mental, emoções e vários outros fatores contribuem para estas variações. Então, a PA normal é uma faixa de valores, não um valor isolado. É como o ponteiro indicador de temperatura de um carro: pode oscilar dentro daqueles limites do mostrador. Só não pode atingir a faixa vermelha.

     

  2. Em hipertensos jovens, tenta-se evitar ao máximo a introdução do Nível 2. Neste grupo, idealmente esgotam-se todas as possibilidades do Nível 1, antes da introdução de medicamentos.

     

  3. A condição que mais leva a pressão a subir é: a pressão alta! Explicando melhor: a HA é uma condição que tende a se auto-sustentar. E uma HA estágio 1, que não é adequadamente controlada, pode passar com o tempo para o estágio 2. Portanto, quanto mais cedo for iniciado o controle, mais cedo se interromperá este ciclo vicioso retroalimentador.

     

  4. Valores altos medidos em “stands” nas ruas, como parte de programas de detecção e prevenção, são válidos como um alerta de que uma avaliação médica mais detalhada deve ser feita, mas não como uma definição final do “status” da PA.

     

  5. Os diabéticos têm maior possibilidade de serem também hipertensos, e a HA piora os efeitos do diabete sobre o sistema cardiovascular. Portanto, neste grupo, a PA deve ser rigidamente controlada.

     

  6. Os obesos são mais frequentemente hipertensos, devido a fatores hemodinâmicos, endocrinológicos e por serem mais sensíveis ao sal da alimentação. Pressão alta é pelo menos 2 vezes mais frequente neste grupo do que nos não obesos. Excesso de peso pode aumentar a PA inclusive em crianças e adolescentes.

     

  7. Sintomas relacionados com a pressão alta: O maior problema da HA é exatamente não provocar sintomas, na maioria dos casos, podendo com isto retardar o diagnóstico e o tratamento. Os sintomas geralmente só aparecem quando a PA está muito elevada, ou quando ocorrem complicações. Diante disto, não tente tirar conclusões sobre sua PA baseando-se no que você sente. Queixas popularmente relacionadas com pressão alta ou baixa, como insônia, sonolência, ansiedade, palpitações e muitos dos casos de dor de cabeça, tem pouca correlação com os níveis de pressão encontrados.

     

  8. Os negros têm mais chance de serem hipertensos graves do que a população geral, e devem ser acompanhados com especial cuidado, se for notada elevação de PA. Ressalte-se, no entanto, que o grau de miscigenação no Brasil é elevado, sendo menos marcantes essas diferenças no comportamento da PA entre brancos e não brancos, em relação a outros países.

     

  9. O mecanismo pelo qual os exercícios reduzem a PA pode ser através da dilatação dos vasos, que ocorre durante e após o período de esforço. Em geral, no estágio 2, só se inicia um programa de atividades físicas após a PA ter sido reduzida com medicamentos. Em todos os estágios, só iniciar após liberado pelo médico, que terá feito avaliação adequada do caso. Os melhores exercícios para o hipertenso são: os chamados esportes de percurso (ex.: caminhadas, corridas leves, ciclismo no plano); a natação (não competitiva); o golfe; a maioria dos esportes coletivos, desde que praticados mais como recreação do que como competição; e a ginástica livre, todos iniciados de forma lenta e gradual, sempre precedidos por período de aquecimento e seguidos por desaquecimento adequado. Até mesmo atividades físicas informais podem ajudar, como caminhadas para as compras e jardinagem, desde que totalizem meia hora por dia. Exercícios resistivos (“isométricos”) também podem ajudar fazendo parte de um plano global de atividades físicas, desde que com cargas leves. Musculação com cargas pesadas (>20kg) e halterofilismo são totalmente contra-indicados, pois aumentam a PA.

     

  10. Deve-se tomar os remédios para pressão alta mesmo nos dias em que eventualmente se consumir bebida alcoólica, claro que em doses “educadas”.

     

  11. Uma prática comum, e sem qualquer fundamento, é a do hipertenso que deixa de tomar o remédio exatamente no dia da nova consulta médica.         O médico precisa examiná-lo sob efeito do remédio (inclusive no dia da consulta), para verificar se este está agindo adequadamente.

     

  12. Nunca interromper o tratamento “porque o remédio acabou”.

     

  13. Muitas mulheres se apresentam como tendo “pressão baixa”. O que frequentemente ocorre é que elas costumam ter um braço muito fino, e com isto o aparelho tende a dar medidas mais baixas que o valor real, ao contrário dos obesos que tendem a mostrar valores mais altos que a realidade. Na maioria destes casos de “pressão baixa”, a PA real é normal, não havendo qualquer anormalidade ou situação de risco.

     

  14. Certos casos de PA muito oscilante, ou de dúvidas quanto à presença ou não de HA, irão requerer a medida da PA por 24 horas. É o exame conhecido por MAPA (sigla para Monitoração Ambulatorial da Pressão Arterial ). Também pode ser feita a automedida residencial, pelo próprio paciente, desde que previamente aferida num primeiro momento com o médico. Estas duas medições ( MAPA e residencial) são especialmente úteis quando se suspeita de hipertensão de consultório (ou do avental branco) que é quando a PA está alta no consultório e normal em casa. Ou,por outro lado, se suspeita de hipertensão mascarada (que é o contrário, a pressão está normal no consultório e alta em casa).

     

  15. Como o calor tem efeito vasodilatador e o frio vasoconstritor, no verão a PA costuma baixar e no inverno subir (média de 5/3mmHg mas pode ser mais acentuada em hipertensos tomando medicação). Essa variação também pode acontecer em viagens de um lugar quente para um lugar frio, ou vice-versa. Pode ser necessário algum ajuste dos remédios, para mais ou para menos, nessas situações.

     

  16. Hipertensão sistólica isolada ( máxima de 140 ou mais e mínima <90) pode acontecer nos muito idosos ( refletindo um enrijecimento das grandes artérias com aumento na pressão de pulso, que é a diferença entre a máxima e a mínima). E também nos hipertensos adolescentes e adultos jovens, talvez por maior ativação do sistema nervoso simpático, entre outras possibilidades. Independente da idade e do mecanismo envolvido, o controle apropriado da hipertensão sistólica isolada resulta a longo prazo em redução da morbidade e mortalidade.

Medidas de PA fora do consultório médico:

Em casa

Medir a PA em casa e no trabalho, pelo próprio paciente ou familiar treinado, pode ser útil e tem sido cada vez mais usado como um método auxiliar de controle. É a chamada Monitoração Residencial da Pressão Arterial (MRPA). Geralmente as medidas feitas em casa, em um ambiente mais relaxante, no qual o paciente está mais familiarizado, mostram valores um pouco mais baixos que as medidas de consultório, e isto deve ser levado em conta.

Os aparelhos usados (esfigmomanômetros) geralmente são:

  • Aparelhos eletrônicos com mostrador digital: No início, tinham confiabilidade medíocre, e causavam muita confusão. As medidas eram as mais discrepantes possíveis, mesmo com diferença de minutos entre uma tomada e outra. Os aparelhos têm melhorado tecnicamente, mas requerem uso adequado, que inclui cuidadosa colocação do manguito no braço. Alguns são de origem e qualidade duvidosas. Caso você opte por usá-los, faça-o somente com aparelhos de boas marcas, e nunca, mas nunca mesmo se baseie nessas medidas para modificar a medicação por conta própria. Na dúvida com seu aparelho, leve-o na próxima consulta e peça a seu médico para medir sua PA com o equipamento dele, e com o seu, estabelecendo uma margem de erro aceitável. Alguns aparelhos já testados e confiáveis são, entre outros, os da marca Omron® , em especial os modelos de braço (melhor os de braço) Control+HEM 7122 e Elite + 7320. Tem ainda o de pulso Control HEM 6124 (de pulso pode ser útil, mas menos ideal) Estes comentários se referem aos medidores digitais com manguito de braço e pulso. A maioria dos aparelhos “de dedo”, e os de polpa digital e os de relógios de pulso não são confiáveis, no momento.

  • Aparelhos convencionais: medidores aneróides usados junto com o estetoscópio: Seu uso requer treinamento específico. Os pacientes que  optam por utilizá-los geralmente são da área de saúde, ou tiveram um treinamento apropriado. Se este não for o seu caso é melhor não optar por estes modelos, que além do mais requerem calibração periódica. Frequência das medições em casa: Se a PA está sob controle, medir um dia por mês é o suficiente. Escolha um mesmo dia todo mês e meça duas vezes, uma pela manhã, antes de tomar a medicação, e outra no final da tarde ou à noite. Mais do que isto só se surgir algum fato novo ou sintoma que justifique. Se a PA ainda não foi adequadamente controlada, medir um ou dois dias por semana (no café da manhã e à noite, anotar e levar ao médico quando voltar para consultar. No início pode ser necessária medição diária, mas cuidado para não virar uma rotina permanente, senão se torna uma neura que, esta sim pode elevar a PA!

Em farmácias

O recurso de se medir a PA em farmácias é usado por aqueles que necessitam medi-la mais frequentemente do que as visitas ao médico, e não têm como fazê-lo de outra forma. Porém, isto às vezes pode ser um problema, se o pessoal e o equipamento utilizado não forem confiáveis. Além do mais, estas medidas podem servir como acompanhamento, mas não como parâmetro para se modificar a medicação, o que deve ser feito apenas pelo médico.

Pílula anti-concepcional e HA

A pílula pode aumentar a pressão em certas mulheres predispostas com PA previamente normal, e também nas já hipertensas, dependendo dentre outros fatores do potencial genético e tendência familiar, idade, peso corpóreo, tabagismo e tempo de uso do anticoncepcional. Os mecanismos ainda não são conhecidos. O aumento médio pode ser de 6/3mmHg. As novas pílulas em microdosagens, atualmente disponíveis, tendem a elevar menos a PA, têm risco cardiovascular menor, mas não ausente, e também exigem controle periódico (visitas ao ginecologista, geralmente de 6 em 6 meses, ou mais freqüentemente, se necessário).

É cada vez maior o uso de pílulas por adolescentes, podendo haver elevação de PA mesmo neste grupo etário. Isto pode ser uma preocupação, visto que muitas destas adolescentes não fazem qualquer controle médico.

As pacientes acima de 35 anos, que tenham excesso de peso, forte história familiar de hipertensão ou que fumam, devem fazer um controle especialmente rigoroso, caso usem a pílula, e de preferência não devem usá-la. O mesmo cuidado se aplica às com forte histórico familiar ou pessoal de tromboses de veias, flebites e embolias, e às portadoras de varizes acentuadas. Por outro lado, há casos de mulheres não fumantes, com PA sempre normal e com baixo risco cardiovascular, que tomam pílula até à menopausa sem problemas.

Se a mulher que tinha pressão normal vier a tornar-se hipertensa com o uso da pílula, sua suspensão está indicada, podendo haver uma demora de até seis meses para que a PA se normalize, após a interrupção. Se esta interrupção não for possível por qualquer motivo, incluindo recusa da paciente, ou não for suficiente para normalizar a PA, a hipertensão neste caso é tratada da mesma forma como já foi discutido para os hipertensos em geral, incluídos os Níveis 1    e 2.

A mulher que já era previamente hipertensa deve primeiro tentar outros métodos anticoncepcionais, que não a pílula. Se for imperativo o seu uso, dá-se preferência às pílulas com baixas doses de estrógenos; a PA deve estar antes bem controlada com medicamentos, e deve ser checada no máximo a cada 3 meses. Se no acompanhamento houver elevação de PA com necessidade de aumento nas doses dos remédios para a pressão, o melhor a fazer é suspender definitivamente a pílula.

A associação pílula-cigarro é especialmente maléfica para o sistema cardiovascular, pois os possíveis problemas decorrentes do seu uso se potenciam (aumenta em 10 vezes o risco). Fuja dela!

Hormônios femininos, reposição hormonal na pós-menopausa e HA

Atualmente a reposição hormonal no climatério e menopausa tem a função principal de alívio de sintomas. Como esses sintomas são muito variáveis de mulher para mulher, desde ausentes até muito intensos, a necessidade da reposição hormonal bem como o tempo de uso também poderá variar muito.

São prescritos estrógenos isoladamente se a mulher se submeteu à retirada do útero (histerectomia), ou estrógenos e progestágenos em associação se a mulher ainda tiver útero, para não haver aumento do risco de câncer deste órgão (aumento de 2 a 4 vezes, em relação às mulheres que não usam estrógenos).    O uso de hormônios também poderia levar a um aumento do risco de câncer de mama.

Estes hormônios só devem ser receitados e seu uso devidamente acompanhado por um ginecologista, sendo que a decisão final quanto usá-los ou não é sempre da própria paciente. Antes de prescrevê-los, o médico fará um balanço dos prós e contras, de cada caso, levando em conta o contexto pessoal e o familiar (relatos de problemas cardíacos ou de câncer de mama e de útero em parentes próximos). Serão considerados, por um lado, os fatores de risco cardiovascular e, por outro lado, o risco de câncer ginecológico.

Pode ocorrer perda ou ganho discreto de peso com a reposição hormonal. Há também maior risco de trombose de veias, podendo os hormônios serem contraindicados se a paciente tem um importante histórico familiar ou pessoal de tromboses, flebites ou embolias, além de varizes acentuadas.

Como outros problemas decorrentes são citados aumento ocasional dos triglicérides (média de 10 a 15%) e aumento de 50% no risco de cálculos na vesícula biliar. O efeito dos hormônios sobre a PA é variável: esta pode ficar inalterada, se reduzir ou, em algumas mulheres predispostas (menos de 5% delas), se elevar discretamente (mais raro com os hormônios usados atualmente).

Nas mulheres com PA normal, durante o uso dos hormônios, faz-se o controle da PA da mesma forma que com o uso da pílula. Caso se observe elevação, pode-se tentar mudar o tipo de hormônio, a dosagem ou a via de administração (preparados transdérmicos tendem a influenciar menos a PA. Caso haja elevação de PA com o uso de hormônios e por algum motivo se opte por não suspendê-los, deve-se tratar da pressão alta da mesma forma como já descrito, incluídos os Níveis 1 e 2.

A prescrição de hormônios na pós-menopausa para mulheres já hipertensas previamente pode ser feita, mas neste caso deve ser pesada a relação risco/benefício em cada paciente individualmente e com PA já controlada por medicação específica.

“Sê moderado no beber, considerando que o vinho em excesso, nem guarda segredos, nem cumpre promessas.”

Dos Conselhos de Don Quixote a Sancho Pança. Em Don Quixote de la Mancha,
de Miguel de Cervantes Saavedra

Álcool e HA:

O abuso de álcool pode ser um dos motivos de falha em um tratamento anti-hipertensivo. Bebidas alcoólicas, ingeridas em excesso, podem elevar a pressão por mecanismos ainda não bem compreendidos (talvez por aumento na circulação de substâncias do grupo da adrenalina e dos corticóides).

Álcool pode ser a causa única de hipertensão arterial em muitos pacientes (estima-se que até 10% dos casos, percentual este maior que a soma de todos os outros casos de HA secundária). Este efeito “hipertensor” é reversível, e a PA tende a se normalizar com a interrupção da ingestão alcoólica em excesso. Além de aumentar a PA, o excesso alcoólico leva a um aumento na incidência de acidentes vasculares cerebrais, arritmias cardíacas e insuficiência cardíaca.

Se esta era a única causa de elevação da pressão, esta tenderá a voltar aos níveis normais após parar de beber. Se o paciente já era hipertenso previamente, e o álcool estava piorando sua hipertensão, haverá pelo menos uma redução parcial nos níveis pressóricos, ao parar.

Nos hipertensos e pacientes cardiológicos em geral, o consumo de bebidas alcoólicas não deveria ultrapassar 20 a 30 gramas de álcool por dia, que correspondem aproximadamente a:

  • Cerveja: 720 ml (uma garrafa tem 600 ml e uma lata 350 ml) (cerveja tem   4 gramas de álcool em cada100 ml).

  • Uísque, cachaça, vodka: 60 ml (uma dose tem 45 ml; destilados têm geralmente 40 gramas de álcool em cada 100 ml).

  • Vinho: 240 ml (uma taça média tem 120 ml e uma garrafa 600 a 750 ml) (vinho tem de 9 a 12 gramas de álcool em cada 100 ml; vinho do porto tem 19 gramas em cada 100 ml).

O diabético bem controlado que, se liberado por seu médico, vier a ingerir as doses máximas acima, deve fazê-lo sempre acompanhado de alimentação, nunca em jejum, devido ao risco de hipoglicemia.

Pode haver grandes variações na tolerância ao álcool, de pessoa para pessoa (as mulheres tendem a tolerar menos, porque metabolizam o álcool mais lentamente, e também porque têm geralmente menor massa corporal que os homens). E de tempos em tempos na mesma pessoa (ex.: algumas mulheres no período pré-menstrual). Pode haver ainda interações negativas com medicamentos comumente usados pelo hipertenso, como vasodilatadores e ansiolíticos, gerando efeitos adversos desagradáveis e até perigosos. Outro problema é a acentuação pelo álcool do efeito dos remédios para baixar a pressão, provocando queda excessiva da PA. A associação do álcool com aspirina leva a maior risco de irritação gástrica.

Existem ainda situações em que as bebidas alcoólicas estão simplesmente contra-indicadas, e devem ser totalmente abolidas, como:

  • diabete descompensado, ou de difícil compensação;

  • triglicérides muito elevados;

  • úlcera gástrica ou duodenal ativa;

  • pancreatite;

  • doenças agudas e crônicas do fígado;

  • antecedentes pessoais de dependência alcoólica;

  • deficiências imunológicas;

  • e outras, que impedem o uso do álcool temporária ou definitivamente.

Existem evidências de que o uso discreto de bebida alcoólica poderia melhorar o nível de HDL-colesterol no sangue. Mas, dependendo da sensibilidade individual, pode haver aumento dos triglicérides. Os cardiologistas não estão autorizados no momento a “receitar” bebida alcoólica. Não existem até agora evidências que apoiem a recomendação de consumir álcool para aqueles que não o fazem. O que deve ser feito é o controle do consumo, para que não se excedam as doses recomendáveis, e o esclarecimento de que o uso discreto pode ser benéfico, sem perder de vista que, neste caso, o limite entre prevenir doença e provocar doença pode ser muito frágil. A preocupação maior é com o excesso, e não com a falta.

Se você está em dieta para emagrecimento, o álcool corresponde a uma ingestão calórica extra, engordando sem nutrir, pois é uma “caloria vazia”.

Veja a correspondência:

  • uma garrafa de cerveja (600 ml) tem 252 calorias;

  • uma taça de vinho (120 ml) tem 100 calorias;

  • uma dose de uísque ou cachaça (45 ml) tem 126 calorias.

Sal (cloreto de sódio, sal de cozinha) e HA

O sódio é um mineral, e um dos responsáveis pela regulação dos líquidos do corpo. Se ingerido em excesso, pode causar retenção destes líquidos, o que pode aumentar a pressão arterial e o trabalho do coração. Cada grama do sal de cozinha contém 40% de sódio (400 mg). O gosto pelo sal não é uma coisa nata, isto é, não nascemos com ele. Ao comermos com sal desde a infância, adquirimos o gosto (e o hábito) da comida com sabor salgado.

Sal em excesso pode elevar a PA em pessoas predispostas, e dificultar o tratamento da pressão alta, “bloqueando” o efeito dos medicamentos. As pessoas de alimentação “ocidental”, ingerem de 8 a 15 gramas por dia (no Brasil, a média é de 12 gramas por dia). Esta quantidade é muito acima daquela que o organismo necessita, que é no máximo de 2 gramas por dia, o que já existe naturalmente nos alimentos, mesmo antes de serem preparados.

                                                        Para os hipertensos, o limite recomendável de consumo de sal é de 5 gramas  por dia (correspondente a 2,0 gramas ou 2000 mg de sódio) sendo 2 gramas já existentes previamente nos alimentos, e um máximo de 3 gramas acrescentados na cozinha ( em uma tampa de caneta BIC cabe um grama de sal; uma colher “rasa” das de café tem 2 gramas de sal e uma colher “rasa” das de chá tem        4 gramas de sal). Nada se deve acrescentar à mesa. Este limite deveria ser estendido a toda a população, pois pode ajudar a prevenir o aparecimento de hipertensão em pessoas sob risco, como as com forte história familiar de  pressão alta.

Uma dieta com menos sal (hipossódica) é fundamental na melhoria dos níveis de saúde de todas as pessoas, tenham elas pressão alta, normal ou “baixa”. Esta recomendação facilita inclusive a adoção do menor consumo de sal por toda a família, sem a necessidade de se fazer “comida separada”, bastando que todos se habituem ao novo sabor da refeição. A redução moderada é perfeitamente exequível, não sendo prudente comer-se totalmente sem sal.

Descobriu-se que existem dois tipos de pessoas, com relação à sensibilidade ou não ao sódio. Há aquelas sensíveis ao sódio, que têm sua pressão elevada quando o ingerem em excesso. E aquelas não sensíveis ao sódio, cuja pressão não se modifica, independente da ingestão de sal maior ou menor. Como não    se sabe de antemão quem pertence a um ou outro grupo, é melhor não arriscar, e seguir os princípios básicos já comentados sobre uma dieta com baixos níveis de sal.

Existem aqueles que acham que quando comem com pouco sal “sentem-se fracos”, o que não tem qualquer fundamento. Certas tribos indígenas têm dieta com teor de sódio bastante baixo, e nem por isto os índios são “fracos”. Um estudo internacional sobre sal (o estudo Intersalt) mostrou que os índios do Xingu só ingerem 1 a 2 gramas de sal por dia, e muito potássio. O resultado: são uma das poucas populações do mundo que não têm problemas de pressão alta.

Uma barreira prática para se reduzir o sal na dieta é que ele, além de ser um tempero, é o mais barato conservante que existe, sendo usado com ambos os fins em alimentos industrializados, embutidos, enlatados, e comida processada em geral.

Deve-se cobrar da agroindústria a adição de menos sal aos seus produtos, buscando formas mais saudáveis de conservá-los.

Alguns alimentos que contém doses significativas de sal, e que devem ser consu-midos com moderação, ou dependendo do caso, evitados pelo hipertenso, são:

  • bacalhau seco, carne seca, charque, bacon, paio;

  • embutidos como salsicha, linguiça, salame, presunto;

  • enlatados como enchova, sardinha, azeitona;

  • batatas “chips”, “TV chips” em geral e biscoitos tipo “cocktail”;

  • búrgueres, a maioria das pizzas e vários outros tipos de “fast-food” (exemplo: um lanche de hambúrguer com fritas e milk-shake tem 2,5 gramas de sal);

  • temperos industrializados como molho inglês, shoyu, ketchup, mostarda;

  • picles e conservas;

  • pipoca com sal, amendoim com sal;

  • vários tipos de queijo (ricota, queijo branco e queijo tipo “cacio cavallo” costumam ter menos sal);

  • caldo de carne e galinha em cubos; missô (pasta de soja).

  • sopas prontas;

Observações:

1

A maioria das águas minerais naturais têm pequena quantidade de sódio (sódio total inferior a 100 mg/litro) e não representam uma ameaça para o hipertenso. Entretanto existem algumas que são ricas em conteúdo salino (até 425 mg/litro), e devem ser evitadas.

2

Alguns adoçantes artificiais contém sódio. Muitos dos comercialmente disponíveis possuem de 80 a 120 mg de ciclamato de sódio e de 60 a 90 mg de sacarina sódica por mililitro. Não existe maior problema, se você é hipertenso, em usar até 20 a 30 gotas destes adoçantes por dia (quantidade que daria para adoçar de 2 a 3 cafezinhos e mais 2 copos de suco de laranja). Mas se o seu consumo for maior,(e incluir também outros alimentos adoçados com ciclamato ou sacarina), é melhor optar por adoçantes do tipo aspartame ou sucralose, que não contém sódio.

“Comida de hospital”

Muitos se queixam de que a dieta hipossódica parece “comida de hospital”, sem sabor e sem atrativos.

Como o sal contribui para realçar o sabor dos alimentos, há a necessidade de se buscar alternativas. Alguns ingredientes que podem ser usados para deixar a comida mais saborosa, e que têm pouco ou nenhum sal, são:

  • alho, cebola, aipo, raiz forte (wasabi);

  • gengibre, noz-moscada, colorífico;

  • páprica, pimentão, chilli, pimentas em geral, (se não houver problemas de intolerância gástrica);

  • azeite de oliva;

  • limão, vinagre comum, vinagre balsâmico;

  • cebolinha, salsa, coentro, louro, sálvia, hortelã, alecrim;

  • curry, cúrcuma, açafrão, cominho (Kümmel), cravo, canela, erva-doce, endro (dill);

  • orégano, manjericão, manjerona, estragão, alfavaca, tomilho, segurelha, cerefólio, cardomomo;

  • e outras ervas finas em geral, frescas ou secas, puras ou misturadas.

Como se vê, comida não salgada não significa comida não saborosa.

Frutas e hortaliças frescas, vegetais em geral, peixe fresco, carnes magras e frescas de boi e frango, não processadas, e grãos (arroz, feijão, trigo, milho, aveia, lentilha, etc.) contém relativamente pouco sal, e contém potássio, que é perdido nos processos de industrialização dos alimentos. Estes processos “lavam” o potássio e acrescentam sódio. Portanto, em geral os alimentos naturais contém pouco sal e mais potássio, e os industrializados mais sal e menos potássio. Gorduras e açúcar contém pouco ou nenhum potássio.

E deficiências alimentares de potássio, magnésio e cálcio têm sido suspeitas de serem facilitadoras do aparecimento de transtornos cardíacos e da PA em pessoas predispostas. Já existem evidências suficientes para se recomendar aos hipertensos o consumo generoso de alimentos ricos em potássio, como os descritos acima, principalmente se fazem uso de diuréticos.

A ingestão diária recomendada de potássio é de um mínimo de 3500 mg (ingerida através de alimentos ricos em potássio), desde que não se tenha problemas renais. Quanto ao cálcio, a ingestão diária ideal é estimada em 1.000 mg para adultos abaixo de 50 anos e 1.200 mg para adultos acima de 50 anos, mas visando principalmente a prevenção da osteoporose (aqui, pode ser necessário tomar suplementos de cálcio para atingir este nível de ingestão) . Neste aspecto, comer com pouco sal também ajuda, pois isto diminui a perda urinária de cálcio.

São especialmente ricos em potássio: laranja, banana, morango, uva, mamão, melão, limão, tomate, batata, cenoura, couve-flor, espinafre, brócolis, couve, repolho, água de coco.

Algumas frutas secas (que não foram industrializadas, apenas desidratadas) também têm bastante potássio: damascos, figos e ameixas secos, e uvas e bananas passas.

Não use saleiro à mesa. Caso você seja hipertenso e sinta necessidade de adicionar um pouco de sal a alimentos que “pedem uma pitadinha” como ovo cozido, batatas, etc., prefira para uso eventual, e se liberado do médico, sais dietéticos, mas sem abusar, pois apesar de terem menos sódio, eles têm sódio. De cada grama do produto, de um terço a um quinto é sal mesmo; o restante é cloreto de potássio.

Glutamato monossódico, encontrado no comércio como substituto do sal, contém sódio da mesma forma, devendo também ser usado com restrição. Este produto é acrescentado a muitos alimentos processados e especialmente à comida chinesa.

O chamado sal marinho, vendido como produto natural, sob a alegação de que traria menos problemas, nada mais é do que o sal de cozinha. Apenas não tem o mesmo aspecto do sal a que estamos acostumados, por diferenças no processo de refino. Na verdade, quase todo o sal consumido no Brasil é marinho, isto é, tem sua origem no mar.

Se você evita o saleiro à mesa, acrescenta menos sal na cozinha, e além disto evita excesso de produtos industrializados, não estará “comendo sem sal”, mas ingerindo uma quantidade próxima do “seguro e adequado”.

Medicamentos, substâncias e outras situações que podem eventualmente elevar a pressão arterial:

Sempre que for ao médico, qualquer que seja a especialidade, se você for hipertenso, diga isto a ele.

Existem certos medicamentos e substâncias que podem elevar a pressão. É importante saber disto também se você for tomar algum remédio por conta própria. Alguns deles são:

  • Pílulas anticoncepcionais e hormônios femininos mereceram uma seção à parte, e já foram comentados;

  • Antiinflamatórios, se usados por tempo prolongado, ou por pessoas sensíveis, podem elevar a PA, e também atenuar a eficácia de drogas anti-hipertensivas;

  • Descongestionantes e anti-gripais, tanto por via oral quanto nasal. Especialmente perigoso é o uso de descongestionantes que contém vasoconstritores, por via oral ou nasal, pelos hipertensos que usam beta-bloqueadores. Neste caso podem ser desencadeadas reações hipertensivas graves;

  • Cortisona e corticóides em geral, se usados prolongadamente;

  • Alguns remédios para enxaqueca, à base de ergotamina e derivados;

  • Remédios para a asma, como alguns broncodilatadores;

  • Certos inibidores do apetite (anfetaminas);

  • Alguns antidepressivos com desvenlafaxina e tricíclicos;

  • Bicarbonato de sódio, usado tanto em alimentos quanto como anti-ácido. Cada colher das de chá contém 1 grama de sódio. Seu uso popular para combater a hiperacidez deve ser abolido, pois além de representar um ganho a mais de sódio, (e há pessoas que o usam com regularidade) tem efeito antiácido muito fugaz;

  • Anabolizantes, geralmente usados por halterofilistas e fisioculturistas, e na prática de uso proibido;

  • Cocaína pode causar quadros agudos de hipertensão arterial, acidentes coronarianos e vasculares cerebrais, e arritmias cardíacas;

  • Cafeína em pó e adicionada em “produtos de malhação” e similares (dependendo da dose) – Ressalte-se o guaraná em pó ou barra, muito usado ultimamente. Tem bastante cafeína, e pode elevar a PA e provocar taqui-cardia. Seu uso é totalmente contra-indicado em cardíacos e hipertensos.

“Ao comer,
não pense só no estômago; pense também no coração.”

Quanto ao café, não exceder a 3 a 4 cafezinhos por dia. Cada xícara pequena (de 50 ml) de café tem de 40 a 50mg de cafeína, e hipertensos e cardíacos não devem ingerir mais de 150mg a 200mg por dia. Pessoas que não estão habituadas a tomar café sentem mais o seu efeito de estimulação simpática, como palpitações e aumento de pressão. Já naqueles que fazem uso regular parece haver uma “down-regulation” e sentem menos esses efeitos.

Outras fontes de cafeína são: chá preto (uma xícara de 150 ml contém 50mg), refrigerantes tipo cola (uma lata de 350 ml contém de 30 a 60mg) e chocolate (um tablete de 100g contém 24mg).

Mesmo pessoas sem problemas de saúde não deveriam exceder 250mg de cafeína por dia. Um consumo excessivo pode provocar taquicardia e aumento da pressão arterial (até 5 a 10 mmHg, especialmente se associado a stress). Também podem ocorrer nervosimo, náuseas, insônia e diurese excessiva.

Muitos medicamentos de venda livre, especialmente analgésicos, contém cafeína, de 30 a 100mg por comprimido. Sob prescrição médica, e a curto prazo, não constituem um problema, o que pode acontecer se usados por conta própria, de forma crônica e abusiva.

  • Uso crônico de balas de alcaçuz (contém ácido glicirrízico, que provoca retenção de sal);

  • Alguns anti-ácidos de venda livre contém sódio, e podem representar uma sobrecarga extra de sal. Opte pelos “livres de sódio”(menos de 5mg de sódio por dose). Caso os use por conta própria, procure aconselhar-se com seu médico. Antiácidos podem também interferir na absorção de certos remédios para a pressão alta, como beta-bloqueadores. Portanto, a ingestão de anti-ácidos e remédios para a pressão alta deve estar separada por intervalo de 2 a 3 horas;

  • Carbenoxalona, uma substância usada para tratamento de úlceras do aparelho digestivo.

  • Ginseng em altas doses, ma-huang, erva de São João, yoimbina.

  • Os aditivos químicos dos alimentos industrializados, sejam naturais ou sintéticos, podem ser de dois tipos: conservantes, como o sal e similares. E os cosméticos, que visam mudam o sabor, a forma e o aroma. Deve-se ter de antemão cuidado com ambos, e principalmente identificar se não contem sódio na formulação.

Sexo e HA

Não existe qualquer impedimento a que o hipertenso tenha atividade sexual na frequência que desejar. É importante, no entanto, que a PA esteja pelo menos razoavelmente controlada.

No passado, era frequente que medicamentos para baixar a PA diminuíssem a potência sexual, o desejo sexual ou ambos. Hoje, com os medicamentos mais modernos, estes problemas se reduziram, mas ainda podem ocasionalmente ocorrer. Se for este seu caso, não hesite em conversar francamente com seu médico sobre o assunto, mas seja franco também (com ele e consigo mesmo) sobre o nível de atividade sexual que havia antes de se iniciar o medicamento. Isto é importante, para se avaliar até que ponto o medicamento realmente prejudicou, e se é necessária uma consulta com o urologista.

HA e Comorbidades

Comorbidades comuns nos hipertensos, coexistindo e participando como fator de piora e de complicações, e muitas vezes agindo com nexo causal e formando um ciclo vicioso retroalimentador. Exigem “cuidados redobrados” com a pressão alta e com cada um deles:

  • Obesidade é tão importante que mereceu todo um capítulo à parte.

  • Doença arterial coronária;

  • Acidente vascular cerebral, tanto hemorrágico quanto isquêmico;

  • Insuficiência cardíaca;

  • Disfunção renal;

  • Enfisema pulmonar. Doença pulmonar obstrutiva crônica;

  • Diabete;

  • Dislipidemias (alterações do colesterol e triglicérides);

  • Doenças inflamatórias reumáticas;

  • Transtornos de ansiedade: O stress tem sido associado a pressão alta de forma aguda, e também crônica. Assim pessoas que sofrem de stress permanente podem desenvolver pressão alta a longo prazo.

  • Apneia do sono. É uma condição cada vez mais diagnosticada, que pode piorar uma hipertensão ou dificultar o seu controle. O tratamento foge do escopo de nossa discussão. Mas se for suspeitada, devidamente diagnosticada e tratada pode levar a um melhor controle de pressão alta considerada “rebelde”, que não estava respondendo ao tratamento medicamentoso pleno. Deve ser suspeitada naqueles casos de má qualidade do sono, com consequente sonolência diurna. Também quando há relato de roncos em excesso, e de circunferência do pescoço acima de 43 cm, o que costuma refletir obesidade geral. Muitas vezes uma boa redução de peso já melhora a apneia do sono. Se a circunferência cervical ou do pescoço for acima de 48 cm, o risco de apneia do sono é muito alto. Episódios frequentes de apneia grave durante o sono significam obstrução temporária das vias aéreas superiores e ativação do sistema nervoso simpático, com liberação de adrenalina e outras alterações que elevam a pressão arterial.

Populações afro descendentes: Neste grupo racial, a hipertensão pode ser mais grave e resistente, com danos a órgãos alvo como coração, rins e cérebro em idade precoce. Recomenda-se medir a PA a partir de 18 anos de idade, e iniciar tratamento intensivo (que incluirá mudanças no estilo de vida e medicação) logo que surgir hipertensão confirmada.