Tabagismo

Fatores de Risco

2° Fator de Risco: Tabagismo

Seja um não fumante

Dizem que quando o homem branco chegou às Américas, trouxe aos índios toda a sorte de doenças, como varíola, gripe, etc. Em troca, recebeu deles uma única praga, maior que todas as outras: o hábito de fumar a folha do tabaco. Esta “praga” ataca 12,8% de brasileiros.

Fumantes têm um risco aumentado de terem doença cardíaca. Os danos causados são proporcionais ao número de cigarros fumados por dia (20 ou mais indicam risco até 5 vezes maior) e ao número de anos que se fumou. Este risco se multiplica várias vezes se existem outros fatores associados como hipertensão e colesterol alto. Após 10 a 15 anos de interrupção, o risco será similar ao de um não fumante (após 1 ano sem fumar, o risco de infarto já cai para a metade). Mas certos benefícios começam a ocorrer tão logo se pára de fumar. Mesmo fumantes idosos (os de 65 anos ou mais) se beneficiarão. Conclui-se que a interrupção do tabagismo traz benefícios à saúde em qualquer tempo ou idade. Parar de fumar não só reduz o risco de surgirem doenças provocadas pelo cigarro, mas também reduz a progressão daquelas doenças já existentes.

Os problemas são causados principalmente pela nicotina e monóxido de carbono.

A nicotina aumenta a pressão arterial, a frequência cardíaca, o trabalho do coração e promove constrição dos vasos. O monóxido de carbono da fumaça do cigarro chega a ocupar em até 20% o lugar do oxigênio na circulação. Em comparação ele ocupa 3 a 4% do oxigênio circulante, quando provém do ar poluído das grandes cidades. É considerado grande fumante ou fumante pesado (“heavy smoker”) aquele que acende o primeiro cigarro até cinco minutos depois de acordar, e/ou fuma mais de 20 cigarros por dia.

Os cigarros com filtro e sem filtro não apresentam nenhuma diferença com relação ao risco de doença cardíaca. Este risco também não acaba com o uso de cigarros de “baixos teores” de nicotina e alcatrão, e nem com o uso de charutos e cachimbos.

Conceitos e comentários

Se você não fuma, PARABÉNS!! Tem todo o direito de pular esta sessão, a menos que precise se informar, para influir pessoas amigas fumantes.

Se você fuma, COMO PARAR? O melhor seria simplesmente parar, estabelecendo uma data para fazê-lo. Escolha uma data marcante, como seu aniversário, Ano Novo, etc., e marque duas semanas antes, para dar tempo de se preparar. De preferência numa época em que estiver mais tranqüilo, profissional e pessoalmente. A maior parte dos fumantes que abandonam o cigarro o fazem abruptamente, sem esquemas específicos.

Já outros não conseguirão sem algum tipo de ajuda. Deixar de fumar pode representar um processo físico e mental dos mais difíceis. Isto porque dois grandes mecanismos contribuem para manter a pessoa fumando:

  • O hábito, mecânico, quase automático, (dependência psicológica) de acender um cigarro em determinadas ocasiões, como falar ao telefone, dirigir, ler jornal, tomar café, assistir TV, em situações variadas de tensão, etc. Às vezes é quase um ritual.

  • O vício (dependência física), já comprovado cientificamente, comparável à dependência às drogas e ao álcool. O tabagismo não só causa doenças, mas ele por si mesmo é uma doença: a dependência da nicotina. Então, o que o fumante busca inconscientemente é o alívio dos sintomas de abstinência.

Então, não só a nicotina, mas também fatores psicológicos, sociais e culturais são responsáveis por fazer com que o fumante continue fumando.

Alguns métodos auxiliares para se parar de fumar estão em evidência. Os baseados em estímulos em pontos da orelha, como acupuntura com agulhas e e a laserpuntura não parecem ter qualquer efeito que não manter as pessoas sugestionadas.

Há os métodos químicos, como a reposição de nicotina (por goma de mascar ou adesivos transdérmicos). E drogas como o Zyban (que é da classe dos anti-depressivos, e cujo nome genérico é cloridrato de bupropiona), e o Champix (que é uma droga nova, a vareniclina) que diminuem o desejo de fumar e os sintomas de abstinência à nicotina. E métodos como sessões de aconselhamento e hipnose, e apoio de grupo (“Fumantes Anônimos”, coordenados por ex-dependentes do tabaco)

Todos têm resultados muito variáveis, que dependem inclusive do grau de sugestão envolvido (e assimilado) pelo candidato a não fumante.

Mas todos eles exigem uma boa dose de motivação e força de vontade, sem o que é pouco provável que funcionem.

Os métodos de reposição de nicotina não devem ser usados em casos de infarto recente (menos de 4 semanas), de arritmias ou angina severas, e evidentemente nas grávidas e nas que amamentam. E não são aprovados (assim como também o Zyban Champix) para menores de 18 anos. Mesmo com estas restrições, são sempre mais seguros do que continuar fumando.

As gomas de mascar de nicotina são indicadas isoladamente, para quem fuma pouco, ou ao contrário, para os fumantes “pesados” em associação com os adesivos.

Como têm rápido início de ação, podem ser úteis em situações de emergência, naquelas situações de “fissura” para fumar.

Os métodos de reposição de nicotina manteriam temporariamente o vício (amenizam os sintomas de abstinência, que podem durar de um mês a alguns meses, após se parar de fumar), enquanto o fumante tenta quebrar o hábito, pois não é fácil romper com os dois, hábito e vício, ao mesmo tempo.

Posteriormente, com a redução progressiva da quantidade de nicotina reposta

(ex.: pela redução da dosagem dos adesivos transdérmicos, num processo de “desabituação”) haveria o rompimento também do vício. Os adesivos tem 3 dosagens (7mg, 14 mg e 21 mg) que mantém um certo nível de nicotina circulando continuamente (24 horas). Os usuários 20 ou mais cigarros por dia iniciam com 21 mg, e em intervalos de 2 a 4 semanas passam para os de 14 e depois de 7 mg. Aqueles de 10 a 20 cigarros/dia já começam com 14mg e depois de 2 a 4 semanas passam para os de 7 mg. Em ambos, quando se chega nos de 7 mg usa-se mais 2 semanas e pronto! Chega de adesivos. Abaixo de 10 cigarros/dia são menos necessários . Podem ser úteis na pré-cessação, iniciando entre 2 a 4 semanas antes do dia D ou “oitavo dia” para aqueles que tem dificuldade em marcar a data pra parar, o como veremos a seguir.

A bupropiona não tem nicotina. Age no cérebro, estimulando a liberação da substância dopamina, que ajuda a aliviar a irritabilidade, e a depressão provocadas pela síndrome de abstinência. Deve ser iniciado uma semana antes de se parar de fumar, marcando-se o oitavo dia como o dia de parar; e mantido por 2 a 3 meses (alguns casos até 6 meses). É contraindicado em pessoas que já tiveram convulsões. Só deve ser tomado pela manhã, pois à noite causa insônia. Pode reduzir pela metade a tendência a ganho de peso que ocorre após se parar de fumar, especialmente quando é mantido mais tempo. Pode ser usada em associação com a reposição de nicotina, goma de mascar ou adesivos. Pode haver um discreto aumento da pressão arterial, que deve ser acompanhada.

Champix também não tem nicotina, e age no cérebro, nos receptores para nicotina existentes nos neurônios. Igualmente à bupropiona, deve ser iniciado uma semana antes do dia “D” de parar de fumar, que é o oitavo dia. O tratamento em geral dura três meses, podendo ser prolongado por outros três.

É contraindicado em pessoas com depressão grave ou distúrbios psiquiátricos.

Se estes ocorrerem durante o tratamento, este deve ser suspenso imediatamente.

“Fico perturbado
quando vejo um cigarro
entre os lábios ou
os dedos de alguma
pessoa importante,
de cuja inteligência e julgamento depende em parte o bem estar
do mundo.”

Linus Pauling,
duas vezes Prêmio Nobel

Sobre os “cigarros eletrônicos”, cigarros aquecidos, pen drives e quetais

“Tratamento do tabagismo”

Propagandeados na internet como “tratamento do tabagismo” pois fariam a reposição gradual e regressiva da nicotina. Não foram aprovados pela Anvisa no Brasil, e não há estudos controlados que comprovem a sua utilidade em ajudar a parar de fumar ou em substituir o cigarro. Aparecem apenas como modismo, e não são isentos de risco.

  • No período em que estiver parando de fumar, evite ter consigo um maço de cigarros, seja no bolso, maleta, em casa, etc., para diminuir o risco de recaída. Tente ficar longe de fumantes. Livre-se de todos os objetos que se relacionam com o tabagismo: fósforos, cinzeiros, isqueiros, cachimbos, etc.

  • Evite situações que você habitualmente associa com uma maior vontade de fumar (“as situações-gatilho”), e elimine ao máximo o cheiro de cigarro do carro e das roupas.

  • Dê a você mesmo um presente quando parar de fumar.

  • Diga a todos que você agora é um “não fumante”.

  • Se você “escapulir” e fumar um cigarro, considere como apenas isso mesmo: uma “escapulida”, e não um motivo para recomeçar a fumar.

  • A maioria dos que pararam de fumar teve que tentar mais de uma vez. Se não der da primeira vez, não desanime. Tente de novo. Alguns param “de primeira”, mas a maioria só na quinta ou sexta vez. Aprenda com os erros cometidos em tentativas anteriores.

  • Tenha uma razão (na qual você acredite) para parar, seja sua família ou você. Sem uma boa razão, fica mais difícil.

  • Pense um dia de cada vez; ou seja, preocupe-se a cada dia em ficar sem cigarro aquele dia, e não o resto da vida. Enquanto isto, a nicotina será eliminada completamente em 3 a 5 dias, e o pior dos sintomas da retirada terá passado em um mês.

  • A fase de “manutenção” (mais ou menos seis meses após parar de fumar) pode não ser um período apenas passivo, de espera. Costuma ser necessário uma vigilância, para adaptação à nova situação, que inclui estar atento a hábitos e situações que podem levar a uma recaída.

  • Tente retardar ao máximo o primeiro cigarro do dia, até retirá-lo completamente.

  • Beba bastante água, que ajuda a “limpar” a nicotina do organismo.

Nos países do primeiro mundo, o cigarro está sendo progressivamente abandonado, restando apenas dois grandes grupos de usuários:

  1. Pessoas de nível socioeconomico e cultural inferior, por falta de informação e de opções de lazer.

  2. As mulheres fumantes, que tiveram no cigarro uma “conquista”, como parte dos movimentos de emancipação feminina. Só que foi uma conquista mais tardia, em relação aos homens. Consequentemente, estão também largando o cigarro mais tardiamente. O aumento relativo do risco de vir a ter um infarto é maior na mulher fumante (aumento de seis vezes no risco) do que no homem fumante (aumento no risco de três vezes).

Quantidade versus qualidade de vida

Os geriatras dizem que tão importante quanto acrescentar mais anos à vida é acrescentar mais vida aos anos. Isto significa melhorar a qualidade de vida das pessoas.

Dizem que um velhinho que fumou desde a adolescência foi convidado a fazer propaganda a favor do cigarro. Na hora de fazer as fotos, ele disse que só poderia ir no período da tarde.

– “Mas o que o senhor faz a manhã inteira?”

– “Eu tusso.”

Esta pequena história nos mostra que aqueles que não têm sua vida encurtada pelo cigarro, têm sua qualidade de vida comprometida.

Algumas pessoas ganham peso num período variável após pararem de fumar. Isto pode acontecer por vários mecanismos: alterações metabólicas, melhora do apetite (a nicotina tem certo efeito supressor sobre o apetite, e diminui o paladar e o olfato) e necessidade de se levar algo à boca. Homens podem engordar em média

4 kg e mulheres 5 kg. Uma eventual propensão inicial a se ganhar peso deve ser combatida da melhor forma possível, sabendo-se que é transitória.

As pessoas reagem de forma diferente às várias substâncias do cigarro.

Portanto, o primeiro órgão a ser lesado varia de uma pessoa para outra.

Eis vários dos malefícios do cigarro, alguns sabidos de longa data, outros recentemente demonstrados:

  •  É um dos três principais fatores de risco para as doenças cardio-vasculares, (como angina, infarto, isquemia cerebral transitória e trombose cerebral) ao lado da hipertensão arterial e do colesterol alto. No caso do infarto, o risco é 3 a 4 vezes maior.

  • Aumento do risco de câncer na boca, pulmões, bexiga e outros.

  • Indução de bronquite tabágica e enfisema.

  • Aumento da chance de se formarem coágulos na circulação.

  • Alteração no perfil lipídico, com elevação do colesterol total e redução do HDL-colesterol, que melhora ao se deixar de fumar, principalmente se minimiza o ganho de peso que ocorre após o abandono do vício.

  • Redução da eficiência do sistema imunológico.

  • Elevação da pressão arterial (de 10 a 20 mmHg) e da frequência cardíaca e constrição dos vasos, inclusive coronários, além de dificultar o efeito dos remédios para o coração e a pressão alta. Risco de indução de arritmias cardíacas. Estes efeitos começam em 3 a 5 minutos após se acender o cigarro, e persistem por 40 a 50 minutos.

  • Malefícios também aos não fumantes próximos (inclusive intraútero). “Fumar faz mal até para quem não fuma”. Pessoas que convivem com fumantes (“fumantes passivos”) têm comprovadamente risco aumentado de câncer de pulmão e de doenças cardíacas, e sofrem irritação nos olhos, tosse, bronquite, enjoos e dor de cabeça. A fumaça “secundária”, que é inalada pelo fumante passivo, pode ser até mais nociva que o “fluxo primário”, aspirado pelo fumante ativo. Este último obviamente “fumará” os dois tipos de fumaça. Evite ficar próximo a fumantes em ambientes pouco ventilados. Calcula-se que um não-fumante que conviva o dia inteiro com um fumante de um maço por dia estará “fumando” três cigarros por dia.

  • Acometimento de todo o aparelho respiratório, em toda a sua integridade, desde o nariz até os pulmões, provocando falta de ar e intolerância ao exercício por mecanismos diversos. As gripes e resfriados nos fumantes são mais prolongados e “sofridos”.

  • Aumento da osteoporose, principalmente nas mulheres pós-menopausa (por deficiência de oxigenação do tecido ósseo e por redução dos estrógenos).

  • Piora do hálito, do paladar e do olfato, do aspecto dos dentes (aumenta a incidência de cáries dentárias) e até dos dedos. Aumento de azia e da incidência de úlceras pépticas (no esôfago, estômago, duodeno).

  • Redução da quantidade de colágeno da pele, levando a um aspecto de envelhecimento precoce.

  • Aumento das despesas com a compra dos cigarros. Riscos de incêndio, gastos com médicos, remédios, hospitais. Redução de dias ou anos de trabalho. Economicamente falando, fumar é um mau negócio.

  • Pelo menos metade dos fumantes regulares morrerá de causas relacionadas ao tabagismo. O cigarro estaria envolvido, só ou associado a outros fatores, em um quarto das mortes por infarto e um terço das mortes por câncer.

  • Mesmo que nada disso seja levado em conta, a melhora do desempenho ao exercício e esportes, da aceitação social, e a sensação de bem estar ao parar de fumar já justificam o esforço.

Já se fala em prevenção primária do tabagismo. Isto é, trabalhar junto aos adolescentes, para que não comecem a fumar (a maioria dos fumantes começou antes dos 19 anos). Primeiro por curiosidade, ou para expressar independência ou identificação com um grupo. Também para superar a timidez, ou por imitação dos pais que fumam. Adolescer significa ruptura, questionamento, autoafirmação e busca de emoções. A ênfase então deve ser a de buscar realizar estas experiências de modo saudável, como por exemplo esportes competitivos, lutas, artes, música, atividades em contato com a natureza, e outras.

A decisão do Congresso Nacional de proibir a propaganda do cigarro pode ser um avanço importante, para impedir que surjam novos fumantes. Mas os que já estão presos ao vício não dependem de propaganda para lembrá-los de fumar.

A dependência da nicotina o fará.

Para não dizer que fumar só traz desvantagens, eis aí uma vantagem:

“Dizem que em casa de fumante não entra ladrão, pois o dono tosse a noite inteira, e dá a impressão de estar acordado…”

Sempre que for perguntado, tenha o prazer de responder:

– “Fumante ou não fumante, senhor? (ou senhora?)”.

– “NÃO FUMANTE!”.