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Vários termos usados hoje em dia, tanto na linguagem coloquial quanto na linguagem estritamente médica, possuem raízes que nem imaginávamos.

Assim, o termo “influenza”, por exemplo, tem origem italiana.

Antes da descoberta dos micróbios, e porque a gripe ocorria mais no inverno, achava-se que esta era devida à “influência do frio”, ou “influenza di fredo”, que os americanos, mais práticos, simplificaram para “flu”.

A palavra malária também tem origem italiana pois se acreditava que sua causa eram os maus ares, ou “mala aria” dos pântanos, que obviamente tinham, além do tal cheiro ruim, os mosquitos, estes sim os reais vilões e vetores da doença.

A origem dos termos que designam nossos estados de ânimo é particularmente curiosa.

Há alguns milhares de anos, a medicina grega imaginava que, para haver boa saúde, deveria haver o perfeito equilíbrio de quatro fluidos, ou humores (do latim humore: líquido) que (pelo menos eles achavam) o corpo humano produziria: o sangue, a fleuma, a bile amarela e a bile negra.

É a chamada doutrina humoral, preconizada deste os tempos de Hipócrates.

Acreditava-se também que havia a correspondência destes quatro humores com os quatro elementos básicos que constituiriam toda a vida no planeta: a água, a terra, o fogo e o ar.

Assim, o sangue corresponderia ao ar. A fleuma, ou o muco, ou mucosidade, à água. Já a bile amarela teria correspondência com o fogo, e a bile negra (não se sabe ao certo qual secreção seria esta) estaria relacionada à terra.

Uma mistura adequada e perfeitamente equilibrada destes fluidos era a responsável pela saúde do corpo e da mente; o desequilíbrio levava à doença.

Cláudio Galeno, médico grego que clinicava em Roma, (era chique entre os romanos abastados se consultarem com um médico grego) transmitiu estes e outros conceitos que, com seus erros e acertos, influenciaram por séculos as noções que se tinha sobre a saúde e os estados de ânimo.

Alguns tipos de pessoas foram rotulados a partir daí, segundo certas características que apresentassem.

O indivíduo agitado, destes que não param quietos, teria maior produção de sangue, e era chamado de “sanguíneo”.

No outro extremo, o sujeito muito calmo, destes devagar-quase-parando, estava produzindo muita fleuma: o “fleumático”.

O muito nervoso, por sua vez, o estopim curto, era um grande produtor de bile amarela. Como cholé em grego é bile (substância que ainda hoje se diz popularmente que é produzida em excesso nos ataques de raiva), este era o sujeito “colérico”.

E finalmente o deprimido, sempre de farol baixo, era pródigo em fabricar a tal bile negra. Como negro em grego é melano, e cholé como já foi dito é bile, então juntando-se as duas palavras encontramos o rótulo para tais indivíduos: os “melancólicos”.

Os biliosos, que produziam muita bile, seja de que cor fosse, estavam mergulhados em fluidos, ou humores maus. Ou seja, estavam de mau humor.

Conclui-se então que a pessoa de bom humor não tinha excesso destes fluidos prejudiciais; e que o humorista deveria ser o sujeito que, ao nos deixar “bem humorados”, estaria restabelecendo o equilíbrio de nossos fluidos internos.

Voltando à Medicina moderna, cada vez mais se reconhece que estes “transtornos de humor” estão hoje na ordem do dia, e implicam no diagnóstico de um conjunto de patologias que incluem a agressividade e a depressão, reconhecidas como causa de doenças, em especial as do coração, como infartos e morte súbita.

Os “estados de humor” não afetam apenas o coração-símbolo, sede dos

sentimentos e das emoções, mas também o coração físico, e em última análise,

o corpo (e a alma).

” O verdadeiro humor não nasce na mente, mas no coração”

Thomas Carlyle

(Obs.: Extraído do artigo “A Bile e a Cólera” publicado pelo autor no jornal Estado de Minas, em 15 de maio de 2000.)

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