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Após uma infecção por Covid 19,  pode haver  aparecimento de sintomas como um cansaço generalizado, palpitações, taquicardia, dor no peito,  pressão alta que não existia antes ou piora de uma hipertensão que vinha sendo bem controlada com remédios, dispneia (falta de ar ou desconforto para respirar)  e dificuldade ao realizar um esforço que antes era fácil de fazer. Exemplo: subir a mesma escada em casa.

Esses sintomas podem surgir precocemente (ex: 2 semanas) a até meses após a infecção e nem sempre tem relação com a severidade do quadro inicial da Covid 19, podendo surgir mesmo após quadros leves a moderados. Caso aconteçam, é importante uma avaliação com um cardiologista. Na maioria das vezes, o curso dos sintomas é autolimitado e desaparece  após algum tempo  sem necessidade de tratamento específico, mas exige que a pessoa fique um pouco mais restrita em atividades que exijam esforço, nesse período de “convalescença” . Mas um ou outro caso pode exigir tratamento, pois pode ser necessária medicação para taquicardia e outras arritmias e até mesmo insuficiência cardíaca, e também o reajuste ou o início de remédios para pressão alta.

Sempre que ocorrem sintomas possivelmente cardiológicos pós Covid 19, há necessidade de uma avaliação mínima com um cardiologista, que incluirá além do exame clínico, um eletrocardiograma, um ecocardiograma e exames laboratoriais de marcadores de necrose do músculo cardíaco. Se algum estiver alterado, prossegue-se com a investigação, que pode incluir ressonância magnética cardíaca, Holter de 24 horas  e outros. Aí  obviamente tratamentos específicos estarão indicados caso a caso.

Mas pode acontecer que, apesar desses sintomas, nenhuma alteração cardíaca seja encontrada nos exames. Então foram propostas 2 categorias:

1. Pós Covid com doença cardiovascular, que como já exposto necessitará do tratamento direcionado para o que for encontrado: infarto, miocardite, insuficiência cardíaca, arritmias e bloqueios ao eletrocardiograma. Descobriu-se que o virus infecta diretamente as artérias do coração, as coronárias. Ele invade as placas de gordura das artérias, se aloja e se multiplica nas células gordurosas que compõe a placa. Aí provoca inflamação e a placa se rompe, levando aos eventos cardiovasculares já citados, como infartos e quetais.

2. Pós Covid com sintomas que sugerem ser de origem cardíaca (cansaço geral, falta de ar, intolerância aos esforço, palpitações) mas sem doença cardiovascular comprovada pelos exames complementares . Foi então  proposto para esses casos o nome de Síndrome pós Covid, ou Covid Longa. Pode ser necessário um período inicial de repouso total após a infecção, em geral de duas semanas, seguido de um reinício das atividades habituais bem lento e progressivo, para tentar retornar ao que se fazia antes, em termos de cuidados pessoais e trabalho. Mas muitos casos não conseguem se restabelecer completamente, e isso ainda é um desafio no tratamento da Covid longa. O que parece claro até agora é que não se deve forçar atividades físicas nessa fase, pois a sensação é de piora. Portanto, evitar exercícios físicos e mesmo qualquer esforço desnecessário, até que se sinta disposto, e quando reiniciar, fazê-lo espaçadamente e de forma gradual .

Não se sabe porque uma infecção viral aguda provocaria sintomas de fadiga crônica, mas especula-se que as citocinas produzidas na inflamação inicial possam de alguma forma afetar a longo prazo o funcionamento das mitocôndrias, que são as “usinas” de energia das células. Outras possibilidades seriam inflamação crônica ou um processo auto-imune. As mulheres costumam ser mais afetadas por esse quadro de fadiga prolongada.

Alguns podem ter hipotensão ortostática, que é a queda da pressão ao ficar de pé, devendo se manter bem hidratados e podendo ser necessária medicação apropriada. A tendência é melhorar com o tempo, mas às vezes é preciso um acompanhamento prolongado. Outra situação que tem sido observada na pós Covid longa é a síndrome POTS (sigla em inglês para síndrome da taquicardia ortostática postural) em que ocorre a elevação dos batimentos cardíacos ao ficar de pé SEM queda de pressão, mas também trazendo muito desconforto como palpitações, mal estar e fraqueza. Em todas essas situações citadas é útil fisioterapia específica que pode ser necessária durante meses.

Uma observação pessoal que pude fazer como cardiologista, é que , por ter atendido todos os dias úteis desde o inicio da pandemia, pude observar uma mudança na gravidade desses sintomas. No início, nos primeiros meses, me eram encaminhados quadros muito graves, com grande limitação e complicações severas, como disfunção cardíaca grave, bloqueios ao eletrocardiograma e evidências de necrose miocárdica. 

Atualmente, os casos que me aparecem são muito mais numerosos, mas a maioria bem mais leves. Pode ser das características de  variantes menos agressivas do vírus que apesar de mais fácil de serem transmitidas, provocariam uma doença mais leve. Ou ( a meu ver o mais provável) consequência dos efeitos da vacinação, que faria com que o quadro da infecção e depois os sintomas cardiológicos fossem atenuados. Talvez ambas as explicações. Mas com certeza todos os casos leves que atendi tinham tomado duas ou três doses da vacina. O que reforça a ideia de que a imunização, se não impede a doença, faz com que ela se manifeste de forma mais branda na população geral.

Portanto, é importante você se manter plenamente vacinado. E casos tenha os sintomas relatados, procure um cardiologista.

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