Stress

Fatores de Risco

7° Fator de Risco: Stress

Vamos imaginar uma cena passada há 5 000 anos atrás.

Um camponês passeia tranqüilamente por uma campina verdejante, ao som dos pássaros e do vento. Que maravilha! De repente, ele ouve um ruído vindo de trás, se vira para ver o que é, e gela de pavor: um touro feroz está investindo contra ele a toda velocidade! Vamos agora apertar o botão do pause, congelar a imagem e tentar entender o que se passa no organismo de nosso assustado homem, nos segundos seguintes. O seu corpo desencadeará uma série de adaptações imediatas, para torná-lo apto a uma de duas coisas: ou lutar com o touro, ou fugir dele.

Estas adaptações fazem parte da chamada reação de alarme: são liberadas rapidamente grandes quantidades de substâncias do grupo da adrenalina e dos corticóides, que promoverão por sua vez respostas que desviarão o sangue de onde não está sendo necessário naquele momento, para outras regiões do corpo que precisam funcionar melhor.

Assim, a pele, estômago e intestinos receberão menos sangue (daí o cidadão fica pálido e sente um “frio” ou aperto na barriga), sangue este que será desviado para os músculos, que ficam contraídos e prontos para lutar ou fugir. Outras reações, típicas do susto, são um suor excessivo, aumento da pressão arterial e dos batimentos cardíacos (o coração terá muito trabalho pela frente) e da respiração, que se torna mais rápida e profunda (idem).

Toda esta energia, “acumulada” de repente, é “descarregada” no ato de lutar ou fugir.

Agora vamos imaginar um tataraneto do nosso personagem, nos dias atuais, atravessando distraidamente uma avenida movimentada, na hora do rush. Ele não vê que um ônibus se aproxima por trás. De repente, aquela freada e uma buzina… Lá está o seu organismo, reagindo de maneira igualzinha à de seu tataravô! E lá está o nosso artista, correndo para não ser atropelado.

Daí, podemos tirar algumas conclusões:

  1. Que a reação de alarme ocorre hoje da mesma forma primitiva que ocorria há milhares de anos atrás.

  2. Que esta reação é até certo ponto (e num curto espaço de tempo) necessária, para nos manter alertas e fora de perigo. Afinal, atravessar a pé uma avenida movimentada num estado de completo relaxamento é arriscadíssimo. Por isto, ficamos “acesos” e alertas ao movimento dos carros, só relaxando ao pôr o pé no passeio do outro lado.

  3. Passado o “sufoco”, o organismo se restabelece. Tudo isto é normal, dentro de certos limites, para a pessoa se adaptar à nova situação. É o chamado stress adaptado.

Até aí, tudo bem. Agora, vamos imaginar uma pessoa que passa o dia inteiro num estado de tensão e alerta, como se estivesse constantemente enfrentando um touro bravo, ou atravessando uma avenida movimentada, com seu corpo reagindo o tempo todo com a tal da reação de alarme. Se o estímulo é intenso ou prolongado em demasia, não há tempo para o restabelecimento. Esta pessoa, mais dia menos dia, entrará na fase de esgotamento do stress, também chamada de stress desadaptado. Mais recentemente passou-se a usar o termo burnout para esse tipo de situação.

É como pisar fundo no acelerador: às vezes pode ser necessário para se fazer uma ultrapassagem. Mas se pisarmos fundo o tempo todo, certamente o motor do carro irá ter danos, às vezes irreparáveis.

Na fase de esgotamento do stress, o indivíduo pode adoecer de verdade. Algumas coisas que podem acontecer:

  1. A pressão ficar permanentemente alta.

  2. O coração pode desenvolver arritmias e problemas das coronárias.

  3. O nível de colesterol pode elevar-se.

  4. Ocorrem dores crônicas nos músculos, devido aos mesmos estarem constantemente contraídos: dores de cabeça, nuca, coluna, dores por todo o corpo.

  5. Gastrite, colite.

  6. Problemas de pele: alergias, herpes, psoríase.

  7. Dores no tórax, pela respiração tensa e irregular.

  8. Maior propensão a gripes e resfriados, devido a queda na defesa por baixa do funcionamento do sistema imunológico.

  9. Perda ou ganho importante de peso; o excesso de hormônios já citado pode provocar a “obesidade provocada por stress”, basicamente uma obesidade do tipo abdominal, muitas vezes associada com hipertensão e diabete.

  10. Falta de raciocínio e concentração; baixa produtividade no trabalho ou estudo; pânico, fobias; “esgotamento nervoso”.

  11. Depressão, insônia, irritabilidade, emotividade, intolerância a ruídos, lapsos de memória, dificuldade em tomar decisões aparentemente banais.

  12. Uma sensação indefinida de “estar doente”.

Estas e outras doenças e sintomas tendem a aparecer em situações e épocas da vida em que ocorrem exigências excessivas sobre o indivíduo. São um sinal de alarme, de que se deve diminuir o grau de exigência, pressão ou cobrança.

O stress seria então uma reação do organismo à necessidade de adaptação física ou psíquica a uma situação intensa, ameaça ou desafio. Exemplos: doenças, desgraças de qualquer natureza, morte de familiares, dívidas, assaltos, impostos, separação conjugal, acidentes de trânsito, mudanças de trabalho, residência ou país, ganhar na loteria, frustração, solidão, desemprego, conflitos familiares, etc. São os chamados fatores ambientais que levam ao stress. Características pessoais também podem influir, como o medo de errar e o perfeccionismo exagerado.

Cada pessoa tem um ponto fraco, um órgão de choque, que vai sentir primeiro e mais intensamente o impacto do stress.

 

                          “Meu coração se contrai, acostumado a sofrer.

                            Vida triste essa minha, eu passo a noite inteirinha

                             Suspirando sem querer”.

Da música rancheira “Boca da Noite”

dos filósofos caipiras Zé Mulato e Cassiano

 

“Já viram os gatos? Há momentos em que simplesmente param, deitam-se, e mesmo sem dormir, ou dormindo, ficam quietinhos consigo mesmos, até se sentirem de novo com vigor. Nós, humanos, perdemos essa capacidade”

Artur da Távola, em Saudades da Boa Preguiça
(adaptação)

Comentários:

“O descanso foi eliminado. Perdemos o sentido de repouso, a regra agora é a fadiga…

  • O termo stress é então empregado para expressar estas situações de cobrança intensa ou prolongada, com efeitos negativos sobre o organismo. Significa que alguma coisa não vai bem.

  • A sensibilidade ao stress é muito variável, em tipo e quantidade, de uma pessoa para outra. O que pode ser estressante para uns (ex.: ouvir uma banda de rock), pode não o ser para outros, ou mesmo ser prazeroso e relaxante.

  • Algum grau de cobrança é necessário, para que possamos atingir nossos objetivos na vida (“a necessidade faz o sapo pular”).

Então, em muitas situações, não há necessidade de se combater o stress (que nem sempre é algo necessariamente negativo), mas sim de administrá-lo.

  • Defende-se a existência tanto do stress por cobrança, quanto do stress por monotonia (do aposentado, por exemplo).

  • Se uma pessoa em determinada situação (ex.: guiar um carro), enfrenta com certa frequência situações críticas como acidentes, “fechadas”, brigas de trânsito, etc., pode ficar tão condicionada, que passa a ficar na expectativa de possíveis problemas toda vez que vai dirigir (“ansiedade antecipatória”). Este “condicionamento negativo” funciona como uma fonte de stress crônico, podendo gerar as doenças dele decorrentes.

  • Algumas pessoas têm um tipo de stress auto-imposto cronicamente. São de um tipo de personalidade chamado “tipo A”, descrito pelos cientistas americanos Friedmann e Rosenman. Estariam envolvidas “num estado de alerta contínuo, de competição exagerada, numa luta crônica e incessante para fazer cada vez mais em menos tempo, e se preciso, fazê-lo contra a oposição de pessoas ou coisas”. Não conseguem se relaxar, sentem-se mal nas férias e fins de semana. Estão sempre correndo atrás de um prejuízo, às vezes inexistente, ou criando novas necessidades.

Vivem como num filme de Indiana Jones: “ação constante, do começo ao fim”. Não haveria aí uma cobrança externa, mas sim auto-infligida, uma necessidade de vencer a qualquer preço. Alguns dos subcomponentes do tipo A seriam a hostilidade e a raiva, especialmente a raiva reprimida, não manifesta. Acompanhamento psicológico e até Yoga e Tai Chi Chuan têm sido preconizados para tratar estes competidores incansáveis, baseados no fato de que este “padrão de personalidade” na realidade é um padrão de comportamento que pode ser modificado.

…Mesmo a atividade destinada ao oposto do trabalho, já não se chama repouso nem descanso.

Agora é lazer, palavra que possui um sentido de distração, um novo fazer:
é trabalho com outro nome…”

Artur da Távola, em “Saudades da
Boa Preguiça” (adaptação)

  • A sociedade moderna é caracteristicamente produtiva. As pessoas sentem-se inquietas e pouco à vontade, se não estão o tempo todo envolvidas em produzir alguma coisa. Mesmo as férias se tornam uma “roda viva de produtividade”, pois um excesso de atividades é concentrado num curto período. Resultado: retorna-se exausto das férias!

  • A TV, cinema e revistas apresentam seus ídolos em situações de perfeição , insinuando que devem ser seguidos e imitados a todo custo. A comparação com os resultados obtidos por outros conduz a exigências e auto-cobranças inadequadas, pois cada um tem seus próprios limites. Objetivos a serem alcançados a qualquer preço levam as pessoas a perderem de vista estes limites individuais. Evite comparar-se com outras pessoas; compare-se com você mesmo, antes e depois de tomar medidas positivas, e analise o seu progresso.

  • O “enxugamento” dos quadros administrativos das empresas pode provocar stress nos que são demitidos, pois perdem o emprego, mas também nos que não o são, pois estes muitas vezes passam a trabalhar em excesso, para compensar a saída do colega, e também por receio de serem os próximos a ser demitidos. Estas situações, inevitáveis, decorrem das rapidíssimas mudanças nos mercados e nas relações de trabalho, devidas à globalização da economia, que cria tanto oportunidades de ganho quanto ocasiões de perda, ambas geradoras de tensões e expectativas.

  • Estudos indicaram que comunidades com uma estrutura familiar ampla e tradicional (como em Rosetto, pequena cidade americana do estado da Pennsylvania, de imigrantes italianos) com grande apoio aos seus membros e um profundo senso de fé, apresentaram menor risco cardiovascular que as outras cidades vizinhas, que tinham fatores de risco semelhantes. Neste tipo de comunidade, mesmo os primos mais afastados são considerados membros da família e são amparados e acolhidos em situações de infortúnio, como desemprego, viuvez, separação conjugal, etc. O apoio do grupo contribui para reduzir a insegurança e dar suporte em situações críticas. Isto contrasta com o padrão familiar dito “moderno”, que é muito mais restrito quanto ao número de seus membros e que procura evitar e desconhecer os parentes incômodos, pobres ou com problemas de qualquer natureza.

    •  “Ira furor brevis est”. Lembrando da citação de Horácio, uma locução latina que significa “a ira é uma loucura de curta duração”. Como todas as paixões violentas, a cólera perturba momentaneamente a razão e a lucidez. Bom, às vezes não tão breve assim. O fato de ficar “remoendo” uma raiva a longo prazo pode ser  um veneno para o organismo.                                                                                                           
    •           “Porque quando se curte raiva de alguém,
    •             é a mesma coisa que se autorizar que essa própria pessoa
    •             passe durante o tempo
    •             governando a ideia e o sentir da gente”. 
    •                                                                         Guimarães Rosa, em Grande Sertão, Veredas

O estudo da espiritualidade e religiosidade já tem um capítulo reservado na cardiologia, tanto assim que a Sociedade Brasileira de Cardiologia já tem o DEMCA (Departamento de Espiritualidade e Medicina Cardiovascular), que estuda estas questões. Aqui alguns fatores que influenciam favoravelmente a saúde são óbvios, outros nem tanto. Alguns óbvios: pessoas que participam de atividades religiosas tendem a consumir menos álcool e cigarro, tem uma vida sexual mais estável, e tem maior apoio emocional do grupo. Outros menos óbvios mas também importantes: esperança, perdão, gratidão, meditação, resiliência. Tudo isso devidamente comprovado por estudos científicos da melhor qualidade de evidências!

  • Pesquisadores têm identificado o “stress tecnológico”, devido à dependência excessiva de tecnologia: querer fazer as coisas na velocidade dos computadores, e fazer, como estes, múltiplas funções ao mesmo tempo. Explodir de irritação quando uma máquina não funciona bem. O “tecnostress” significaria também estar plugado o tempo todo, e com isto, ter que interagir o tempo todo com o sistema, e transformar-se numa terminal de um sistema.

  • Além de causar certas doenças, o stress pode dificultar o seu tratamento. Assim, hipertensos por exemplo, podem ter a PA ainda mais elevada, exigindo doses maiores de medicamentos. O estressado costuma comer em excesso e fumar. Cardíacos podem ter infartos, etc. Estudos feitos com indivíduos que tiveram infarto mostraram que medidas simples, como dar ao paciente a oportunidade de falar sobre sua doença, e de seus temores com relação a ela, regularmente e de maneira franca, diminuíram a mortalidade causada por novos eventos cardíacos, e mesmo a incidência de novos eventos. Ressalte-se que nestes estudos, os pacientes tinham a chance de conversar não em longas sessões de psicoterapia ou psicanálise, mas em visitas regulares ao médico clínico, ou a enfermeiras treinadas. Ouvir e ser ouvido com interesse faz parte do processo de cura.

  • A capacidade de verbalizar os sentimentos, “um bom papo”, faz parte de medidas simples mas eficazes, no combate à angústia e ao stress, como veremos a seguir.

Para reduzir o nível de stress:

  1. Saiba reconhecer os seus limites. Não exija demais de você, e tente aprender com os seus erros. Compartilhe suas dificuldades com outras pessoas, seja um amigo, parente, médico, etc. Além de ouvi-lo “desabafar”, elas podem ajudá-lo a enxergar seus problemas sob um ponto de vista diferente.

  2. Saiba se cuidar. Isto inclui alimentação e repouso adequados. Dormir pouco e alimentar-se mal reduzem a capacidade do organismo de lidar com o stress.

  3. Se não reservarmos algum tempo para nos sentirmos bem, depois sem dúvida teremos que despender tempo… passando mal.
  4. Quando estiver sozinho, tentando sentir pena de si mesmo, saiba que é bom ajudar os outros, de vez em quando. Ajudar alguém mais frágil, em pior situação, é uma arma potente contra o stress e a depressão. Tente participar de atividades voluntárias, em que possa auxiliar outras pessoas.

  5. Faça uma lista (nem que seja mentalmente) de prioridades, ao invés de tentar fazer muitas coisas ao mesmo tempo. É bom ter objetivos, mas não se deixe sufocar por eles.

  6. Certos problemas são grandes demais para serem resolvidos de imediato. Nem sempre dá para enfrentar o touro. Neste caso, ao invés de se desesperar, tente “conviver” com eles, ou aprenda a aceitá-los, até que tenha forças suficientes e tenha chegado o real momento de tentar solucioná-los. Existe uma oração que diz: “…coragem para mudar o que pode ser mudado, paciência para aceitar o que não pode ser mudado, e sabedoria para diferenciar uma coisa da outra”.

  7. Resista a achar que você está sempre certo. Saiba reconhecer quando erra, e ceda de vez em quando. Não se cobre em demasia. Vencer é bom, mas livre-se da ideia de “vencer a qualquer custo”. Você não precisa ter uma resposta, ou solução imediata, para tudo, sempre. Às vezes, é preciso dizer “não sei”.

  8. Em situações críticas, dê-se o direito de chorar, se for o caso. Isto alivia a carga emocional.

  9. Tente criar um ambiente calmo em torno de si. Pode incluir boa leitura, boa música, ou simplesmente imaginar uma cena agradável. Sonhar, de vez em quando, é essencial.

  10. Identifique as causas de tensão em casa, no trabalho, etc., procurando saber (e tentando se afastar) do que é mais desagradável. Em especial, o uso abusivo do telefone celular, que pode se tornar uma verdadeira “coleira eletrônica”, acabando com o que resta de sua privacidade.

  11. Planeje melhor sua vida. Tente evitar prazos curtos para terminar tarefas, e excesso de compromissos no mesmo dia. Programe suas atividades.

  12. Saiba dizer não, quando indicado. Isto o alivia de assumir compromissos desnecessários. Melhor é não inventar desculpas complicadas. Simplesmente diga que não quer, ou não pode ( no nosso país, é mania nacional o “talvez”, “me liga depois”, “vou ver”, gerando situações pendentes sem necessidade).

  13. Não faça tudo sozinho. Divida responsabilidades. Se excessivas, delegue.

  14. Tenha um tempo para as refeições, o lazer, o convívio com a família e amigos. Não corra; apenas saia mais cedo.

  15. Evite viver como se a vida fosse apenas sobreviver.

  16. Evite o cigarro, e não se exceda no álcool e bebidas com cafeína (café, chá preto, bebidas tipo cola, guaraná em pó e outros estimulantes). Bebidas alcoólicas tomadas para “ajudar a pegar no sono” podem realmente fazê-lo, mas podem eventualmente levar a insônia no meio da noite, ou ao despertar precoce pela manhã.

  17. Remédios para aliviar a tensão só devem ser usados a curto prazo, ou então de maneira intermitente ou eventual. O que pode começar como uso temporário, se não for controlado, corre o risco de se tornar uso constante, com dependência física e psíquica.

  18. Ressentimentos e mágoas podem ter um real motivo, ou então serem simplesmente criados ou aumentados pela imaginação. Se não resolvidos, ou pelo menos não verbalizados adequadamente, podem ser um veneno. Tente ver se as causas são reais ou imaginárias, e procure resolvê-las. Se isto estiver fora do seu alcance, tente pelo menos falar sobre o assunto com pessoas amigas, para aliviar a angústia, e tornar as coisas mais claras dentro de sua mente.

  19. Eventualmente, saia da monotonia. Exemplo: quando voltar para casa de carro, vindo do trabalho, varie de vez em quando o trajeto, para evitar passar sempre pelas mesmas ruas, mesmos sinais, e pelos mesmos quebra-molas e buracos.

  20. Tente de vez em quando “desligar-se” e somente “ser”, ao invés de fazer. Principalmente, seja você mesmo. Gasta-se uma energia enorme quando se tenta ser quem a gente não é.

“Repousar, eis uma das mais ricas experiências com que devemos resistir à agitação imposta pela vida que nos obriga a consumir sem parar … e sem pensar!”

Artur da Távola, em “Saudades da
Boa Preguiça” (adaptação)

“Quando você perder, não perca a lição”.

Dalai-Lama

“A aflição no coração do homem o deprime, uma boa palavra restitui-lhe a alegria”.

Provérbios 12:25

“Vida honesta e regrada. Tomar poucos remédios. E tentar, por todos os meios, não se alterar por nada.
A comida, moderada, exercícios e distração.

Não ter nunca apreensão. Sair ao campo um bom período, pouco barulho, muito convívio, e contínua ocupação”.

Recomendações da Escola de Salerno, Itália, século XI D.C.(Primeira escola médica da Europa).

Como relaxar?

“O melhor descanso é ficar à toa ou mudar de atividade?” Discute-se qual seria o mais indicado para relaxar: não fazer nada ou fazer algo prazeroso ou interessante? Tudo indica que precisamos de ambas as coisas, cada uma em seu momento. Ficar à toa é importante, como uma forma básica de descanso, para “recarregar as baterias”. Mas quando fazemos uma atividade interessante e diferente, isto também nos ajuda a descansar, ao nos desligarmos do dia-a-dia. Mas esta outra atividade pode ser uma armadilha, se mantivermos com relação a ela o mesmo rigor que temos em relação ao trabalho. Muitas das opções de lazer que a sociedade de consumo nos oferece, no fundo nos dão é uma “canseira”.

Se fizermos uma obra de arte (ex.: pintura ou escultura), visando apenas ao lazer, não importa se ela ficar pronta em um mês, um ano, ou simplesmente não ficar pronta nunca. O resultado principal que se espera não é a obra acabada, mas o relaxamento e o equilíbrio emocional.

Aqui um princípio básico é que o corpo e a mente são inseparáveis, se afetam mutuamente e trabalham em conjunto. Um estímulo desagradável para o corpo afeta de forma negativa a mente, e vice-versa. Um estímulo agradável e relaxante para o corpo ajuda a relaxar também a mente.

Algumas formas de relaxamento

  1. Quinze minutos de relaxamento físico, “soltando o corpo”, pela manhã e à noite, incluindo respirar lenta e profundamente, com relaxamento total dos músculos. Uma técnica sugerida é, de olhos fechados e deitado sem travesseiro, contrair e soltar sucessivos grupos musculares, “percorrendo” a musculatura do corpo, das pontas dos pés até os músculos do pescoço e testa. Já viu algum cachorro ou gato espreguiçar? É mais ou menos por aí.    A respiração lenta e profunda é importante, para se contrapor à “respiração ansiosa” que é rápida e superficial.

  2. Um bom banho morno, prolongado, de chuveiro ou banheira.

  3. Cursos interessantes.

  4. Jardinagem, lidar com plantas.

  5. Yoga; Meditação; Reflexão; Oração.

  6. Atividades artísticas, esportivas, leitura, música, dança.

  7. Um bom “bate-papo” com amigos.

  8. Outras formas que você mesmo irá descobrir, como pescar ou aprender um instrumento musical.

  9. Andar descalço.

  10. O exercício físico ajuda a relaxar. É uma forma de “gastar” a tensão retida. Mas cuidado para não incorrer em excessos, como o culto exagerado ao corpo, que acaba sendo mais uma fonte de preocupação. O exercício compulsivo pode acabar tendo um efeito inverso ao pretendido.

Quando estiver nestas atividades, lembrar que o principal é relaxar, e não produzir. Poupe-se de qualquer tentativa de cobrança quanto a tempo e resultado. Relaxar implica em desligar de preocupações com o tempo e a produtividade. Estas sugestões aqui enumeradas são válidas tanto para “donas de casa sempre ocupadas”, quanto para “executivos atarefados incansáveis”.  Não são apenas para os ricos e ociosos. Relaxar é uma atividade barata e indicada para o bem estar físico e mental de todas as pessoas. Traz maior equilíbrio para se enfrentar situações de stress. É mais do que se livrar das tensões do dia-a-dia. É uma sensação simples e agradável, que inclui paz de espírito. É uma necessidade, tanto quanto comer ou respirar.

“-Boa noite, boa noite! Ah! Que esta doce calma

que enche o meu coração, encha também tua alma”.

Julieta para Romeu. Ato II.  Cena II.  Verona . O Pomar dos Capuleto.

                                                    William Shakespeare.

Observação:

Para escrever o texto sobre stress, o autor se baseou em parte nos folhetos:

  • “Uma Conversa Franca Sobre Como Lidar Com o Stress”. Instituto Nacional de Saúde Mental dos EUA, tradução e adaptação para o português pela Sociedade Brasileira de Psiquiatria Clínica- 1992.

  • “Uma Conversa Franca Sobre a Arte de Relaxar”. Instituto Nacional de Saúde Mental dos EUA, tradução e adaptação para o português pela Sociedade Brasileira de Psiquiatria Clínica- 1992.

“Hê, de medo, coração bate solto no peito; mas de alegria ele bate inteiro e duro, que até dói…”.

Guimarães Rosa
em Grande Sertão, Veredas

O importante e bonito do mundo é isso: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas, mas que elas vão sempre mudando. Afinam e desafinam.”

Guimarães Rosa
em Grande Sertão, Veredas